Quatorze

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Dormimos os três na sala. Eu e Júlia nos sofás e Júnior sentado na poltrona. Tudo estava bem até que acordei com o sentimento do meu pé molhado com um barulho horrível. Me sentei no sofá, e vi que a Júlia tinha vomitado em todo o tapete da sala.
Corri e a levantei do sofa indo para o banheiro, depois de dar um chute na poltrona que o Júnior estava, para ele acordar. A coloquei perto da pia, e ali ela vomitou todas as bebidas e drinks que tinha ingerido na festa.
- O que está acontecendo? - apareceu Júnior na porta do banheiro nos olhando assustado.
- Adivinha, ela está vomitando tudo o que bebeu.. se não sair alguns órgãos juntos. - O respondi enquanto olhava para a garota - bom, ajuda ela aqui, vou tirar aquele tapete da sala.
A deixei com ele e fui para a sala. Daonde se viu uma garota de 13 anos beber daquela forma? Aquilo foi horrível..
Depois de tirar a mesinha de cima do tapete, o enrrolei e o levei para fora. Eu não fazia idéia de como limpar aquilo, então, tirei o vômito com uma luva e o deixei enrolado ali logo voltando para a sala.
Eles ainda estavam no banheiro. Pensei em me sentar ali no sofá, mas Júnior não sabia como segurar um cabelo direito.. então tive que voltar para ajudar.
Depois de um tempo, Júlia para de vomitar e a levamos denovo para o sofá. Não demorou muito para ela dormir, então ficamos eu e Júnior conversando. Eu no sofá, e ele do meu lado. Ambos a olhando dormir.
-Parece que viramos babás de uma criança de 13 anos...
-Babá? Isso está parecendo a clássica cena de filme americano aonde os amigos levam o bêbado pra casa.. - O respondi.
Me arrumei no sofá e me sentei de frente o olhando:
- Acha que fomos irresponsáveis?
- Não sei.. nós temos 15 anos e tem uma garota de 13 dormindo embreagada no sofá de sua casa. E nem era pra estarmos aqui. O que acha? - ele me respondeu me olhando sarcásticamente.
- Eu não sei. Talvez a culpa seja totalmente dela por ter bebido. - Respondi com a voz baixa meio triste e encostei no encosto do sofá a olhando dormir.
- Talvez seja culpa de todos. - Ele jogou a cabeça no encosto do sofá e encarava o teto da sala.
- Todos? Agora sou obrigada a ser o olho de uma garota em uma festa? - Falei com voz firme e virei-me para ele o olhando.
- Não, não é, mas o que custaria ajudar?
- Júnior, eu fiquei do seu lado durante quase toda a festa, daonde você tirou isso?
- Toda a festa, Blenda? Você saía toda a hora para responder mensagens do seu amiguinho e conversar com os outros. Você nem ligava para a Júlia.
- Que amiguinho? Que mensagens? Eu me afastava para ir falar com a Bela e pegar mais guaraná. Isso agora é não ajudar?
- Para de se fazer de idiota. Eu vi muito bem você me deixar te esperando na porta para entrar na fila e começar de papinho com o garoto com gravata idiota.. - Ele aumentava cada vez mais o tom de voz a cada argumento que eu revidava.
- Mas... Mas você não estava lá... - Abaixei a voz e olhava para baixo.
- Ah, não estava, né? Além de não me ver na portaria, vai dizer que não me viu na fileira de trás também? - Ele não diminuia o tom. Mantia a voz alta e grossa todo o tempo.
- Você estava na fileira de trás? Eu.. Eu não te vi, me desculpa, Júnior. - O olhei enquanto dizia pedindo desculpas.
- Se ao menos você não tivesse me visto, mas eu tentei te chamar várias vezes e nada de você me atender. Você acha isso legal? Ignorar as pessoas?
- Mas eu não t... - Antes mesmo de terminar a frase, ele se levanta e vai para a poltrona se cobrindo com o lençol que eu tinha o dado.
- Não importa. Vai la falar com seu novo amigo.
E assim, ele virou para o canto da poltrona ignorando a presença das duas ali.
Eu não sabia se ria por ele estar com ciúmes de um garoto que eu mal conheço, ou chorava por ele estar brigado comigo, então, sem muito o que fazer, puxei o cobertor que estava em meus pés para cima me virando para o outro lado.
Acordei com o barulho de panelas batendo. Me sentei no sofá, e vi que meus pais tinham chegado em casa. Peguei meu celular para ver as horas, e já se passava do meio dia, e minha mãe estava lavando a louça do almoço. Júnior e Júlia não estavam mais lá, meu celular estava cheio de mensagens da minha tia e dos meus primos.
- M.. mãe, cade o Júnior e a Júlia?
- Foram embora quando chegamos. - Ela responde e vira pra mim logo depois - Por que você não respondeu as mensagens da sua tia? Era pra você ir dormir lá com eles, Blenda.
- A... a Júlia estava passando mal. Fomos para uma festa de despedida com a Bela e saimos tarde. Os pais dela ja tinham fechado a casa e então viemos dormir aqui. - Disse enquanto abria o chat e respondia as mensagens da minha tia.
- E o que o Júnior fazia aqui?
- Ele... Ele só dormiu com a gente. - a olhei até a mesma se virar de costas denovo e continuar a lavar a louça.
Ela não parecia ter acreditado muito em mim, mas confiava na Bela e a achava boa garota... acho que foi por isso que ela não questionou muito.
- Vai se vestir. Temos que ir nos despedir dos seus tios. Eles vão embora hoje. - me levantei e fui até o quarto. A ouvi gritar comigo da cozinha - Nada de camisas xadrez e tênis, em Blenda. Se vista como uma mocinha... pelo menos hoje.
Respirei fundo e revirei os olhos no mesmo tempo que a ouvi falar aquilo. Qual é o problema de me deixar vestir o que quero?... Tudo bem, ja estava acostumada com esse tipo de comentário vindo da minha família. Depois do banho demorado, peguei uma blusa branca e coloquei com uma calça jeans azul, acompanhada de uma sapatilha qualquer no pé. Pensei em colocar a camisa xadrez por cima mas, não queria discutir com ela por causa disso novamente.
Depois disso, saí do quarto. Minha mãe estava passando perfume no quarto dela. Meu pai tinha acabado de chegar, e estava no banho.
Enquanto ela discutia com meu pai sobre o atraso dele e a demora do banho, fui falando com o Júnior por mensagens.
Ele estava seco, respondia com palavras curtas e muitas das vezes usava indiretas pra explicar o por quê das minhas perguntas sobre ele estar bem. Insisti bastante em falar com ele, mas desisti quando fiquei realmente irritada com a criancisse dele. Por causa de um ciuminho de nada, ele ficou todo mordido.
Quando voltei a atenção para as coisa envolta de mim, não escutei mais meus pais. Os dois estavam no carro enquanto minha mãe berrava meu nome do lado de fora, para levar a carteira do meu pai que estava na mesinha da sala.
Peguei a carteira e fui pro carro. Eu não fazia idéia de onde estávamos indo, só continuei a ouvir música no meu celular enquanto os dois conversavam no banco da frente.

O amarelo da parede. (Hiatus)Onde histórias criam vida. Descubra agora