Motoqueira

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Quando entrei em casa,minha avó Joana me recepcionou com o avental sujo de molho de tomate e um sorriso no rosto,assim que ouviu o barulho da fechadura.

__Oi,vó. Cadê o vô?

Coloquei o capacete na mesa de jantar e fui até a porta da cozinha,onde ela estava parada batente e beijei seu rosto enrugado.

__Hoje não foi um dia bom para ele,querida. Já foi se deitar. Tete esta lá com ele enquanto preparo o macarrão que você gosta.

__Vou lá dar um beijinho nele.

Minha avó voltou para a cozinha e eu fui até o quarto em que meu avô, Francisco estava acomodado. Antes de abrir a porta respirei fundo para manter as emoções sobre controle e abri a porta devagarzinho para não assusta lo se ele estiver acordado. Na cama grande de madeira que na minha infância foi meu porto seguro,para onde eu corria para chorar minhas feridas ou somente para me sentir amada,estava o meu grande herói.
Meu avô que antes era um homem alto,forte,hoje se encontrava frágil, com um olhar ausente.
Deitado na aquela imensa cama,ele parecia tão pequeno.
Francisco Vilella oitenta anos,cardiologista, engajado em instituições de pesquisa e um homem erudito amava assistir óperas, sabia de có todos os detalhes sobre música clássica,hoje nem lembrava o próprio nome.
Quando os sintomas do Alzeimer apareceram há dois anos atrás, eu pensei que fosse ter mais tempo com ele. Tempo para agradecer por tudo que ele fez por mim.
Minha mãe biológica, morreu logo após meu nascimento e Lidia Vilella, filha deles casou com meu pai biológico,Bjorn Baker quando eu tinha dois anos.
Mas ser mãe não era bem o que ela imaginava, eu era chata.
Um fardo,que atrapalhava a temporada de viagens e festas que meu pai como diplamata tinha a disposição.
Então eles me deixavam na casa dos meus avós. Foram os meus avós que me criaram e me deram amor.Que me quiseram quando ninguém mais quis.
Mesmo que em nosso corpo não corra o mesmo sangue, o amor que nos uni é verdadeiro.
Hoje meus pais vivem em São Paulo. Tem quase um ano que não os vejo.
Na última visita,Lídia disse não saber lidar com o meu avô. Que a doença a deprimia.
Não foi nenhuma surpresa.
Não precisamos deles.

A doença progrediu muito rápido e hoje tem dias que ele não lembra de nada,não quer comer,não quer tomar as medicações.
Contratei uma cuidadora tem um pouco mais de um ano,quando minha avó me ligou porque ele queria sair de casa a todo custo,e estava jogando objetos nela. Apavorada,ela se trancou no banheiro e me ligou. Ficou lá até eu chegar e encontrar meu avô sentado no chão da sala,comendo pão.
Sabe se lá o que de pior poderia ter acontecido.
Tete,a cuidadora fica com eles de segunda a sexta durante o dia e nos finais de semana o dia e noite inteiros.

Quando ela me viu,fez sinal de silêncio e levantou para me encontrar na porta.

__Vovó me disse que foi difícil hoje?

Tete fechou a porta e balançou a cabeça confirmando.

__A gente ja conversou né, Juliana. Vai piorar. É normal,é o esperado, mas não é por isso que é fácil de aceitar. Sua avó esta sendo uma guerreira,Juliana.

__Eu sei,Tete. Obrigada pelo carinho com a gente.

Tete me deu um abraço rápido, pegou sua bolsa e foi para casa.
Eu tomei banho,jantei com a vovó e quando ela foi deitar no quarto que nós duas dividimos,desde que dormir ao lado do meu avô se tornou um problema, fui lavar a louça.
Quando me deitei com minha avó, o sono não vinha.
Minha cabeça fervilhava e eu precisava arejar as idéias.
Minha vontade era pegar a moto e sair pela noite. Antes eu fazia isso direto,dirigia sem destino pelas ruas.
Mas não posso deixar meus avós sozinhos.
Então fui para a varanda,tentar ler um pouco.
Quando finalmente consegui dormir um moreno lindo invadiu meus sonhos.
E na segunda de manhã percebi que não havia respondido a mensagem do Rodrigo.
Depois de cuidar da rotina da manhã do meu avô, mandei uma mensagem para o Rodrigo.

Amor No Fim De SemanaOnde histórias criam vida. Descubra agora