Be Yourself

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Por muito que tentasse as coisas pareciam sempre iguais. E eu percebia... tinha que mudar. Ser insegura já não dava. Ele estava afastar-se cada vez mais de mim, mais dia, menos dia... as coisas acabariam por morrer entre nós e tudo acabaria... deixando uma doce e amarga recordação do que tínhamos tido.

Levantei-me antes de o meu telemóvel tocar a música que ele tinha escolhido para ser o meu despertador há anos e que até então nunca tinha mudado. Tomei um banho e coloquei os meus óculos e olhei-me ao espelho... pensei seriamente em tirar os óculos para me dar um outro ar. Não iria ver nada, mas seria uma mudança para que ele visse que estava mudada e isso seria bom! Iria mostrar mais segurança, algo que precisava de ser mostrado.

Arranjei-me para ir ter com ele e com os seus amigos e respetivas namoradas e meus amigos. Seria uma comemoração sobre o lançamento do álbum de música dele e dos seus amigos e da projeção do livro da minha amiga que iria parar às bancas dentro de poucos dias.

Chamei o táxi e senti-me ainda a menina insegura de sempre, precisava de o ser antes de abandonar esse meu "eu" para sempre. Coloquei um pouco de batom de cieiro antes de sair do carro e paguei o que devia ao senhor do táxi.

Tinha pedido para me deixar no início de uma rua e andei um pouco ainda mais para chegar a casa dele. Onde já estariam todos os outros, ao ver as horas a que tinha chegado perto da porta dele. Tirei os óculos e fiquei ser ver nada sem eles. Tentando controlar os nervos, coloquei os óculos na minha mala e toquei à campainha assim que a consegui ver.

Mordi o interior da bochecha em sinal de insegurança que tentei ao máximo esconder da melhor forma. A porta foi aberta e demorei algum tempo a entender que era o namorado da minha amiga e que ele já me estava a estender uma bebida, suspirei quando me apercebi que era algo que eu não gostava – normalmente era sempre ele que me dava as bebidas.

Ele estranhou não estar com óculos, mas encaminhou-me para a sala onde estavam todos. A minha amiga, Joana, avançou e abraçou-me. Percebi que tinha sido ela pelo seu perfume, Ck one do Calvin Klein.

-Estás sem óculos porquê? – Perguntou ela e eu encolhei os ombros sem lhe querer responder realmente à pergunta. Acho que ela entendeu o que se passava, mas fez de conta que não quis saber. Cumprimentei os pais dos gémeos da banda dele e sorri quando os tentei agarrar. Cumprimentei a Simone e o Gordon com dois beijos e um abraço a cada um e depois dirigi-me a Andreas e claramente ao baterista da banda que estava acompanhado pela sua esposa e filha pequena. – O Georg está na cozinha com os gémeos, disseram que queriam fazer as coisas à sua maneira. Já temos a marcação rápida para a pizza. Mas acho que já viste o Bill.

Ri-me com o que Joana tinha acabado de dizer e logo a seguir fui andando para a cozinha, felizmente conhecia a casa de olhos fechados e tinha-me safado. Antes de entrar inspirei fundo e expirei e entrei. Cumprimentei-os, deixando o meu namorado para último.

Quando os gémeos nos abandonaram, senti a minha insegurança a voltar. Queria ficar no meu canto, deixando as coisas acontecerem... deixando-o partir não importasse que isso me fosse partir o coração.

-Porque é que estás sem óculos?

Senti a sua indiferença para comigo e tentei não me encolher nem começar a criar macaquinhos no sótão com tal afirmação.

-Apeteceu-me hoje estar sem óculos, coloquei lentes.

Aquela mentira soou fraca, mas acho que Georg estava mais preocupado em querer despachar-me da cozinha do que propriamente a querer saber de mim e de como é que eu estava. Infelizmente, parecia que as minhas tentativas de criar segurança estavam a mostrar tudo menos isso.

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