Alguns meses mais longos.
Eu continuava em estado catatônico, mas toda hora eu tinha que lembrar a mim mesma que eu podia ficar triste, mas tinha que ser forte e descobri que ser forte era uma droga. Meu marido sempre foi minha força, minha ancora. Ele sempre esteve por mim, quando perdi meu pai ele segurou a minha mão e não me deixou afundar.
Meu marido dizia que eu era o céu e ele o chão, costumava brincar dizendo que eu sonhava demais, eu sonho demais. Ele é o homem mais gentil que eu conheço e eu sou um poço de arrogância, as pessoas dizem que somos polos opostos, mas sempre nos completamos.
Era o meu pesadelo na terra, eu odiava hospitais, ficar nele com essa frequência me fez acostumar com ele. Meu marido não acordou no dia seguinte e nem nas semanas que se passaram, mas melhorou o bastante para não ter tantos fios nele, ainda estava pálido porem mais pela falta de sol do que outra coisa, e estava um pouco mais magro. Seu cabelo cresceu um pouco, o bastante para cobrir a cicatriz que a cirurgia deixou.
Nos primeiros dias, eu não ia embora, ficava ao lado dele ate me despacharem daqui, conforme ele saiu de risco, eu tinha que voltar a trabalhar.
Quando deu o horário de visitas algumas semanas após o acidente, tive uma discussão com sua mãe, se você quer saber eu nem lembro direito pelo o que discutimos mas confesso que teve haver com um pouco da minha arrogância mencionada acima, só sei que fomos barradas pelos enfermeiros de plantão, e então ficou decidido que ela viria de manha e eu a tarde visita-lo.
Nunca mais precisamos nos encontrar, eu também lembro que nunca fiz questão. Ela me culpava porque tirei o bebe dela na época com 24 anos de casa e o afastei dela, bom e eu dizia que ela se afastou por conta própria por que descobriu que ela era uma bruxa. Hoje ela me culpava pelo acidente dele, e eu não precisava disso.
Então foi o que eu fiz, de manha eu trabalhava ficava meio período enquanto a mãe dele ficava com ele, e depois vinha para hospital e ficava ate a hora de visita acabar. Eu estava definhando aos poucos.
Então em uma manha eu acordei diferente, me maquiei para ir trabalhar e me senti um pouco bonita, eu ate sorri um pouco para meus colegas. Senti que hoje era um ótimo dia e que meu marido não ia ligar se eu sorrisse um pouco, na verdade ele iria ficar furioso se soubesse que eu emagreci bastante desde o acidente.
Fui ao hospital, e levei uma caixa de bombom para dividir entre as enfermeiras. Foi quando eu notei uma mudança, e era no quarto dele, do meu marido. Com medo de alguma coisa errada, andei tão lentamente que uma tartaruga me vencia em qualquer competição de corrida.
Entrei em seu quarto, com o coração na mão, e rezando para Deus para que ele ainda estivesse vivo.
E ele estava, com os olhos abertos e me olhando entrar com algum interesse, não sabia que estava chorando ate senti-las pingando em meu rosto. Seus pais estavam ali, sentados e pareciam emocionados, enquanto eu chorava e sorria, já agradecendo a todos os deuses que me ajudaram, o ajudaram a se recuperar.
Estava pronta para abraça-lo quando ele me olha como se nunca tivesse me visto antes. Como se não fossemos casados a anos, então me paro, aquele olhar me parou, não era meu marido olhando para mim.
-Ben? Querido?
E ele franziu mais a testa e me solta à pergunta que acabou de me matar.
-Quem... Quem é você?-Confusa e despreparada, tinha certeza que era pegadinha.
-Querido..
-Não me chame de querido, mãe quem é ela?
E pela primeira vez, durante anos eu busco apoio em seus pais, tanto quanto eles buscam em mim.
O medico me disse algumas horas mais tarde que Ben teve um inchaço no cérebro, provocando coágulos, que foram retirados na cirurgia, porém deixou sequelas e uma dessas sequelas, foi esquecer partes da sua vida, de toda explicação que ele deu, a minha cabeça só conseguia pensar que ele se esqueceu de mim, esqueceu-se de nós. Eu estava me sentindo um tanto quanto egoísta, porque em algum lugar do meu cérebro eu sabia que ele estava sofrendo mais, que a minha dor não era nada comparada com a dele, mas eu só conseguia pensar que ele me esqueceu.
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Amnesia
Romance"Assim, eles já não são dois, mas sim uma só carne. Portanto, o que Deus uniu ninguém separe". Eu nunca acreditei em destino, isso era um fato. Para mim ou acontecia ou não, nunca deixei meu futuro nas mãos de ninguém. Exceto dele. Ele era meu mund...