Domingo foi um dia bem tedioso, mas a noite, nem tanto.
O pai da Isabela, amigo do meu pai, ligou para a nossa casa nos convidando para um jantar na sua. Dizia ele que queria conversar com meu pai sobre os primeiros dias com as ideias dos dois colocadas em prática.
Meu pai vivia falando sobre a primeira semana com as idéias novas, a junção das duas empresas, as novidades que ambos estavam pensado... enfim, ele estava beeem animado com tudo.
Não era muito tarde quando chegamos na casa dos Machado. 07:30 da noite, ja estávamos nós ali. Minha mãe arrumando a camisa do meu pai e dando dicas de etiqueta para se comportar na casa dos outros, o que não entendi muito bem, ja que eles não eram lá tão sofisticados assim.
A senhora Machado foi a que nos atendeu na porta. Uma senhora um pouco baixa, - chutaria uns 40, 45 anos - com os cabelos curtos. O óculos no rosto não conseguiu esconder o sorriso dela ao nos ver ali e nos convidar para entrar.
A casa não era muito grande, mas era bem arejada com as janelas espalhadas pelos comodos. Tinha uma decoração mais recatada e um pouco clichê aonde o que mais chamava atenção era a mesa com porta-retratos da família, que não deu pra ver muito bem.
Ela nos levou até a sala de jantar que tinha um conceito aberto com a cozinha. A mesa era de seis lugares de madeira, o que não fez muito sentido ja que era só o casal, e a Bela como filha.
— Podem se sentar. Ele está colocando a roupa e já vem. - Disse a senhora Machado enquanto voltava para a cozinha.
Eu e meu pai nos sentamos na mesa, mas minha mãe foi atrás da Senhora oferecer ajuda. Não demorou muito até o senhor chegar e nos cumprimentar com apertos de mão.
— Que bom que vieram!! É um prazer receber vocês aqui. E como vai você, Bruna? — Disse ele com um sorriso enquanto me olhava.
— É... — eu ia o corrigir, mas ele ficaria acanhado e não seria o melhor. - Eu estou bem! — Sorri de volta para ele e respondi o aperto de mão do mesmo.
No mesmo momento em que fui perguntar pela Bela, a mãe da mesma que estava na cozinha com a minha, nos avisou que a comida estava pronta.
Estávamos de pé ja que não nos sentamos após receber o pai da Bela, e quando a ouvimos, fomos para a cozinha nos servir com os pratos que estavam na mesa. Minha mãe e a mãe da Bela já estavam na mesa com os pratos feitos.
Esperei todos se servirem para eu colocar a minha comida. Estavam todos conversando na mesa, e eu só me questionava o por quê da mesa de 6 lugares... enfim, voltei para o meu lugar e comecei a comer.
Como sempre meu pai e o pai da Bela foram discutir sobre as coisas da empresa, e minha mãe com a Senhora Machado falando sobre o maravilhoso cozido que ela fez aquela noite. Ele realmente estava bem feito.. tinha um sabor muito bom, e resolvi entrar na conversa para dizer isso.
Um tempo depois a porta da casa bate e uma moça com aparência de 20 anos entra por ela e atravessa a sala até a cozinha aonde estávamos. Ela estava com uma bolsa carteiro, e tinha um cabelo bem grande. Parecia ter saído de uma aula já que estava com a blusa de alguma escola que não deu pra ver o nome.
— Não quer jantar conosco, filha? — Disse a Mãe da Bela para a garota. Agora fazia um pouco mais de sentido o números de cadeiras da mesa.
— Não mãe, obrigada. Vou só pegar uma fruta e subir. Tenho dois trabalhos para entregar.
— Tudo bem, só não durma muito tarde. Pode chamar o Muca pra vir jantar? ele não sai mais daquele video game — Disse a senhora Machado após a garota ir rumo a fruteira, e a responder com a cabeça.
Mas calma.. Muca? Aquele Muca? Comecei a ficar nervosa no momento. Começamos a jantar e o garoto aparece depois de uma porta. Sim, é aquele Muca. O Muca irmão da Isabela, o Muca que me beijou na festa.
Ele sentou na cadeira vazia ao meu lado e não se surpreendeu muito quando me viu, como se esperasse por mim. Nós trocamos olhares por alguns instantes, mas logo virei meu rosto para a comida.
Não vou mentir para vocês. Eu estava com um pouco de vergonha e levemente incomodada com a situação. Eu sei que isso é imaturo e dramático, mas não cabia a mim encontrar ele assim, e bem menos descobrir que ele é irmão da Bela. Além do leve fato de eu não ter "gostado", entre mais algumas aspas, do beijo. Foi forçado e instantâneo... coisa que é bem desproporcional ao que eu espero de uma aproximação assim.
Voltamos a jantar, e eles a conversar sobre as coisas. Tentei relevar a presença dele ali prestando atenção na conversa dos outros na mesa.
O que me incomodava mais ainda, era o fato da Bela não estar ali. Da última vez que a vi, ela estava um pouco abalada, tanto pela bebida, quanto pelo que o Geo disse sobre o relacionamento dela e do Marcos. Depois daquela festa e do "show" da Júlia, não saía da minha cabeça se ele estava realmente falando a verdade, ou era só consequências do álcool.
— A... a Isabela não vai jantar? — soltei entre uma das pausas das conversas sobre negócios deles.
Alguns segundos de silêncio enquanto eles me olhavam, foi o bastante até a Senhora Machado responder tal pergunta:
— Ela saiu com alguns amigos. Dissemos que você viria mas ela disse que depois falava com você.
— Ah, tudo bem então. Pensei que ela jantaria conosco. — Droga, não era para insinuar desgosto por não ter a presença dela ali. Tentei remendar a fala com algumas palavras:
—... é que ela estava meio triste da última vez que a vi, então esperei esse momento para perguntar se estava bem. — Ótimo, Blenda.. agora deixou os pais preocupados a toa.
— Ela terminou com o Marcos. — Disse Muca ao meu lado enquanto ainda estava focado nas suas garfadas de comida.
Um breve silêncio tomou conta do local novamente. Senhor Machado logo faz uma observação para deixar o clima mais leve:
— Bem que vi que o senhor gente fina não estava mais quebrando as jardineiras de fora tentando entrar no quarto da Isabela a noite. — Funcionou. Todos riram pouco mas eu não tinha descoberto nada além do que eu já sabia. Parece bobagem, mas eu juro que parecia que eles estavam escondendo algo.
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O amarelo da parede. (Hiatus)
JugendliteraturBlenda é uma jovem de 15 anos que é forçada a mudar de cidade e abandonar tudo ali, família, amigos, escola, por causa do novo trabalho do seu pai.. mas não foi algo tão ruim assim.