Acordo com minha mãe me gritando e tirando as cobertas de cima de mim. Eu estava entendendo nada. Olhei para o lado da janela e o dia nem se clareado direito, tinha:
-mas.. o que está acontecendo? - falo enquanto coço os olhos a olhando.
- escola. Aula. Ou você acha mesmo que vai ficar atoa aí? - respondeu ela.
- Aula??? Que aula??? -me sento na cama a olhando.
- escola, Blenda. Para ser ser anta e vai tomar café e por roupa pra você poder ir. - ela sai do quarto e eu logo me levanto.
Eu não acredito que já conseguiram me matricular em uma outra escola aqui. Deve ter sido quando eu tinha saído com a Bela.
Saí toda descabelada, sem calça, descalço, com uma blusa do meu pai que ficava um pouco grande em mim.
Fui para o corredor e olhei para a sala. Tinha uma pilhinha de roupa com uma calça, uma blusa branca, e um par de tênis em cima, com uma meia dentro de cada em cima do braço do sofá.
Fui para a cozinha, meu pai estava dormido ainda, só eu e a minha mãe em pé.
Me sentei em uma das cadeiras a olhando enquanto pegava uma xícara:
- isso é sério mesmo? - puxo um prato com um pão já pronto e mordo.
- claro. - ela coloca uma caneca de plástico amarela da Magali na minha frente e prepara o leite com toddy - filha, você precisa estudar. Não é por que é quarta-feira que você vai passar o resto da semana vegetando em casa igual você faz nos domingos. - ela termina o Toddy e me passa a caneca logo sentando, cruzando os braços por cima da mesa e me olhando. - olha, você vai estudar nessa escola. - ela me mostra uma foto no celular - vou te levar essa semana de carro pra você ir se acostumando com o caminho. Você vai ficar na sala do nono um. É só você perguntar para alguém que eles vão te responder, okay? - ela me olha denovo com um sorrisinho.
- mas... e os cadernos? Tá com a matéria da outra escola ainda. - a pergunto.
- o que você quer? Que eu compre novos cadernos se os seus ainda esta cheio de matérias livres? Não é só por que você mudou de escola que tem que mudar de caderno também. Vai usar o mesmo e pronto. - ela se levanta e vai para meu quarto ainda falando - e vai colocar logo a roupa por que filha minha não chega atrasada em escola não.
Eu, já com aquela cara de morta e ainda com sono, revirei os olhos e fui pra sala colocar a roupa. Sim, na sala mesmo.
6:45 da manhã. Minha mãe buzinando na rua e me gritando. Meu Deus, me lembre de pedir desculpas para os vizinhos depois.
Pego a mochila e uma maçã. Vou para o carro o mais rápido possível logo entrando:
- é sério? Aqui você tem vizinhos, sabia? Eles podem ligar para a polícia e te denunciar, doida. - me viro para frente com o humor de -10 e guardando a maçã na mochila.
- você pegou uma coisa pra comer no recreio? E a garrafinha de água? Você tá levando seu estojo? Eles podem dar alguma coisinha de pintar e você vai passar vergonha se não tiver material. Tá tudo aí dentro? Agenda, caderno, lápis, caneta.. - ela me diz enquanto olha pra frente sem desviar o olhar pra mim.
-MÃE, PARA, EU NÃO ESTOU NO PRIMÁRIO. EU TENHO 15 ANOS. PARA DE ME TRATAR DESSE JEITO.. - a respondo a olhando e gesticulando com as mãos.. e ela surta.
- MENINA, VOCÊ ME RESPEITA, ABAIXA ESSE TOM QUE EU SOU A SUA MÃE. ESPERA QUANDO CHEGAR EM CASA PRA VOCÊ VER. VOU CONTAR PARA O SEU PAI.
Fechei a cara denovo e virei para frente de braços cruzados. Ela vive me ameaçando com "vou contar para o seu pai", mas ela nunca contava por que tinha medo do meu pai se revidar com força me bater.
Depois disso, ela ainda ficou falando na minha cabeça algumas coisas do tipo "eu sou sua mãe, você tem que me respeitar" e blablabla enquanto eu só queria chegar na escola logo pra mim poder ter um pouco de paz.
Animação -20. Chegamos na escola. Nem quero saber de beijinho de despedida mas ela insiste em puxar meu rosto e dar um beijinho enquanto eu fazia força contrária a dela para sair dali.
