Capítulo 10 - Xiiii

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Durante todo o dia todos estavam muito estranhos. Spencer não parava de cochichar com o Caleb, Aria ficou o tempo todo com a cara do notebook e vi o Toby e o Noel saindo com a Alison em um táxi.

Ninguém me contou o que estava acontecendo. Só não me chamaram de paranoica porque resolvi me afastar deles. Eles também preferiam a Alison e estava tranquila quanto a isso. Só faltava dois dias para voltarmos para casa e ter minha vida normal e longe das loucuras do ensino médio.

- Hanna porque você ainda está deitada. Vamos a boate hoje, lembra?

- Não estou afim.

- Como não? Você ficou os dois últimos dias querendo sair do hotel.

- Mas eu não quero ir mais. Podem chamar a amiga de vocês.

- De quem ela está falando? Perguntou Aria para Spencer.

- Da Alison é claro. Respondi engolindo o choro.

- Da onde você tirou isso, Han?

- Não importa. Só me deixem em paz!

Aria retirou o lençol de cima de mim e em um tom acima falou olhando diretamente nos meus olhos.

- Hanna Marin você vai levantar dessa cama, vai ficar linda e vai se divertir esta noite. Não quero mais ver esta "Hanna Tenham Pena de Mim" novamente, okay?

Olhei para Spencer assustada e ela automaticamente soltou o nosso questionário.

- Peixe e telhado. - ela respondeu antes mesmo de Spencer terminar a primeira palavra - Sou eu, gente. Só estou cansada, quero curtir esses últimos dias com vocês, sem neura, sem intrigas.

- Certo. Você me convenceu. Em cinco minutos estarei pronta.

- Cinco minutos?

- Pode multiplicar por dez.

A boate estava como nas outras noites, tentei ignorar os meninos se afastando da gente assim que entramos no local e me concentrei em curtir o momento.

Quatro músicas e algumas bebidas quentes depois, o som parou e um dos holofotes iluminou um garoto sentando em uma cadeira e segurando um violão no meio da pista de dança. Era o Caleb.

Claro que meu coração palpitou, não consegui controlar. As pessoas que estavam na pista de dança foram aos poucos abrindo espaço para ele enquanto ele tocava duas notas para a introdução. A pista já estava vazia quando ele começou a cantar e Toby e Noel foram jogando pétalas de rosas até formar um caminho que levava a mesa onde eu estava com Aria e Spencer.

A música falava sobre perdão, sobre situações imperfeitas para um amor perfeito. Aria e Spencer saíram de perto de mim e quando me levantei algumas fotos minhas com ele foram descendo do teto em um varal. Meus olhos já estavam cheios de lágrimas e quando ele parou de cantar eu já estava na frente dele.

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Essa era a deixa: a bonitinha beija o namorado, os balões em formato de coração caem e eu puxo a Aria para longe de todos.

- Me solta! Ela gritou tentou tirar o meu braço.

Mas ela podia gritar o quanto quisesse. Todos estavam batendo palmas e olhando para o casal.

Levei ela para a saída de emergência onde o carro estava nos esperando. Virei o rosto dela para o meu, tirei o capuz preto e sorri.

- Bethany?

Logo depois minha parceira tampou o nariz da minha irmãzinha fazendo-a desmaiar. A colocamos dentro do carro e voltamos para o hotel.

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Abri meus olhos com dificuldade e, assim que tentei esticar os braços, percebi que eles estavam amarrados para trás. Meus pés também estavam amarrados e eu estava em uma posição muito desconfortável.

- Eles acreditaram que ela era apenas uma amiga bêbada, certo?

- Ninguém desconfiou. Agora seja rápida, tenho que voltar para a boate.

Mesmo com a visão um pouco embaçada tive certeza que era a Alison saindo do quarto.

- Bom dia, Bela Adormecida. Disse Bethany andando para perto de mim.

- O que é tudo isso? O que você quer?

- O Noel, suas amigas, seus pais e... Claro: aquelas perguntas idiotas que vocês criaram.

- Você nunca vai conseguir se passar por mim.

- Tem certeza? Demorou muito para vocês descobrirem que eu estava aqui. E nestes últimos dias reparei muitas coisas, acho que consigo. Sou uma ótima atriz.

- Eu sei que você acha que minha vida foi melhor do que a sua, mas não foi...

- Não foi? Tem certeza? Desde o dia que me roubaram do hospital minha vida foi um inferno. Enquanto você vivia a vida perfeita, eu passava fome. Enquanto você estudava no melhor colégio, eu faltava muitas aulas porque tinha que trabalhar.. Enquanto você tinha o amor dos nossos pais, aquele que eu pensava que era meu pai me dava um amor que não era paternal.

- Ele... Abusava de você?

- TODOS OS DIAS!

Vi uma lágrima descer do rosto dela, mas ela se virou para a parede e continuou falando.

- Enquanto você estava prestes a dar seu primeiro beijo, aos 12 anos ele veio no meio quarto pela primeira vez. E foi assim durante várias noites seguidas. Aquela mulher que dizia ser minha mãe achava que eu estava mentindo, que a culpa era minha. Ela tinha medo dele. E VOCÊ AINDA ACHA QUE SUA VIDA NÃO FOI MELHOR DO QUE A MINHA?

- Desculpa, me desculpa... Eu não sabia, não tinha ideia... Mas a culpa não é minha.

- Você tem razão, não é sua. - ela se virou para mim e se abaixou encostando nos meus joelhos - Mas quando eu apareci na sua vida fui mandada para um hospício. E sabe de uma coisa: lá foi pior que com família que me roubou.

Os olhos de Bethany estavam vermelhos, as pupilas dilatadas e seus lábios tremiam. Me senti culpada, senti vontade de abraçá-la.

- Deixa eu te ajudar...

- Me ajudar? - ela se levantou - Agora você quer me ajudar! Não precisa mais, irmãzinha. Eu terei a vida que sempre mereci.

Tentei falar mais alguma coisa, mas ela colocou um pano no meu nariz e tudo ficou escuro de novo.

O ato de amarOnde histórias criam vida. Descubra agora