Capítulo 26- Stray Strong

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A vida tem aquela mania chata de nós pregar peças né? As vezes você está tão bem pensando que talvez agora tudo ou pelo menos quase tudo decidiu ir ao sei favor e ela vem, dolorosa, machucando, estraçalhando te mostrando mas uma vez que é ela quem manda.
Te desmonta por inteiro, te joga contra a parede e mesmo que tudo comece a desmoronar ao seu redor, mesmo que o mundo caia na sua cabeça ela te obriga a ser forte.
Não importa se você perdeu o emprego dos sonhos, se o seu casamento foi ao fim, seu namorado te traiu, não importa se perdeu a tão sonhada vaga de emprego, se os seus amigos te deixaram ou se você simplesmente está a beira de ser despejado.. Ela não quer saber, ninguém quer nem todos se importam a maioria são só curiosos então apenas sorria e para todas as outras coisas.. stray strong (fique forte)

Até o percurso para casa eu já havia acumulado minha cota de ligações não atendidas do Dagner e do Rick já que eu apenas mandei um SMS avisando que estava voltando para casa.

Chego em casa arrasada, mas me responda quem não chegaria? Eu imaginei que ela fosse me odiar, mas ser tratada daquela forma? Foi demais até para ela.

- Como foi a viagem? - o Rick perguntou

- Ótima. Vim antes de uma semana porque senti saudades sua. - eu disse revirando os olhos e ele me deu um tapa na bunda
- Aí Rick, inferno. Doeu. - eu disse fazendo biquinho e ele me fez contar detalhe por detalhe do fracasso que foi conhecer a megera da minha sogra.
Sim, megera. Será assim que irei chama-la. Serei uma cabra sem sentimentos. Ele me olhou parecendo não acreditar que ela havia me tratado daquele jeito.

- Essa mulher e doente eu até entendo que ela tenha medo do filho namorar uma aluna mas tratar você dessa forma e o cúmulo venha, você precisa de pizza e sorvete. - ele disse se levantando e indo em direção a geladeira

- Eu escolho o filme. - eu disse gritando e indo em direção a TV

E eu não preciso dizer como esse capítulo termina não e mesmo?
Eu e o Rick jogados no sofá comendo e assistindo a filmes clichês.. até pegar no sono.

Acordei com o toque irritante do meu celular o procuro pelo chão já que eu e o Rick dormimos um em cima do outro no menor sofá da sala.
Acendo a tela é vejo que já são quase 14h da tarde e constam que tenho 27 ligações não atendidas do meu pai e isso faz o meu coração disparar antes que eu pudesse retornar a ligação a tela se acende novamente e eu atendo sem esperar que toque duas vezes.

- Papai? - eu pergunto nervosa e o ouço soluçar
- Minha Amorinha.. - ele fala com a sua voz mansa e calma mesmo soluçando e percebo que ele está chorando e isso já e motivo o suficiente para me fazer chorar também, meu coração aperta com o seu silêncio do outro lado da linha.
- Fala papai, fala!!! FALA!! - eu comecei a gritar desesperada fazendo o Rick acordar em um pulo e vir correndo na minha direção
- A sua mãe foi diagnosticada com um tumor no cérebro. - Ele me disse é de repente tudo ficou preto e branco, sinto uma vontade de cair e só consigo andar de um lado para o outro pedindo desesperadamente que aquela ligação não seja para o funeral da minha mãe.
- Maligno papai? - eu perguntei temendo a resposta. O Rick me puxou para sentar ao lado dele e pude perceber que eu estava tremendo sem ao menos saber a resposta do meu pai. Um silêncio tomou conta do outro lado da linha.
- Responda papai. - eu perguntei soluçando - Eu preciso saber..eu preciso.. - eu sussurro em meios as lágrimas 

- Não meu amor mas os médicos disseram que a cirurgia terá riscos e a sua mãe ouviu, não sabíamos que ela estava acordada então..ela..ela..- ele começou a chorar e a soluçar, pude perceber que ele tentava falar mas chorava ao mesmo tempo - Ela tentou se suicidar meu amor, e agora está internada e presa em uma camisa de força a três semanas com as mãos amarradas e com marcas dos seus cortes, como se fosse uma maluca e me dói vê-la daquele jeito e eu não posso fazer nada, eu estou vendo ela morrer aos poucos e eu não posso fazer nada para impedir isso, ela só repete que quer morrer e para que eu a deixar ir..- ele disso aos prantos e eu não consegui segurar o choro - Mas eu não posso deixa-la ir meu amor, ela é tudo para mim.
- Papai, quando ela volta para casa? - eu perguntei
- Segunda de manhã irei busca-la
- Estou indo para aí.
- Minha filha..- antes que ele pudesse terminar desligo o celular e ouço o Rick chamar um táxi e mesmo sem saber de nada ele arrumou as coisas dele e disse que viria comigo..
No caminho para casa contei para ele tudo oque aconteceu e que naquele momento nem os remédios iriam me fazer melhorar.. Era um embrulho no estômago, uma dor de cabeça, uma pontada da barriga, uma dor que não tinha explicação..
O problema é que quando as coisas vão bem, elas realmente vão bem..
Mas quando vão mal, realmente, dói.
Estava doendo, já imaginou acordar um dia com a notícia de que a pessoa mas importante da sua vida não estaria mas ao seu lado?
Mesmo sabendo que ninguém e eterno e que um dia todos irão ir embora, nem eu e nem você está preparado psicologicamente e emocionalmente para perder alguém..
Não importa quem seja ou o grau de importância que aquela pessoa terá para você, nunca será fácil demais aceitar a ida e a perda de alguém.

Desapega, Julieta.Onde histórias criam vida. Descubra agora