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Saí da casa de minha mãe ainda rindo de nossa conversa. Ela sempre foi muito clara comigo em relação ao sexo e sempre falou abertamente comigo sobre tudo sempre usando termos como “nheco-nheco” para explicação. Quando o assunto era nheco-nheco minha mãe se tornava hilária. Ela dizia coisas absurdas e entrava em detalhes que eu não queria saber pela boca dela, mas quando ela começava a falar, nada a fazia parar.

Enquanto estava indo para casa recebi mais uma mensagem de Mateus perguntando se o jantar estava de pé. Fiquei pensando no que minha mãe havia dito e eu sabia que se aceitasse o convite eu estaria abrindo mais espaço para que eu e Mateus ficássemos mais próximos distanciando ainda mais Bianca dele. Mesmo sabendo o quanto aquilo era errado e o quão errado soasse em minha mente, eu simplesmente não conseguia mais sentir culpa. Eu gosto da companhia de Mateus, gosto de falar com ele, gosto do som da sua risada e da sua voz. E temia que mesmo estando à beira da morte, eu me apaixonasse por Mateus e me magoasse com tudo isso, coisa que no momento estava parecendo inevitável.

Decidi não responder de imediato a mensagem de Mateus por estar confusa sobre o que fazer. Eu queria ir e ao mesmo tempo não queria por saber que não era certo eu me permitir me aproximar ainda mais de Mateus, então ao chegar ao apartamento, fui para o banheiro tomar banho. Desde que havia recebido o diagnóstico de minha doença, eu me limitei a olhar nos espelhos que cercavam meu apartamento, mas hoje fui direto para a frente de um deles e me pus a olhar aquela moça que estava ali parada sem vontade de nada e completamente abalada. Olhando meu reflexo, notei que eu realmente havia emagrecido como todos faziam questão em dizer. Em meu rosto haviam olheiras fundas. Meus ossos estavam mais a mostra e isso me assustou profundamente. Minha pele havia mudado de cor e até o brilho de meus cabelos haviam desaparecido. Eu estava nitidamente doente e por mais que eu tentasse parar de olhar, eu não conseguia, pois o choque de realidade era tanto que eu não conseguia me mexer.

Ouvi meu celular tocar mais uma vez avisando que mais uma mensagem tinha chego e fui olhar já sabendo que era de Mateus. Em sua mensagem ele foi bem direto e especifico:

"Se não me responder, eu vou invadir sua casa".

Respondi com medo de que a loucura de Mateus realmente acontecesse, e um simples “O jantar está e pé!” como resposta foi motivo para que as borboletas que se alojaram em meu estômago começassem a voar e voar alto até demais. Eu sentia um tremor pelo corpo e como toda mulher mal preparada para relacionamentos, me peguei pensando em que roupa eu usaria em um jantar que eu nem fazia idéia de onde seria. Revirei meu guarda-roupas mil vezes tentando achar alguma peça que ficasse bonita em meu novo corpo magro, mas não achei nenhuma. Decidi tomar um banho e torci para quem sabe por um milagre de Deus alguma peça aparecesse feita sob medida em cima da minha cama assim que eu saísse do banho. Demorei no banho já pensando em desistir do jantar com Mateus devido a falta de roupa e vergonha de não saber o que vestir com um corpo magro como o meu. Assim que saí do chuveiro, peguei meu celular já arrumando uma desculpa mentalmente quando a campainha tocou. Me enrolei no roupão indo até a porta da sala e ao abri-la dei de cara com Mateus. Sem saber o que fazer, fechei a porta e abri logo em seguida percebendo minha falta de educação.

- Ai meu Deus, desculpa Mateus. – respondi corada.

- Tudo bem, você agiu por instinto.

Ele ria, parecia estar se divertindo com minha falta de jeito ao recebê-lo enrolada em um roupão.

- Entra.

Deixei a porta aberta e fui para meu quarto, Mateus me seguiu e quando me virei para olhá-lo, ele estava com uma das mãos estendidas segurando uma sacola.

- O que é isso? – perguntei sem jeito.

- É, digamos que seja um presente.

- Mateus, eu nem sei o que é mais eu não posso e não vou aceitar.

Com Amor, MarianaOnde histórias criam vida. Descubra agora