Tempo

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Quando Rodrigo saiu do chalé eu desmoronei.
Coloquei as mãos no rosto e deixei o choro sair,Yanna me abraçou e eu chorei ainda mais.

__Oh, amiga. O que aconteceu com vocês? No domingo estava tudo tão bem. O que o Rodrigo fez?

__Vou te contar,só quero tomar um banho. Vou parar de chorar e a gente conversa.

__Ta bem. Vou te esperar no nosso quarto.

No banheiro,lavei os vestígios do Rodrigo do meu corpo e enquanto me secava nem conseguia olhar o espelho.
Como não consegui resistir a ele?
O que é essa atração que me transforma em alguém sem razão?

Eu nunca fui de acreditar nesses amores mágicos,que a gente vê nos filmes e nos livros. Amor que supera tudo,para mim não existe na vida real. Fica bonito na literatura e na tela de cinema,mas não sobrevive no dia a dia.
Sentir na minha pele essa incapacidade de não ceder para o Rodrigo é novidade para mim.
Sempre achei que as relações amorosas são baseadas em uma série de sentimentos, que fazem você querer estar com a pessoa. Admiração,desejo,respeito,amizade,amor.
Vontade de fazer dar certo é o segredo para os casais duradouros.
Não adianta só esse lance de atração.
Não adianta só esse lance de amar.
Amor sozinho não basta.
Quando me vesti e fui para o quarto,Yanna falava com Bruno no telefone.
Eu escutei quando ela disse que eu precisava dela agora e que nosso arranjo estava desfeito.
Ela me viu,se despediu e desligou o telefone abrindo os braços em um convite para um abraço.
Nós conversamos até o Bruno chegar.
Bateu na porta,e quando entrou tinha uma expressão de cachorro abandonado.
Me deu um beijo na cabeça e sentou do nosso lado.

__Encontrei Rodrigo na varanda.
Ele me contou o que rolou no domingo. Ele sabe que fez merda,Ju. E o cara tá arrependido. Mas acho que você tá certa. Tem que fazer o Rodrigo penar um pouquinho.

__Então quando você,senhor espertalhão fizer alguma merda posso fazer você penar um pouquinho né?

Yanna sorriu com maldade e Bruno arregalou os olhos.

__Ei, eu tô apoiando a Ju! Não é assim que vocês mulheres fazem?

Ele falou brincalhão e eu agradeci de coração o apoio,mas não queria atrapalhar e falei para eles irem namorar um pouco e que me deixassem sozinha.
Yanna foi um pouco contrariada,queria ficar ali comigo na típica solidariedade feminina, foi preciso que eu garantisse que estava bem para que ela aceitasse o convite do Bruno para irem na cidade.

Quando fiquei sozinha,deitada na cama meus pensamentos não me davam trégua.
Sentia um aperto no peito.
Vontade de não ouvir a razão.
Vontade de me deixar levar pelo sentimento e admitir que quero o Rodrigo.
Que com ele sou muito mais feliz.
Na sexta de manhã cedinho, antes de irmos para o restaurante quando eu estava calçando meus tênis,Rodrigo entrou no quarto.
Nem precisei levantar a cabeça para saber que era ele.
O cheiro dele era inconfundível.

__Por favor,Rodrigo. Eu não quero brigar.

Falei sem nem levantar a cabeça para olhar o rosto dele.

__Eu não tô aqui para brigar com você, Ju.
Vim aqui para te dizer que não vou implorar por você esse final de semana. Vou te dar espaço,tempo para pensar em tudo que eu te disse. Pensar em nós.

Levantei a cabeça e meu olhar encontrou o dele. Parado perto da porta,ele parecia arrasado.As olheiras denunciavam uma noite mal dormida.
Ele continuou a falar.

__Precisamos trabalhar juntos e faremos isso com profissionalismo. E só te peço que você não esqueça que eu te amo. Amo e não vou desistir de você. Por favor,não desista de nós.

E saiu do quarto,sem esperar qualquer reação minha.
O final de semana passou em um borão nos meus olhos,o Resort estava lotado e trabalhamos muito mais que o habitual.
Eu e Rodrigo mantivemos uma guerra fria.
Na frente das crianças éramos os recreadores Tia Ju e Tio Rô,interagindo com parcimônia para evitarmos conflitos.
Mas nas horas de descanso ficávamos cada um no seu canto.
Em um silêncio ferido.
Ele sabia o quanto eu gostava de ficar lendo na varanda,então ele não saia para ver a noite. Ficava dentro do chalé, no quarto.
Eu sabia o quanto ele gostava de correr pela trilha de manhã bem cedo,então eu evitava sair pela manhã.
Ele cumpriu a promessa e não tentou falar comigo.
E no domingo ele não estava no estacionamento me esperando,para pegarmos a estrada juntos.
Mas no caminho um pouco antes da subida da Serra das Araras avistei a moto dele.
Parado no acostamento.
Sem deixar dúvidas que estava me aguardando.
Quando eu passei por ele,pelo retovisor o vi tomar o lugar de custume atrás de mim na estrada.
O tempo passou rápido e um final de semana deu lugar a outro. E o mês passou,com nós dois separados.
Quando setembro chegou continuávamos na mesma situação.
Eu admito que o que me impedia de ir até ele e pedir para voltar era o orgulho,porque eu estava quase louca de saudade.
Ele respeitava meu afastamento,não tentou conversar comigo outra vez como o prometido.
E no silêncio das palavras o carinho que ele sentia por mim,ficou mais evidente. Muito presente nas atitudes que ele tinha.
No café da manhã ele sempre pegava pães de queijo e colocava em um prato ao meu lado,mesmo sentando do outro lado da mesa.
Nas recreações que eu fazia na piscina,ele sempre buscava toalha e deixava na mesa onde eu guardava minhas coisas.
Minhas garrafas de água estavam sempre cheias sem que eu pedisse.
E ele continuava a sempre me esperar na estrada.
Eu sentia a falta dele. Tanto. Cada dia me perguntava se estava certa. Se não podia dar outra chance ao Rodrigo. E para ser bem sincera só o que me impedia de desculpa lo de vez,era o fato de ter que dar o braço a torcer.
Orgulho bobo.
Cada vez que via ele sorrir,me arrepiava inteira.
A vontade de beijar aquela boca no meio do sorriso era tão intensa que as vezes me assustava.
O aniversário do Rodrigo era no feriado da Independência do Brasil. Típico do moreno lindo fazer aniversário em um feriado nacional.
No domingo que antecedeu o feriado,ele me esperava na varanda do chalé, pronto para ir embora.

__Ei,motoqueira. Posso falar com você?

Falou assim que eu sai.
Cabelo molhado,todo de preto.Capacete na mão. Lindo como sempre.
Parei em frente a ele,um pouco nervosa.

__Claro.

__Meu aniversário é amanhã e eu sei que fica complicado para você sair de casa. Tô sabendo da dinâmica com seus avós. Que fica complicado para você deixa los sozinhos mas,a única coisa que eu queria amanhã,era que você pudesse estar comigo.

__Rodrigo eu.

Ele me interrompeu.

__Vou fazer um churrasco amanhã lá em casa -ele me estendeu um papel. Eu peguei. -Meu endereço tá ai. Vou esperar por você.

E sem que eu pudesse responder ele virou e foi embora.
Eu fiquei ali,olhando o endereço no papel e ja comecei a pensar em como pedir a Tete que quebrasse meu galho amanhã.








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