Capítulo 8

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Nunca sabemos quando o nosso tempo vai esgotar, por isso vou te amar, como se eu fosse te perder.

Era isso, eu oficialmente era a senhorita Collins de novo, o tanto que eu fiz birra para que Ben me deixasse manter meu nome de solteira quando nos casamos, voltar com ele me deu uma dor de cabeça. Foram semanas e semanas só mudando os meus cartões de visitas, atualizando o meu RG e documentos, mudando o nome nas contas e fazendo as pessoas se acostumarem a ele.

Alguns amigos e antigos clientes, aqueles que não sabiam da historia, viviam me perguntando dele. E isso me deixava pra baixo, mas também deixou mais fácil na minha decisão de me mudar para outro canto. Eu precisava de outros ares, outras amizades, que não ficassem perguntando do meu casamento que já não existia mais.

Encontrei um apartamento em uma cidade de distancia, mas só poderia me mudar no final do ano, que era quando a minha empresa poderia me transferir para lá. Eu estava ok com isso, só teria que informar ao advogado quando eu iria me mudar, para que pudesse avisar ao Ben.

Eu continuava no automático, trabalhava saia para uma bebida com uns amigos e só ia para casa para dormir. E isso virou a minha rotina, eu não fazia ideia de como o meu corpo podia estar funcionando sem um pedaço da minha alma.

Meu telefone tocava constantemente, e a caixa de mensagens estava lotada. Eu não queria saber quem me ligava, estava ate pensando em mandar cortar. Se fosse importante a pessoa deveria ter o meu numero de celular, então eu não me preocupava.

Para me distrair nos dias de folga eu fazia ioga e era ótimo, tanto que eu comprei o equipamento para fazer em casa, quando não tinha mais lugar para ir. Evitava constantemente minha sala, foi lá que Ben e eu fizemos amor pela ultima vez, e eu não queria lembrar, na verdade eu não queria mais pensar nele. Sempre que meu coração enganava meu cérebro para coagi-lo a lembrar de cinco anos atrás, eu inventava outra coisa para fazer.

E o tempo passou, e quando dei por mim eu estava recebendo cartões de aniversário. Eu estava com 31, quase dois anos após o acidente e eu mal percebi os 30 chegando. Recebi um buque enorme, assinado B.L.B que eu não só joguei fora, como também fiz questão de queimar. Não precisava de mais dor do que já sentia.

A vida voltou ao normal, quer dizer, tão normal quanto ela poderia ser para uma mulher que se separou a pouco do amor da sua vida. Eu conseguia ate rir um pouco, mas sempre faltava algo quando eu chegava em casa, era uma felicidade superficial. Mas pelo menos eu já quase não sofria mais.

Algumas amigas me arranjaram encontros, e eu ate gostei de um, tanto que marcamos um segundo, eu me senti como se estivesse alguém me olhando, mas não via ninguém. Quando saiamos do restaurante parecia que tive um vislumbre do Ben, e então não aconteceu nada. Mas ele disse que iria me ligar, e eu meio que fiquei ansiosa para sair de novo.

Eu estava conseguindo, aos poucos eu sabia que iria conseguir, pedi para alguém embalar tudo o que pertencia do Ben para enviar para ele, mesmo que esse novo Ben odiasse as roupas que o antigo usava, pertencia a ele, se ele quiser doar, tanto faz. Eu já estava começando a embalar aos poucos tudo o que era meu também, o fim do ano estava perto e eu estava ansiosa para recomeçar. Estava na hora de me mudar.

Minha nova casa, assim como toda nova casa, era de uma cor só, mas o dono me permitiu pintar da cor que eu quisesse, das cores que eu escolhesse desde que não manchasse o tapete, que era uma peça antiga.

E pela primeira vez em dois anos, eu estava muito animada, eu gostava do desafio, de conhecer pessoas e de pintar a minha nova casa. Mas o mais engraçado disso tudo era que, o meu advogado não ligou para buscar os papeis do divorcio.

Mas isso não importava, eu queria começar com o pé direito e nada iria me impedir. E era isso que eu estava fazendo, terminando de arrumar minha mala precisava fazer uma viagem ate a minha nova casa para resolver toda a papelada, e foi quando o convite chegou.

Eu não liguei muito e primeira, mas algo me chamou a atenção, a carta que veio junto. Então eu abri.

"Querida Jessica, querida não, nós duas sabemos que eu nunca te chamei de querida. Sempre fui contra seu casamento com o Ben, e desde o começo deixei bem claro. Te culpei quando eu não devia culpar ninguém por amar o meu filho, Fui grosseira diversas vezes com você que se minha mãe estivesse viva, ela teria me dado umas palmadas.

Eu não deveria te tratar do jeito que te tratei, mas eu sou uma mãe, e as mães tendem a se intrometer nos assuntos dos filhos quando acham que sabem mais. Eu estava errada Jessica, tão errada que perdi contato com meu único filho por anos, e tudo o que eu ganhei por não aceita-la foi dor. Mas mesmo assim, mesmo não aceitando você, eu poderia ver o amor de vocês de longe, qualquer um podia ver, e com isso veio à inveja.

Sim, eu sentia inveja por não ser amada assim de volta pelo meu marido, não que ele não me ame, mas não era igual ao de vocês.

Então veio o acidente, e ao em vez de ficar ao seu lado, eu te culpei mais uma vez, me desculpe por isso também eu não sabia o que era ter limites. Foi então que eu vi a sua luta, por mais difícil que pareceu você nunca desistia, eu estava cansada, mas você não. E quando Benjamin acordou, eu olhei nos seus olhos e mais uma vez você me surpreendeu porque ao em vez do alivio, eu vi amor.

Quando eu te aceitei, quando eu finalmente te aceitei em mim, no meu coração com nora, meu Ben já não conseguia se lembrar de nada que envolvesse você. E eu senti culpa, por todos esses anos rezar para ele cair na real e voltar para nossa casa, quando ele veio, eu já me sentia culpada e não queria isso, queria que ele voltasse a você. Por isso te mantinha informada.

Eu vejo hoje o meu filho, se sentindo mais uma vez como se algo lhe faltasse, mas não sabendo o que. Ele não se lembra, é claro, mas esta do jeito que ficou um pouco antes de conhecer você.

Eu estou te mandando o convite, mas não porque quero te machucar, mas porque quero que você faça algo, eu suplico para não deixar que ele cometa esse loucura.

Esperando que você me desculpe, por tudo.

Mirian."

O tanto que eu estava tocada, com esse pedido de desculpa, esse foi o pedido de desculpa mais estranho que já recebi, eu estava confusa, tão confusa que quase me esqueci do convite que veio junto. Quem dera tivesse esquecido.

"Manuella & Benjamin convida você para celebrar essa união."

Eu não precisava ler o resto, para saber do que se tratava. Eu nunca tinha desmaiado, nem quando Bem entrou em coma. Então pela primeira vez na minha vida, eu desmaiei.

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