O ser humano é movido a sonhos, realizações e desejos. Desde pequeno até a velhice somos, praticamente, obrigados a sonhar com algo. Na infância sonhamos em ganhar aquele tal presente no aniversário, sonhamos que vamos ser astronauta e que nossos pais vão viver para sempre. Na adolescência sonhamos apenas em encontrar o grande amor e passar numa boa faculdade. Mas eu nunca fui assim, nunca sonhei com nada destas coisas. Sempre preferi viver o momento, fazer o que quisesse e não planejar nada que ultrapasse 24 horas.
Minha vida foi assim até seis meses depois que terminei o ensino médio. Vi a mulher que mais amava descobrir o câncer em um estágio muito avançado. Os médicos disseram que não tinham muito o que fazer, que era só esperar. Passei dois meses ao seu lado na cama, ouvi atentamente suas histórias e conselhos. Chorei todas às vezes que saí do quarto, mas depois limpava as lágrimas e sorria para levar a minha irmã para ver nossa mãe. Mel não entendia o que estava acontecendo com a sua heroína. E como poderia com apenas cinco anos? Mas ela é tão esperta que sempre falava para mamãe ficar tranquila, pois, aquela dor ia passar e ela ia para um lugar lindo ao lado do papai do céu. Tive que me manter forte várias vezes, nosso pai conseguiu parar com as viagens ao exterior para nos dar apoio, mas ele não era muito bom com estas coisas. Eu que tinha que sustentar tudo.
A cada dia sentíamos que o dia dela estava chegando. Eu nunca fazia planos, mas eu queria muito que minha mãe pudesse me ver agora. Ela ia ficar tão orgulhosa, iria me abraçar e dizer bem baixinho que tinha certeza que eu iria conseguir. Minha mãe foi a mulher mais sábia que conheci na vida, ela tinha um jeito todo especial de nos fazer se sentir especial. E foi assim até o seu último suspiro.
Em um desses dias no hospital, eu chorava compulsivamente, soluçava e pedia perdão para ela. Prometi que iria me formar, ter um bom emprego, me casar e dar dois netos para ela. Ela sorriu e pediu para que isso realmente acontecesse mesmo se ela não estivesse aqui. Não tive como negar, mas eu não sabia que seria tão difícil.
Logo após ela nos deixar meu pai teve que voltar a Europa, tinha deixado algumas coisas pendentes e pediu para gente (Mel e eu) ficarmos na casa da minha tia. Ninguém sabia lidar com aquela situação e durante um ano eu fiquei ali cuidando da minha irmã e da minha tia. Arranjei um emprego no shopping e passei a estudar espanhol - uma língua que sempre odiei, mas que fazia parte para eu concluir meu primeiro sonho, a primeira parte da promessa que fiz a minha mãe.
No aniversário de um ano da morte da minha mãe meu pai finalmente voltou para Rosewood, voltou para cuidar de uma filial da empresa. Nossa vida ia começar a voltar ao normal, ele me fez sair do trabalho e com o tempo livre entrei em um curso de francês. Admito: nunca estudei tanto na minha vida como nestes dois últimos anos.
- Pronta pra dar início a sua carreira? Perguntou meu pai parado atrás de mim.
Eu estava a mais de uma hora na frente do computador evitando entrar no meu e-mail. Parece algo bobo, mas eu já tinha sido rejeitada tantas vezes que não aguentaria isso mais uma vez.
- Não sei nem por onde começar.
- Papai tem um presente pra você! Disse Mel entrando correndo no meu quarto. Minha pequena iria completar oito anos no próximo mês.
- Era segredo, querida.
- Desculpa, papai...
- Hum... E este presente por acaso é um castelo cor de rosa?
- Não. Mas se fosse você iria dar ele pra mim.
- Ufa, ainda bem que não é.
- Eu espero que você goste. Disse ele me entregando um envelope.
Quando abri o envelope, demorei um pouco a atender, tinha várias folhas lá dentro e só consegui ler Porto de Galinhas, Recife, Brasil.
- Eu acho que está na hora de você descansar um pouco antes de meter a cara nos livros.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O ato de amar
FanficO amor e a loucura são dois pontos em uma única linha. Às vezes eles estão longe o suficiente, outras vezes estão muito próximos ou se tornam um só e você nem percebe. Há quem diga que o amor sem as loucuras não têm graça nenhuma. Mas até que ponto...