Saio do carro com só uma das alças no ombro direito e passo pelo portão da escola. A escola tem dois andares e construida de tijolos a vista e alguns detalhes verde escuro como a cor do portão e das portas das salas. Era gente correndo pra lá, gente andando pra cá, e eu olhando tudo em volta procurando a tal sala até que vejo nada mais que a Bela rodeada de amigos em pé no meio do pátio conversando. Eu só queria que ela não me visse e comecei a andar mais rápido procurando a sala tentando ser menos percebivel possível por ela.
Meu celular vibra e o pego pra ver o que tinha chegado pra mim ainda andando quando trombei em uma garota.
- ei, toma cuidado aí - ela disse.
no que me virei.. meu Deus. Ela tinha caxinhos no cabelo, e os dentes mais brancos que uma folha de papel. Ela era parda, mais pra negra, como o Marcos, e era um pouco mais baixinha que eu.
- é.. desculpa..
Continuei andando a direção contrária à dela, olhando meio de longe enquanto ela com mais duas amigas riam de mim até que bato em alguém bem de frente.
- não acredito que você vai estudar aqui.
Era a Bela com os amigos em volta. Ahh Deus.. Você me deixou na mão agora. A olhei e me desculpando, disse:
- nem eu - risos meio falsos - é... - olho para as pessoas em volta - eu.. tenho.. - olho pra Bela - eu tenho que achar a minha sala. Aonde é o nono... - olho o rabisco que fiz na mão anotando a sala para não me esquecer - nono um
A olho denovo enquanto ela da uma risadinha de mim:
- você segue reto. Primeira sala do lado direito depois da escada.
A agradeço com um simples sorriso e saio andando e acenando pra ela quando ela grita:
- Nois se por aí, Blen.
Meu Deus, que cliché usar essa frase pra se despedir mas.. Blen.. essa é nova. Acho que pega.
Subo as escadas que ela tinha falado e entro na sala do lado direito.
A porta tinha uma plaquinha em cima dizendo " 9¤ ano I ". Legal. Achei a sala.
Entrei e fui logo sentando em uma das carteiras do canto esquerdo enquanto conversava com uma menina que estava atrás de mim.
Essa menina, de nome, Fabiana, usa óculos pretos e tem um cabelo lindo. Ela falava sobre astronomia como se já soubesse de tudo e também sobre American Horror Story.. que só assisti a primeira temporada e recebi mais spoilers que entrar no Twitter em dia de lançamento de episódio novo do Game of Thrones.
O sinal toca e os alunos vão entrando para a sala. Me viro para a porta e não entra nada mais, nada menos que a menina de cabelos enrroladinhos que trombei mais cedo com as amigas dela. Vergonha dominava meu ser nesse momento e eu comecei a ficar vermelha.. e como se já não bastasse, ela senta justo do meu lado direito. No momento, eu só queria mesmo enfiar minha cabeça em algum buraco no chão e ficar ali até a aula terminar.
A professora chega. A sala está conversando e ela da um único tapa na mesa e a sala toda se cala.
- bom dia. Página 218 do livro e caderno aberto em cima da mesa.
Meu Deus, que medo dessa mulher. Encostei na cadeira e perguntei pra Fabi:
- professora de que?
- matemática. Ela vai ser seu pior pesadelo aqui na.... merda - ela se vira e começa a escrever quando vê a professora vindo até a gente.
- olha só.. Temos uma aluna nova por aqui.. a Fabi começa a rir de mim enquanto aquela menina que trombei mais cedo me olhava enquanto a professora perguntava:
- qual seu nome, mocinha?
- é B.. Blenda.
- de qual escola você veio? - ela pergunta.
- na verdade eu.. eu vim de outra cidade.
Ela dá uma risadinha e pega meu caderno o folhando:
-hm... Você está um pouco mais adiantada que a gente. O fato de você ter estudado em uma escola estadual como essa facilita bastante pra você acompanhar a gente.
Ela fecha meu caderno e coloca na minha mesa denovo:
-Já conhece os seus colegas? Vai lá na frente.. se apresenta pra eles..
Meu Deus, socorro. Além da vergonha de estar na mesma sala que a menina que quase fiz cair mais cedo, fui forçada a ir na frente da sala toda pra me apresentar enquanto a professora ficava sentada no meu lugar me olhando como todos da sala.
