Onze.

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Mais um dia normal na escola. Acho que a diretora não notou a diferença da assinatura na ocorrência.
Minha mãe é meu pai tinham saído cedo para ir para São Paulo comprar materiais para a fabricação dos produtos da fábrica. Ela era a assistente pessoal dele então, era meio necessária nessas viagens.
Depois da escola, fui para o hotel que meus tios estavam denovo.
Meus pais sempre me trataram como criança. Eles sempre insistem em dizer que eu não tenho maturidade e responsabilidade o bastante para ficar em casa sozinha quando eles saem. E isso é um tédio.
Quando eu cheguei no hotel, eles estavam se arrumando para ir almoçar fora.
Tudo bem. Fui junto com eles para a churrascaria e almoçamos.
A tarde não foi muito lá aquelas coisas. Eu saí com eles para irem comprar umas roupas e fazer um "tour" pela cidade bem aleatório, com minha tia fazendo meu tio entrar em todas as ruas que ela via pela frente.
A gente viu lugares bem bacanas, que me fizeram arrepender por não ter passado em casa e pegado minha câmera.
Finalmente estava conhecendo mais um pouco de Congonhas, e cá entre nós, que cidade maravilhosa!
Chegamos no hotel por volta das 5:30 da tarde. Estavamos todos no quarto deitados assistindo TV, quando me lembrei das lojas e farmácias que passamos em frente, e que tinham um cartaz da peça da Bela. Eu, de fato, estava bem anciosa, mas preocupada por meus tios não me deixarem sair.
A vi sentada na cama assistindo TV, e fui até ela.
- Tia, então. Hoje minha amiga vai apresentar uma peça e me convidou pra ir assistir. Eu passo em casa depois ou passamos agora para levar a roupa para o hotel?
- Tem um teatro por aqui? - meu primo, o Lucas, olha para mim enquanto continuava deitado na cama com a namorada.
- tem... a gente viu. - o olho um pouco assustada.
- Que horas vai ser a peça? - Perguntou minha tia.
- Às 7 da noite. - virei para ela respondendo.
- E qual é o nome? - Meu primo perguntou com o mesmo entusiasmo na voz.
- O fantasma da ópera. Ela vai ser a..
- Eu vou com você. - disse ele a cortar minha fala.
- A gente também vai. - disse a Lury da mesa enquanto comia sentada ao lado do Leonardo que lia um livro.
- Então vamos todos! - disse minha tia.
Isso! Eles vão. Abri um sorriso de felicidade mas logo lembrei:
- Mas eu preciso ir para minha casa... Não tenho roupas aqui.
- Você tem chave de lá, não tem? - Perguntou Lucas.
- É, eu até tenho.. mas eu posso ir lá? - olhei para minha tia.
- Pode. Então vai agora e depois a gente te pega lá. - disse ela.
- Tá bom. - abri outro sorriso, peguei minha mochila, saindo do quarto e me despedindo deles.
Hoje era o último dia deles aqui na cidade. Eles estavam curtindo o dia ao extremo.. até me impressionei por nenhum reclamar de canseira.
Saí do hotel e fui rumo a minha casa. Peguei meu celular, abri o WhatsApp, e o grupo estava com muitas mensagens denovo.
Todos confirmavam e falavam sobre a peça da Bela. Ela não queria dizer qual seria a personagem que faria, mesmo com todos fazendo pressão por cima dela.
Eu estava vidrada no celular lendo as conversas sem prestar muita atenção na rua, até que o guardei ao me lembrar que o "Júnerói" não estava ali pra me livrar de um atropelamento outra vez.
Atravessei a última rua para a minha casa, e entrei na tal depois de procurar a chave por vários minutos na mochila.
Vou para meu quarto e jogo a mochila na cadeira da escrivaninha do quarto. Conecto meu celular no carregador, fecho a janela do quarto, e logo vou tirando minhas roupas para entrar no banho.
Enrolei bastante. Lavei o cabelo, passei sabonete por todo o corpo repetidas vezes, escovei os dentes, parei para pensar na vida e o por que da crise existencial no meio do banho.. e quando saí, era 6:30.
Já estava no quarto com o celular na mão, quando vi as várias mensagens denovo. Era do grupo e do Júnior. Ele perguntava se eu ia na peça.
Respondi rápido que ia, e fui me arrumar.
Procurei e experimentei vários tipos de roupas, e nenhuma dava certo.
Olhei no celular denovo e já tinha se passado 20 minutos da última vez que olhei as horas.
Coloquei apenas um vestido azul escuro liso e solto com uma gola branca, e uma sapatilha preta no pé.
Enquanto estava abotoando ela, a buzina do carro do meu tio me chama para fora de casa.
Terminei de fechar a sapatilha e bagunçei o cabelo molhado, logo o ajeitando e saindo de casa rumo ao carro.
Vi a última mensagem do Júnior até que o WiFi se desconectou do celular.
"Blz
A gente se encontra lá" 6:52
Cabelo molhado meio preso, sapatilha preta nos pés, vestidinho um tanto quanto delicado no corpo, foi o necessário para chamar a atenção de todos no carro.
- Nossa, que belezinha ela tá.. olha lá, Jorge. Até parece mocinha. - disse minha tia do banco da frente virada para trás me olhando.
- hmmm.. tirando esse perfume fedido. - completou ela enquanto se virava para frente e abria o vidro.
- Ela está uma belezinha mesmo. Aonde você comprou esse vestido, Blend's? - disse a Nath enquanto olhava meu vestido do lado dela.
- Finalmente parou de usar aquelas roupas largas, né Teresa? - peguntou meu padrinho com uma risada irônica sem desviar o olhar da rua.
- Verdade. Ela até passou batom, olha lá.. - minha tia respondeu.
- Agora que ela mudou de cidade, ela vai se cuidar mais mesmo. Isso é normal pra quem muda da roça pra cidade grande. Agora ela é mais chique que a gente, mãe. Tirou até aquelas tiras velhas velhas e os anéis de barro  - Disse o Lucas referindo às minhas pulseiras que tirei só aquele dia.
Nisso, eles começaram a discutir entre si sobre a minha roupa e meu cabelo.
Ignorei as "alfinetadas" e as dicas de moda brega da minha madrinha e fiquei mechendo no celular até estranhar uma coisa.
- Ei, cadê o Leo e a Lury?
- Eles foram de carro. - respondeu minha tia.
- Carro? O Leonardo sabe dirigir agora?
- Claro que sabe, menina. Você acha mesmo que esse tanto de gente ia caber em um carro só?
- Mas e o Lucas....
- Ele também sabe dirigir, sabe, Blend's?! Mas o medroso aqui não queria pegar pista fora da cidade. - disse a Nath enquanto olhava para ele.
- Hahahaha, que mentira. Eu só não quero gastar o dinheiro da gasolina. Imagina só o prejuízo?
O Lucas é um Julius da vida. Econômico até em comprar comidas embaladas para não aumentar o lixo produzido, e camuflando isso com "eu só ajudo a natureza. Coisa que vocês também deveriam fazer." E outros argumentos até pararmos em frente ao teatro.

O amarelo da parede. (Hiatus)Onde histórias criam vida. Descubra agora