Recepção hospital
– Eu estou a dois dias procurando por ela, fui a todos os lugares – Disse Rebecca.
– Dois dias? Que impressionante. Eu estou a quase cinco anos procurando por ela – Disse a mãe sustentando o olhar de superioridade.
Rebecca foi ao hospital todos os dias. E no quinto dia...
– Ela acordou. Ela esta sem memória – Disse a mãe sem entusiasmo.
– O quê? – Perguntou Rebecca incrédula. Só pode ser mentira. – disse a voz cética dentro dela.
– O médico disse que é comum em caso de acidente o paciente perder a memória.
– Eu sou a única família dela, ela é a minha única família – Disse Rebecca
– Guarde suas utopias juvenis se você quer mesmo vê-la. Eu quero o melhor para minha filha.
– Que coincidência eu também.
– Você vai vê-la, mas nada de falar sobre... (pausa) você sabe.
– Sobre o quê? – Disse Rebecca com ironia.
– Sobre os últimos anos – Pondera a mãe.
– Ela vai saber de qualquer jeito. Mesmo que eu não diga uma única palavra.
– Não hoje.
– A Senhora quer que eu minta então? É isto. Devo mentir?
– Você tirou minha filha de mim uma vez, não permitirei que faça isto novamente.
– Não vou discutir o amor com a senhora. Eu quero falar com o médico.
– Falar sobre o quê?
– Sobre o novo remédio para homofobia. A senhora está precisando. Relaxa vou falar sobre o tratamento, quero saber como ela está.
– Assim espero, senão você já sabe.O médico explicou meticulosamente o funcionamento do cérebro e as possíveis lesões, usando termos técnicos
– Não é justo! Isto aqui é um circo, eles não são a família dela. Estão aqui posando de pais presentes e carinhosos, pergunta onde eles estavam nos últimos cinco anos. Eu sou a única família que ela tem – Disse Rebecca indignada.
– A família tem guarda legal, assegurada pela justiça. Assim que ela for transferida para o quarto você poderá visita-la, como amiga – Disse a mãe.
– Amiga? Eu estive com ela em cada segundo dos últimos mais de cinco anos.
– Amiga! Exatamente isto – Disse a mãe.Rebecca sem alternativas aceitou momentaneamente o papel de melhor amiga. Observaram-na através de uma grande vidraça.
– Ela sente dores? – Perguntou Rebecca.
– Não, ela está sedada.
– Ela é forte, aposto como... Deixa para lá.
– Se ela viveu uma situação, você pode ter certeza que ela se lembrará.
– Quanto tempo durará esta perda de memória?
– Lesões no cérebro são incógnitas, podem durar horas, dias.
– Meses ou anos? – Disse ela, entristecida.Rebecca anotou seu número de celular num pedaço de papel e entregou ao médico.
Ela permaneceu ali, olhando fixamente através do vidro embaçado por sua respiração, parecia que a qualquer momento seria transportada para seu lado.