Vai!

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__Eu já te falei que meu avô tem alzheimer né?

No elevador eu repetia a pergunta que já havia feito ao Rodrigo quando estacionamos.

__Sim.-ele apertou minha mão de leve.-Fica tranquila, Ju.

__É que eu não costumo trazer ninguém aqui. Quer dizer de dia para apresentar a eles.

__Tranquilo, motoqueira. Vai dar tudo certo,eu já sou de casa.

Ele me deu beijo rápido.
Tudo que eu não estava era tranquila.
Quando abri a porta de casa, dei passagem para o Rodrigo.
Me senti diferente recebendo ele em casa,com outras pessoas além de nós dois. Quer dizer outras pessoas acordadas.
Parecia que isso iria nos elevaria à outro nível.
Quase como um caminho sem volta.
Não é que fossemos um segredo,somente não haviamos ainda encontrado oportunidade como a de hoje.
A mesa de jantar estava arrumada,com um bolo de chocolate e dois arranjos de flores.
Minha avó veio do corredor,com um embrulho nas mãos.
E quando ela viu o Rodrigo do meu lado pareceu um pouco surpresa,mas o sorriso que ela tinha duplicou de tamanho.

__Minha querida! 24 anos!

Me deu de presente um perfume, o mesmo que eu usava sempre e ela gostava.
Minha avó segurava meu rosto com as mãos enrugadas.
Senti o cheiro doce que vinha dela e o carinho que me dedicou por toda minha vida.
As lembranças me invadiram e eu chorei um pouquinho de novo.
Ela limpou as minhas lágrimas,com um sorriso de quem já viu muito nessa vida e que sabe que no final eu ficarei bem.

__Não,não chore Juju. Que pelo seu rostinho já sei que você já chorou por demais hoje. Me apresente esse moço bonito que veio com você.

__Rodrigo essa é minha avó, Joana,e esse vó é o Rodrigo.

Eu não sabia o que o nós éramos então me calei. Melhor não dar informações demais né?
Afinal o que éramos?
Amigos?
Sim. Mas não seria a verdade.
Amigos com benefícios?
Com certeza! Resposta certa!
Mas não sei se minha avó entenderia, toda essa modernidade.
Rodrigo beijou a mão que minha avó ofereceu.

__É um prazer conhecer a senhora Dona Joana.

__O prazer é meu querido. De onde vocês se conhecem? Da academia de natação?

__Não. Eu trabalho com a Juliana no Resort.

__Que bom. E então vocês fazem companhia um para o outro no final de semana.

Nos sorrimos trocando olhares. Nós dois sem dúvida, invadidos por lembranças de como fazíamos companhia um para o outro.
Cavaleiro e gentil que era elogiou a casa,e em pouco tempo já a tinha conquistado.

__Como foi hoje vó?

__Foi tranquilo, Juju. Tete esta terminado de arrumar seu avô, para que ele venha comer o bolo com você.

Pouco tempo depois Tete veio com meu avô, barbeado e vestido em um terno.

