...13...

1.1K 135 16
                                    

O dia tão temido chegou. O dia da minha quimioterapia e com ela veio o medo. Eu sabia que eu precisava daquilo para poder me sentir melhor, mas ao mesmo tempo eu sabia que ficaria mal por muito tempo, então eu sentia um conflito de sentimentos. Todos tentavam me tranqüilizar e aquilo me deixava ainda mais abalada. Me forcei a parar de pensar nas conseqüências e decidi meter a cara antes de dar pra trás como uma covarde.

Cheguei ao hospital que Mateus me indicou e informei na recepção que eu iria fazer a minha primeira sessão. A recepcionista me deu uma ficha para preencher e após preenchida, ela pediu que eu aguardasse um pouco. Minha mão sorria o tempo todo e era dessa forma que ela reagia a algo que estava fora de seu alcance. Ela ficava ansiosa e para não ter algum tipo de crise de ansiedade ou um sincope nervosa, ela sorria o tempo todo como se suas bochechas estivesses coladas com “durex”.

Como era a minha primeira sessão, deixaram minha mãe me acompanhar em todo o procedimento, mas isso aconteceria somente na primeira vez, pois as outras pessoas poderiam ficar incomodadas com um estranho naquele momento tão delicado. Uma enfermeira toda de branco chamou meu nome e nos levou por um corredor bem comprido e frio. Passamos pela sala onde outras pessoas estavam fazendo suas sessões de quimioterapia e fomos encaminhadas para um quarto onde eu faria a sessão sozinha. Sandra, a enfermeira que ficaria responsável pelo procedimento, me encaminhou para a poltrona onde eu faria a sessão e me explicou como seria feito o procedimento. Na hora em que ela perguntou se eu tinha alguma duvida, eu fiz as perguntas de praxe:

Vai doer?”

“Eu vou desmaiar?”

“Eu vou passar mal?”

“O que irei sentir durante a aplicação:”

“Quais são os efeitos colaterais mesmo?”

Sandra respondeu a todas minhas perguntas com calma, mas como eu estava muito nervosa, esqueci de praticamente tudo o que ela disse.

Uma nutricionista veio falar comigo e me explicou como seria minha dieta dali por diante. Eu não poderia comer frutas cítricas e teria que tomar muita água. Me proibiu de comer frutos do mar, saladas que não forem feitas em casa, doces e amendoim. Na verdade eu não poderia comer praticamente nada do que estava acostumada e ela confessou que se eu conseguisse comer qualquer coisa já seria uma vitória.

Seu comentário me deixou ainda mais nervosa e me fez questionar se eu estava fazendo a coisa certa, mas antes que eu pudesse voltar atrás, Sandra voltou e colocou meu cateter venoso por onde passaria a medicação. Eu nunca tive medo de tirar sangue ou algo do gênero, mas aquela agulha era extremamente assustadora e confesso que doeu pacas, mas o nervosismo que eu sentia naquele momento me fez esquecer da dor rapidinho. Sandra pediu que eu olhasse para o outro lado para que eu não respirasse em cima do cateter que ela estava conectando a medicação.

Cateter colocado e finalmente a primeira sessão começaria. Meu estomago revirava de ansiedade e eu não fazia idéia do que esperar. Minha mãe mantia um sorriso no rosto como se aquilo fosse uma coisa natural do dia a dia como ir ao cinema.

Dois medicamentos foram injetados diretamente no acesso por uma seringa enorme. Boatos dizem que eles dois são os causadores da morte das células cancerígenas e também maior causados dos efeitos colaterais e da queda dos cabelos. E os outros medicamentos vem em bolsinhas como aquelas de soro. Como esses dois faziam doer muito a veia, eles eram administrados em até duas horas, mas dependendo da pessoa era administrado em até uma. Infelizmente não foi meu caso.

Por ser a primeira sessão, eu achei que ia morrer. Durante a aplicação me senti zonza, enjoada e em alguns momentos cochilei. E quando acordei senti um pouco de dificuldade para engolir, mas segundo Sandra era apenas um dos efeitos das medicações.

Eu não consegui comer direito por três dias e muito menos beber nada, então Mateus me levou para o pronto socorro para que eu tomasse soro na veia para me hidratar. Ele me deu uma baita bronca dizendo que eu tinha que me cuidar e a resposta que dei a ele me deixou arrependida por quatro dias seguidos. Eu sentia meu estomago embrulhado, fadiga, dor de cabeça, fraqueza e ressaca que parecia que nunca ia passar. Era como se eu tivesse pego uma virose com gripe e mais alguma doença junto de tão ruim que fiquei. Mateus dizia que passaria logo, mas duvidei de suas palavras. Que queria me levantar e fazer as coisas que eu fazia antes, mas meu corpo não tinha força o suficiente para fazer isso.

Eu estava a base de medicamentos para diminuir os efeitos e estava completamente arrependida de ter aceitado fazer quimioterapia, mas Mateus pediu que eu nunca mias repetisse aquilo em voz alta, e foi o que eu fiz.

Nos dias seguintes, eu me senti ainda muito fraca e sonolenta. A única coisa que eu fazia era dormir. Aos poucos meu apetite foi melhorando e eu conseguia comer alguma coisinha. Conforme os dias foram passando, eu me sentia um pouco melhor e minha mãe ficou aliviada por isso. Ela passava todos os dias em casa para me ver e me ajudar no que fosse necessário, e quando ela me colocava na cama para dormir como ela fazia quando eu tinha 5 anos de idade, eu a ouvia chorar na sala. Sentir seu sofrimento me fazia persistir no tratamento mesmo sabendo que ele não resolveria muita coisa. E quando eu finalmente me senti eu mesma novamente, decidi que eu enfrentaria essa quimioterapia com todas as minhas forças até elas não existirem mais. Eu ano faria por mim, e sim pelas pessoas ao meu redor que eram minha vida.

Eu ainda não morri pela doença e não morreria fazendo o tratamento. Eu decidi que viveria o máximo que eu pudesse e repeti para mim mesma:

“Eu sou forte e irei enfrentar isso”

“Vou viver o que tenho para viver e não vou mais perder um segundo sequer"

E foi exatamente isso o que fiz!

Com Amor, MarianaOnde histórias criam vida. Descubra agora