Capítulo 2 - Alguns sentimentos nunca morrem

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Minutos depois que concordei com a Spencer de que iria viajar com ela, levantei e fui comunicar aos meus pais. Minha mãe, é claro, achou uma ótima ideia, já meu pai disse que seria um feriado perdido e blá, blá, blá. No final das contas minha mãe o convenceu de me deixar ir, afinal eu já não sou mais criança.

Estava animada com a ideia, há muito tempo não me divertia, sempre estudei demais e depois que entrei na faculdade o estudo dobrou. É claro que eu saía de vez em quando, mas nada tão longo quanto uma viagem de cinco dias para a praia. Comecei a arrumar minha mala quando vi uma mensagem da Spencer no meu celular.

"Aria, acabei convidado o Noel para a viagem. Tudo bem pra vc?"

Meu coração parou por alguns segundos. Eu repeti para mim durante estes anos que eu não gostava mais dele, falei várias vezes para a Spencer e para a Hanna que eu já estava em outra, mas a verdade é que nunca existiu outra pessoa. Até fiquei com outros carinhas, mas nenhum que realmente me fizesse esquecer ele. Dizem que quando você tem a primeira vez com um cara é mais difícil esquecer ele, pois é, já se passaram três anos e ainda sinto calafrios quando escuto o nome dele.

Agora vou passar cinco dias com ele. Mais uma vez vou vê-lo ficar com outras meninas e fingir que está tudo bem. Queria estar bem, queria poder odiá-lo, mas não posso. Eu que fui uma burra, me entreguei a ele sendo que nem estávamos namorando. Mas eu precisava seguir em frente, não estávamos mais no colegial. Respirei fundo e respondi a mensagem com um "tudo bem".

Na manhã seguinte, assim que cheguei ao aeroporto, avistei Spencer ao lado de seu pai e de sua irmã. O próximo a chegar foi o Caleb, não o vimos chegando e ele tampou os olhos da Spencer com as mãos.

- Tenho um creme de mão na bolsa se você precisar, Caleb.

- Fala sério, Spence! Você me reconhece de qualquer jeito.

- Claro, né.

Eles se abraçaram fortemente e logo depois ele cumprimentou a mim, ao pai da Spencer e a irmã dela.

Estávamos relembrando alguns episódios do ensino médio quando chegaram, quase ao mesmo, Hanna e Toby. Pude perceber a feição de Spencer mudar quando ela notou a presença de Toby.

- Bom, agora só falta o Noel.

- Para variar né.

- Ele disse que já tá chegando. Disse Toby.

- Chegando aonde? No pé da cama dele?

- Filha, temos que iniciar o check-in. Daqui a 30 minutos começa o embarque.

- Vamos para fila, até a gente ser atendido ele deve chegar.

Já iríamos ser os próximos a fazer o check-in quando o aeroporto inteiro se assustou com um rapaz forte gritando desesperadamente para esperar ele. Senti minha respiração falhar. Ele ainda estava mais gato do que nas fotos do Facebook.

- Puta que pariu! - disse ele ofegante - Foi mal galera! Me enrolei todo!

Fizemos poucos comentários sobre o atraso de Noel, pois, logo em seguida fizemos o check-in e fomos para o embarque. Assim que chegamos ao nosso portão, uma fila já tinha se formado, por pouco não ficamos de fora. Eu iria ficar com muita raiva se perdêssemos o voo por causa daquele idiota, mas iria ficar com mais raiva ainda se ele não fosse com a gente.

Sentamos um perto do outro nas poltronas, o clima estava bem estranho. Fazia muito tempo que não nos reuníamos, nos víamos apenas no aniversário da Hanna ou do Caleb. A viagem foi bem silenciosa, o avião tinha televisão individual, então cada um ficou fechado no seu mundinho.

Chegando ao aeroporto de Recife ficamos totalmente perdidos, não tínhamos ideia de como chegar até ao hotel.

- Vamos de táxi. - disse Toby. - Vai sair mais caro, mas pelo menos não vamos ficar perdido.

- E não da pra ficar perdido com este tanto de mala que a Hanna trouxe.

- São só duas, Noel. Uma para os sapatos e outra para as roupas.

- Espero que não tenhamos que usar tudo isso, trouxe o básico.

No final das contas fomos de táxi mesmo, saiu bem mais caro, mas ficamos na porta do hotel. Que por sinal era lindo: ficava de frente para a praia, a recepção tinha decorações em azul e de lá avistamos duas piscinas.

- Não acredito que seu pai alugou dois quartos! Disse Caleb fingindo estar bravo.

- É claro. Você não acha que ele ia permitir uma orgia né.

- Não seria uma má ideia.

- Menos, Noel. Bem menos.

Decidimos que as meninas iriam ficar em um quarto e os meninos em outros. Os quartos eram um ao lado do outro e assim que entramos no nosso Hanna se jogou na cama.

- Gente, vai ser como nos velhos tempos. Somos um grupo de casais de novo.

- Não viaja, Han.

- Não mesmo. Não vai rolar nada entre mim e o Noel.

- Ain gente, o que tem? Só por cinco dias! Vai ser fantástico!

- Não vai não, vim aqui para relaxar e não para trazer um tormento de volta para a minha vida.

- Exatamente. Disse concordando.

Terminei de desarrumar minha mala e fui para a nossa varanda enquanto as duas continuavam a falar sobre ficar ou não como antes. Eu não queria pensar nisso, não queria ter esperanças. Estava olhando para o mar e, meio distraída, quando falei alto:

- Perfeito!

- Obrigada!

Me assustei e quando virei para ver de onde estava vindo a voz meu coração congelou. Era Noel da varanda do quarto dele.

- Estou falando da vista, okay. Ficamos em um lugar maravilhoso, acho que não conheci um lugar tão lindo quanto este.

- Eu sim. E estou falando com ela.

Meu coração voltou a bater, só que bem mais rápido. Ele continuava o mesmo garanhão de sempre.

- Estou falando de lugar e não pessoas.

- Bom, eu também.

- Aff! Disse indo em direção ao quarto.

- Insensível.

Escutei ele dizer e me virei brutalmente em direção a ele.

- Eu? Insensível? Você que não larga este seu caderninho barato de cantadas.

- Pois é, ele ensina como fazer uma encalhada feliz.

Respirei fundo e virei as costas pra ele. Antes de entrar para o quarto, esbravejei.

- Conquistador barato!

- Feminista arrogante!

O ato de amarOnde histórias criam vida. Descubra agora