__Olhem como Seu Francisco esta bonito,hoje.

Tete falou esbanjando alegria. Chegou perto de mim,me deu um beijo mas não me desejou parabéns,ela sabe que para mim esse não é um dia feliz.
Contou que quando disse ao meu avô que era uma ocasião especial ele não aceitou que ela não o vestisse com um terno.
Disse que os homens de bem,vestem terno em ocasiões especias.
Resíduo do homem elegante que ele foi.
Meu avô falou comigo como se fosse a primeira vez que me visse.
Com o Rodrigo ele fez o mesmo.
Se apresentou repetindo o nome e perguntando quando que iríamos servir o jantar.
Ele já estava com fome. E todos nós rimos um pouco do modo com que elese expressou batendo na barriga.
E eu esperei,mesmo contra a lógica que meu avô fosse ter um instante de lucidez e agir como eu sabia que ele faria se estivesse lúcido.
Certeza que iria interrogar o Rodrigo, para saber das intenções dele comigo.
Meu avô sempre foi ciumento e ele gostava de falar que o cara que eu trouxesse para casa, teria que ter uma lista de qualidades e que ele faria questão de colocar o moço para correr de casa,se achasse que eu merecia coisa melhor.
Pena que o Alzheimer aconteceu.
Eu deixei Rodrigo conversando com minha avó e fui pegar um suco para todos nós e já estava voltando para a sala quando o som do celular do Rodrigo dominou o ambiente.
Vi quando ele pegou o celular, olhou a tela e desligou o som,colocando o aparelho na mesinha lateral.
Ele ainda prestava atenção à conversa,mas eu percebi a mudança sutil no comportamento dele.
Estava com o pensamento longe dali.
O celular continuava acendendo a tela, denunciando as ligações.
Tocou cinco vezes seguidas,antes que ele levantasse e pedisse desculpas por precisar atender.
Pode chamar de intuição feminina,sexto sentido ou qualquer baboseira desse tipo,eu tinha certeza de quem era do outro lado da linha.
Rodrigo voltou da varanda e nem deu tempo de sentar antes que o celular tocasse outra vez.
Meu avô estava falante contando histórias que minha avó confirmava como verdadeiras da infância dele,era um momento feliz e eu não queria me deixar dominar pelo ciúme. Me esforçava para não olhar na direção da varanda,onde Rodrigo conversava no telefone.
Rodrigo quando retornou estava visivelmente incomodado.
Pediu desculpas,disse que não poderia ficar.

__Aconteceu um problema. Preciso ir.

__Ah que pena! Não pode nem esperar para comer um pedaço de bolo?

Minha avó falou.

__Não vó! Se o Rodrigo precisa ir embora não iremos prende lo. Ele vai agora!

Falei tranquilamente,sem denunciar como eu na verdade estava me sentindo.
Levantei sem olhar para ele e fui pegar o seu capacete e a sua mochila.
Parei na porta.
Ele agradeceu e se despediu antes de vir na minha direção.
Eu já estava com a porta aberta, parada do lado de fora do apartamento e ainda não tinha olhado para ele.

__Juliana.

__Vai,Rodrigo. Só vai embora. Resolver o que você precisa. Vai!

__Ju,perai eu não quero que você fique chateada. Ei,olha para mim.

Ele tentou tocar meu rosto. Eu me esquivei ainda sem encarar seu olhar.

__ A Bianca está em um bar e o ex apareceu por lá. Agora ela tá com medo dele fazer alguma.

Não deixei ele terminar a frase.

__Você não precisa me dar explicações.
Ela precisa de você. Vai lá ser o super herói.

Eu estava tentando sem sucesso não ser infantil.

__Mas eu quero! Porra,Juliana. Olha para mim,por favor.

Eu me afastei mais e apertei o botão do elevador.

__Cara,como você pode ser tão difícil?

__Não perca seu tempo,Rodrigo. Sua amiga precisa de você. Tchau!

Fui rápida em passar por ele e fechar a porta.
Ele até tentou segurar meu braço mas não foi rápido o bastante. Eu espiei pelo olho mágico, ele quase bater na minha porta mas o barulho do elevador o fez desistir.
Voltei para a sala e falei que iria cortar o bolo.
Não cantamos Parabéns.
Nós só comemos os nossos pedaços de bolo,separei a metade para a Tete levar para a família dela e quando ela quis arrumar meu avô para dormir,agradeci dispensando a ajuda. Ela precisava ir para casa, e eu precisava da distração.
Levei meu avô para o quarto,cuidei da sua higiene e troquei seu terno por um pijama confortável.
Adiei a chegada dos pensamentos sobre a atitude do Rodrigo, arrumando a cozinha.
Minha avó quando eu deitei me perguntou se meu pai ou se Lidia haviam me ligado.
Com a minha negativa ela disse com o jeitinho doce típico dela para que eu não ficasse triste.
Achou que meu silêncio no final da noite fosse pela indiferença da qual eu ja estava acostumada, mas mal sabia ela que dessa vez minha decepção tinha outro nome.
Rodrigo.

Amor No Fim De SemanaOnde histórias criam vida. Descubra agora