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(MATEUS)

Almoçar com Mariana me deu um ânimo a mais para voltar ao trabalho. Saber que uma moça tão linda e jovem estava passando por aquilo tudo e mesmo assim não se deixava desabar, me deixou completamente encantado com ela. Ela era decidida e não pensava no que ia dizer. Somente dizia o que vinha a cabeça e pra ela estava ótimo e pra mim também. Por eu ser médico, as pessoas sempre medem as palavras ao falar comigo, mas Mariana não. Ela não se importava se eu ia a julgar ou não. Entrei no consultório rindo e Bianca me esperava furiosa em minha sala.

-Onde você estava? - ela perguntou impaciente.

-Oi pra você também! - respondi ironicamente.

Ela levantou a sobrancelha esperando minha resposta.

-Eu fui almoçar. - respondi me jogando em minha cadeira.

-Com quem? - ela perguntava piscando os olhos rapidamente.

-Com uma paciente.

-Uma paciente?

-Exatamente isso!

Suspirei sem paciência para mais uma crise de ciúmes de Bianca. Ela tinha crises de ciúmes frequentes e eu não tinha mais paciência para tolerar coisas sem sentido.

-Por que você foi almoçar com uma paciente?

-Porque ela veio falar comigo e eu estava saindo para almoçar então eu a convidei para ir junto.

-Você a convidou??? - ela perguntou arregalando os olhos.

-Sim! Eu a convidei sim! Agora chega desse drama porque eu não fiz nada demais.

-Não é drama! Você não gostaria de saber que estou almoçando com algum desconhecido.

-Eu não me importaria porque confio em você! - falei quase gritando.

Bianca me olhou de olhos arregalados e suspirou em seguida.

-Me desculpe Mateus, mas não consigo entender o motivo de você almoçar com um paciente se você tem o seu consultório para falar com ela.

-Simplesmente pelo fato dela ter 25 anos e descobrir que tem menos de um ano de vida. Isso é o suficiente pra você?

-Então você foi consola-la? - ela debochou

Olhei para ela sem acreditar no que eu estava ouvindo. Respirei fundo diversas vezes para manter a calma.

-Diga logo o que você veio fazer aqui, porque não estou com paciência para os seus showzinhos. Esse é meu trabalho e você está me atrapalhando.

-Eu estava com saudade e resolvi passar aqui pra te dar um beijinho.

-Aqui é meu local de trabalho. Então se puder ir embora, eu tenho um paciente para atender agora.

-Por que você tem que ser tão grosso?

-Quando você parar com essas crises de ciúmes sem fundamento, eu irei te tratar sem ser "grosso"! - dei ênfase na palavra grosso.

Bianca bateu o pé no chão e saiu da minha sala bufando igual a um touro bravo. Eu não tinha mais paciência para seus dramas e shows. Ela estava nos afastando cada vez mais e eu não lutaria contra isso. Minha paciência com ela havia se esgotado fazia tempo. Ela estava me irritando com frequência e me provocava sempre que possível. Eu gostava dela, gostava mesmo, mas ultimamente a única coisa que queria dela era sua ausência. Eu lidava na maioria das vezes com pessoas que estavam morrendo. Pessoas que davam valor a coisas bem simples como abrir os olhos pela manhã. Mas não Bianca. Ela já foi assim, mas depois que a pedi em namoro ela se transformou nessa pessoa sem coração. Suas crises de ciúmes estão mais frequentes e isso me tira do sério. Ela não tem motivos para ser a ciumenta que é, e sinceramente isso tem me afastado cada vez mais dela e eu não tenho me importado com isso. Talvez não era para ser. Talvez não devemos ficar juntos, ou tudo isso seria uma fase e logo tudo ficaria melhor. Eu teria que me acostumar com qualquer uma dessas opções .

●●●

Eu estava sentado em minha cama com a televisão ligada quando me lembrei de que não havia mandado a mensagem para Mariana. Eu disse que enviaria uma mensagem para ela anotar meu número, mas a presença de Bianca fez com que eu esquecesse. Peguei meu celular e mandei uma mensagem.

"Boa noite Mariana, é o Mateus. Como está se sentindo?"

Eu não costumava passar meu número pessoal aos meus pacientes, mas não sei o que me deu quando vi já tinha enviado a mensagem e estava ansiosamente esperando por uma resposta. Torci para que ela realmente me visse não como um médico, mas como um grande amigo. Mariana parecia ser uma boa moça e não merecia passar pelo momento que estava passando. Segundos depois ouvi meu celular vibrar.

"Boa noite Mateus. Estou bem, obrigada! E você?"

"Bem também! Anote meu número para o caso de precisar de alguma coisa"

"Anotado!"

Pensei em mandar outra mensagem, mas peguei no sono antes mesmo disso acontecer. Meu dia havia sido tão cansativo que não troquei nem de roupa ante de pegar no sono.

●●●

Acordei assustado e ofegante. Eu havia sonhado com Mariana e que ela havia morrido, Senti meu corpo tremendo e não soube classificar o que estava sentindo naquele momento. Peguei meu celular e digitei a mensagem que devia ter sido enviada a horas atrás.

"Me desculpe o horário, mas quero saber se está bem?"

A resposta que veio imediatamente me deixou desesperado.

"Não."

Meu coração ficou acelerado e enviei outra mensagem.

"Me passe seu endereço"

Assim que Mariana passou o endereço, só troquei minha blusa e sai em disparada. O que quer que aconteça essa noite eu preciso ser forte. Esse era meu único pensamento: ser forte, forte por minha amiga que talvez não fosse tão forte quanto eu.

●●●

Ao chegar no endereço de Mariana, toquei o interfone e segundos depois o portão foi aberto para que eu pudesse entrar. A porta de seu apartamento estava aberta e ao entrar me deparei com Mariana em sua camisola branca. Ela estava abatida e assim que me aproximei, a envolvi em um abraço. Sentir seu corpo contra o meu, seu corpo quentinho e seu coração pulsando me fez ver que ela ainda estava viva. Estava ali, presente.

Agoniado com tudo aquilo, não soube como reagir. Meu Deus o que estava acontecendo? Eu nunca havia me apegado tanto a um paciente. Por que ela? Por que justo ela? Tão bonita, tão única, tão limitada, tão perfeita.
Joguei esses pensamentos para o fundo da minha mente e decidi a ajudaria Mariana no que estivesse ao meu alcance.

Com Amor, MarianaOnde histórias criam vida. Descubra agora