- e..eu sou Blenda e eu vim do Sul de Minas.. Borda da mata pra ser mais exata.
Enquanto eu estava lá na frente da turma toda, com as pernas bambas e o rosto todo vermelho de vergonha, e sentindo o suor de nervosismo sendo criado na minha testa, um alguém grita do fundo:
- fala mais alto, não tô ouvindo
Quando me virei para ver o menino, adivinha, era o mesmo que tinha me empurrado da janela, o alto, magricela, junto com o outro que estava junto com ele e também duas meninas. Ahh, que vontade ir até lá e quebrar aqueles ossos finos com minhas próprias mãos.. mas em fim. Eles estavam rindo provavelmente de mim até que a professora chegou e disse olhando para os quatro rindo lá atrás:
- SHAYNAYDE E JONAS, VÃO FICAR QUIETOS OU EU VOU TER QUE TIRAR NOTA? - as meninas riem deles - É VOCÊS TAMBÉM, JULIA E LISLAINE. SE COMEÇAREM A RIR COM ELES VÃO DIRETO PRA DIRETORIA TODOS OS QUATRO. - e eles param na hora.
Shaynayde e Lislaine....... eles tem um nome mais estranho que o meu.. e olha que "Blenda Weldy" não é fácil de superar.
A professora me diz que é pra voltar para o lugar e acompanhar mesmo que eu já estivesse com a matéria toda no caderno.
Me sentei e a menina do meu lado não para de me olhar e rir baixinho de vez ou outra durante a aula. Ela respondia todas as perguntas da professora com uma rapidez que só perdia pela do Bolt da corrida de 200 metros. Os meninos ficavam olhando pra ela e na hora do exercício, eles pediam pra professora deixar ela ajudar eles. Ela parecia ser a mais popular da turma ja que conversava com todos e a mais nerd também.
Acaba o primeiro horário e o segundo e terceiro passam voando como uma sacolinha em dia de vento forte. Depois de muitas chamadas, descobri que o nome da senhora dos caxinhos era "Alline". Eu achei ela muito metidinha a inteligente e a popular. Ela era uma versão da Bela só que com caixos. Ambas viviam rodeadas de pessoas e com uma grande porcentagem da atenção local direcionada pra elas.. É até um pouco bizarro.. como se elas fossem algum tipo de mentoras mas são só duas garotas nerds bonitas pra burro.
Hora do recreio. Peguei a maçã na minha mochila e saí para fora pra comer.
Sentei na arquibancada da quadra vendo a Bela jogar futebol na quadra com alguns meninos e a Alline com os amigos dela dando voltas pelo pátio rindo pra caramba.
O recreio acaba e voltamos pra sala.
Os dois últimos horários foram de inglês e música, sem muita coisa interessante pra se contar.
11:20. Bate o sinal da saída. Todo mundo sai da escola e segue caminho pra casa enquanto eu fico ali do outro lado da rua tentando ligar pra minha mãe.
Saiu a turma da Alline, da Bela, aqueles quatro doidos da minha sala e eu lá... esperando minha mãe.
Os ônibus todos já tinham saído e já batia 11:50. Merda, mãe.. cadê você?
12:00 e nada dela. Resolvo seguir meu estintos e ir para a casa.
Peguei meu celular e coloquei no bolso da frente da calça seguindo o caminho que eu achava que sabia.
Merda. Eu estava cada vez mais perdida e confusa sem saber pra onde ir e resolvi pedir ajuda para o meu celular.
Enquanto atravessava a rua, peguei meu celular e fui ligar o GPS quando um uno dos antigos modelos vem em alta velocidade pra cima de mim e eu simplesmente congelo. Minas pernas estremecem e os olhos ficam vidrados no carro enquanto eu segurava o celular. Eu realmente queria correr dali mas é como se minhas pernas não tivessem força o suficiente pra sair dali. O carro estava se aproximando cada vez mais de mim o mais rápido possível até que senti alguém me agarrando e pulando junto comigo pro outro lado do carro.
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O amarelo da parede. (Hiatus)
Teen FictionBlenda é uma jovem de 15 anos que é forçada a mudar de cidade e abandonar tudo ali, família, amigos, escola, por causa do novo trabalho do seu pai.. mas não foi algo tão ruim assim.