Valentina Lennox
Estava recostada perto da janela, encarando o vasto campo verde que se estendia por quilômetros, nos muitos hectares de terra que nos pertencia. Eu tinha tudo na vida, mas a sensação de vazio que se apoderava de mim era forte demais para ser ignorada. Eu estava me sentindo só, abandonada, traída... tudo isso por causa de um homem.
— Eu estou indo. — Disse Victória.
Até então eu estava ignorando-a, ela estava arrumando as malas para partir para a faculdade em Russellville, Arkansas. Iria passar quatro anos fora, nos visitando apenas aos fins de semana. Ela queria independência e distância. Distância de mim.
— Aham. — Murmurei ainda encarando a paisagem lá fora. Um pássaro voava até seu ninho e alimentava seus filhotes, ele voou para longe algumas vezes e sempre retornava para ali, sempre para cuidar das pessoas que amam. Um dia, porém, esses filhotes aprenderiam a voar e abandonariam o pássaro e qual seria seu propósito na vida, seu trabalho agora era levar alimento até eles, mas quando eles se fossem? Será que ele ficaria tão perdido quanto eu?
— Você não vai se despedir? — Victória falou.
— Você disse que me odeia, não quero deixa-la nervosa me despedindo de você. — Falei ainda encarando a janela.
— Valentina, pare com isso. — Ela me puxou pelo braço para que eu a encarasse. Estava ali, meu reflexo bem na minha frente, ela não parecia mais a menina frágil que precisava de cuidados, ao menos na aparência Victória parecia mais forte do que eu, e acredito que por dentro ela também era muito mais forte.
— Não torne as coisas mais difíceis Victória. — Falei cruzando os braços no peito. — Você vai para a faculdade, não para o Iraque. — Falei com sarcasmo.
— Eu quero fazer as pazes com você Val, sei que fui injusta nas coisas que eu te disse aquele dia. — Dei de ombros.
— Eu já perdoei você Victória, então tchau e boa sorte. — Afastei-me dali e fiquei de costas para ela, encarando novamente a paisagem, porém lágrimas turvavam minha visão. Não queria que ela visse as minhas lágrimas, não queria que ela se preocupasse comigo, isso poderia lhe causar uma crise de asma. Eu queria que ela ficasse bem. Até mesmo com raiva dela por estar me deixando, eu ainda cuidava dela. Ela era a minha irmã afinal, ela era a minha outra metade.
— Eu te amo minha irmã, cuide-se....espero que você encontre seu caminho. — Ela me abraçou por trás e então se foi. As lágrimas escorriam por minhas faces livremente agora, eu comecei a soluçar e me encolhi no chão. Nunca em toda a minha vida eu havia me sentido assim. Tão perdida.
Sem minha irmã para proteger agora, o que será de mim? Qual a minha utilidade?
Quinze anos antes...
— Você deveria me dar um beijo. — Falou aquele garoto magricela e esquisito de doze anos.
— Eu não vou beijar você! Isso é nojento. Você tem um monte de espinhas. — Aqueles olhos azuis gigantes me encararam com espanto.
— Eu sei beijar, você não sabe.
— Não preciso aprender ainda. Tenho só oito anos.
— Com oito anos eu já tinha beijado três garotas.
— Mentiroso. Você é feio demais para ter beijado tantas garotas assim. — Falei e ele encolheu-se.
— Você é mais feia, sua irmã é muito mais bonita. Vou beijar ela.
— Você não vai beijar Victória. — Ameacei. — Quem você pensa que é vara espinhenta.
— Do que você me chamou?
— Vara espinhenta. Você tem essas espinhas nojentas e é mais magro que uma vara de pescar.
— É melhor do que ter cara de cavalo.
— Eu não tenho cara de cavalo. — Protestei irritada.
— Esqueça, estou perdendo meu tempo com a irmã errada, vou beijar sua irmã, ela é mais bonita e mais dócil.
— Você não vai beijar minha irmã e você acabou de dizer que me acha bonita. — Falei com orgulho.
— Você tem cara de cavalo, sua irmã é bonita. — Ele começou a andar e o segui.
— Nós somos idênticas.
— Não, vocês são muito diferentes, ela não é xucra como uma égua. Você é...
— Você não vai beijar minha irmã! — Repeti.
— E quem vai me impedir. — Revirei os olhos, ele tinha pernas compridas e por isso caminhava mais rápido do que eu, tinha que impedi-lo de beijar minha irmã. Não queria que ela pegasse sapinho.
— Eu, porque eu vou beijar você. — Falei e isso o fez parar.
— Eu não quero beijar uma cara de cavalo. — Disse ele.
— Ou você me beija e esquece a minha irmã, ou vou contar para o meu pai sobre seu plano. — Cruzei os braços no peito e comecei a bater o pé no chão.
— Vai ir correndo contar para ao papaizinho. — Zombou ele.
— Vou sim. — Ele ficou quieto quando viu que eu estava séria.
— Tudo bem, beijar você é melhor do que nada.
— Lá no estábulo, é mais escondido. — Sai correndo. — Quem chegar por último é a mulher do padre. — Disse e corri o máximo que podia.
— Você é baixinha mas corre. — Disse ele alguns segundos depois de ter me alcançado.
— Obrigada.
— Vamos nos beijar logo.
— Aqui, venha. — Subi em um degrau e indiquei a ele onde deveria ficar. Fechei meus olhos e fiz um biquinho, quando os lábios de Noah Fostes tocaram os meus, senti algo diferente, meu coração acelerou e minhas mãos suaram. Assustada fiz o que tinha em mente desde a hora em que aceitei beija-lo; empurrei o garoto no monte de estrume e sai correndo escutando seus gritos ficando mais baixos conforme eu me afastava.
Naquelas duas semanas de verão na casa do primo Logan, Noah e eu nos infernizamos. Ele colocou um sapo na minha cama, eu fiz ele raspar os cabelos por causa de chiclete e ele fez o mesmo por mim. Eu estava me apaixonando por ele, meu primeiro amor e por isso eu o afastei. Precisava cuidar da minha irmãzinha. Minha missão na vida era cuidar dela, sempre.
COMEÇOU, TEREMOS O PRIMEIRO CAPÍTULO NA TERÇA-FEIRA.
UM ABRAÇO MEUS AMORES, AMO-OS
OBRIGADA POR EMBARCAREM NESSA NOVA AVENTURA
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Surpresas do destino - Série Lennox - Livro 9 (Degustação)
RomanceDia 17/12/16 na amazon... Valentina Lennox é bonita, inteligente e rica. Para todos que veem de fora, acham que ela é a mulher mais feliz e sortuda do mundo. Mas por dentro Valentina está perdida... Valentina passou a vida inteira em função de...