Irresistível

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Quando entrei em casa no domingo,falei com minha avó e fui atrás da Tete no quarto do meu avô.
Ela estava penteando os cabelos ralos do meu avô.
Era visível o carinho que ela nutria pelo meu avô. Cuidava dele além da obrigação, dedicava se de coração e eu nunca poderei agradecer o suficiente por isso.

__Boa noite,Tete. Boa noite,Vô.
Posso entrar?

Meu avô continuou olhando o espelho, ignorando minha presença.
Tete sorriu.

__Hoje ele está se achando bonito,Ju. Me deixou barbea lo sem reclamar.

Eu estava sem jeito de pedir que ela ficasse amanhã para mim.

__Tete. Eu sei que você já me ajuda além da conta. E eu sei que seus horários são uma bagunça por causa dos meus horários, mas eu queria muito te pedir um favor. Será que você amanhã pode vir aqui pra casa a tarde? É tua folga eu sei e se você não puder tudo bem. Tranquilo.

__Ju deixa de besteira. Nesse tempo todo que trabalho aqui, você nunca me pediu nada. É claro que venho amanhã.

__Poxa,Tete. Obrigada. Mas não tem problema se você não puder. Não é nada importante.

__Duvido. Para você me pedir deve ser sim muito importante,sim.

__É aniversário de um amigo.

__Aquele que teve aqui no teu aniversário?

Ela tinha um sorriso conspiratório.

__Sim.

__Ju,é claro que é importante. Menina,você é jovem e já tem tanta responsabilidade que até parece uma velha. Só vejo você correndo de um trabalho para o outro,da faculdade para casa. Cuidando de tudo por aqui, sem se divertir,sem aproveitar sua juventude. Entendo o amor que você tem pelos seus avós,acho lindo. E espero que quando chegar minha vez de ser cuidada na velhice,tenha alguém como você,para cuidar de mim na minha família. Mas de vez em quando você tem que deixar tudo um pouco de lado e viver sua vida. Vai sim amanhã. E vai toda linda encontrar seu amigo,heim.

Não passou despercebido a forma com que ela disse a palavra amigo.
Eu sorri,grata.

__Obrigada,Tete. Fica tranquila que vou de pagar dobrado o dia de amanhã, tá.

Ela fez um gesto com as mãos indicando que não importava e me puxou para um abraço.
Quando já estava deitada para dormir,recebi uma ligação da Yanna.
Queria me contar que o Rodrigo a convidou junto com Bruno para o churrasco e que ele estava tão triste que ela até sentiu pena.
Disse que por ele não faria nada no aniversário,e que a família dele que estava fazendo pressão para comemorar.
Me perguntou se eu iria.
Não respondi nem que sim,nem que não.

Na segunda feira de manhã, eu era a indecisão em pessoa.
Não conseguia decidir o que vestir, o que calçar.
Não conseguia decidir se ligava para o Rodrigo para confirmar que eu iria ou se aparecia de surpresa.
Não conseguia decidir nem se iria mesmo.
Tentei ligar para a Tete para cancelar,ela não atendeu e as onze e meia,bem no horário combinado ela estava chegando lá em casa.

__Pensa que não vi que você iria querer desistir? Não atendi de propósito o celular.

Falou toda risonha. Me ajudou ela e minha avó,a escolher a calça jeans e a blusa leve de decote canoa azul claro.
Trancei o cabelo,mandei uma mensagem para Yanna,para avisar que eu estava a caminho e pedi que ela não comentasse com o Rodrigo.
Peguei a estrada quase uma da tarde.
Quarenta minutos depois estava em frente ao portão de ferro da casa do Rodrigo.
Ficava em um bairro perto da Barra da Tijuca.
Condomínio de mansões que me fez duvidar se estava no endereço certo.
Com as mãos tremendo,peguei o papel no bolso da jaqueta.
Conferi o endereço.
Era ali mesmo.
Toquei o interfone e alguém muito animado atendeu me perguntando qual era a senha para entrar, depois sem nem mesmo me dar tempo de falar nada,gritou o Rodrigo.
Demorou uns cinco minutos até que eu vi o moreno lindo de bermuda caqui e camiseta branca,vir na direção do portão pelo gramado. Descalço, cabelos presos em um boné preto.

__Motoqueira?

Ele perguntou ainda distante do portão.
E quando eu tirei o capacete,ele correu na minha direção,apertando o controle remoto para abrir o portão.
Eu sentia o meu coração batendo tão rápido que parecia estar na minha boca,enquanto estacionava onde ele me indicava ao lado de outros carros.
O som de risadas e música animada vinha da parte detrás da casa cor de Terracota.

__Nem acredito que você esta aqui!

Ele estava do meu lado assim que desliguei a moto.
Cara de quem não sabe como agir,como me cumprimentar.
Tirou o boné, só para colocar de novo.
Cruzou e descruzou os braços e colocou as mãos nos bolsos da bermuda.
Desci da moto e guardei meu capacete,tirei a jaqueta e ele me perguntava como foi na estrada,se eu havia achado fácil o endereço.
Visivelmente nervoso,ele estava.
E estranhamente eu estava calma.
O mais calma que consegui estar desde o domingo do meu aniversário quando ele saiu da minha casa.
Cheguei perto dele,sentindo o seu cheiro.
Passando as minhas mãos no meu cabelo, desfazendo minha trança.
Sabia que o cheiro do meu shampoo,que ele gosta chegaria até os sentidos dele.
Percebi a postura dele mudar,os olhos focando na minha boca.

__Feliz aniversário,Rô. Desculpa,não comprar nenhum presente. E que eu não tive tempo e.

Ele me interrompeu.

__O melhor presente é você ter vindo. Você não faz idéia do quanto eu tô feliz em te ver aqui.

Nossos olhares não se desgrudavam,e eu senti a boca cheia d'água.
Aguando por ele.
Vontade dele.
É a sensação de estar com quem a gente deseja estar que me dominou.
Uma paz serena,certeza da escolha feita.
Olhando para o Rodrigo,a dúvida não tinha vez.
Era ele.
Sempre foi ele.
Senti o toque da sua mão na minha cintura e pensei naquele momento que se ele me beijasse eu não me iria me opor.
De maneira nenhuma.

Amor No Fim De SemanaOnde histórias criam vida. Descubra agora