Capítulo 9

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Se você não me ama, finja.

Eu li um livro sobre traição uma vez, fiquei tão perturbada que eu tive um pesadelo com isso, sonhei que o meu marido estava me traindo, e então pediu o divorcio. Eu fiquei tão brava, mais tão brava que eu o acordei Ben nos tapas, quando contei a ele, ele riu tanto mais tanto que saiu lagrimas dos seus olhos e disse:

"Eu jamais trairia você Jess, você me viciou nessa sua buceta. Meu pau só funciona com você amor, relaxa." Então eu bati nele por usar palavras rudes na cama, o que o fez rir mais.

Eu segurava aquele convite como se fosse uma ofensa, ele ficava lá olhando para mim como te estivesse zombando, e eu estava com raiva. Como Mirian me manda algo assim? O que ela queria que eu fizesse? Francamente, eu estava começando a ficar tocada pela sua carta, mas puta que pariu, isso era doentio. Eu queria acabar com a dor, e não reforça-la.

Eu não iria, não podia ir, não podia vê-lo se casando com outra, não podia ver se casando com ela, aquela manipuladora, projeto de puta. Deus, Ben queria me matar.

Eu iria escrever um cartão mandando felicidades e só, ou nem isso. A minha magoa com a vida era tão grande que eu pensei por um breve momento em acabar de vez com isso. Mas eu não podia, não fui criada para ser uma covarde.

Peguei o convite mais uma vez e olhei a data, ótimo, seria daqui a dois dias. Um dia antes de me mudar, que conveniente me mandar o convite, agradável como gosto de vinagre, assim como minha ex-sogra. O lado bom do divorcio era esse, chamar Mirian de ex-sogra, aquela bruxa velha.

Não, eu não iria mais pensar nele, nem no convite nem na puta e nem em ninguém. Eu iria beber alguma coisa, ou fazer sexo com o primeiro cara que me aparecesse, na verdade eu poderia muito bem fazer os dois. Sim, eu iria beber e transar sentia falta de ter orgasmos que não fosse com o vibrador que eu ganhei de aniversário.

A quem eu queria enganar, eu era ridículo, uma tola apaixonada que trancou com cadeado sua vagina e deu de presente para o cara sem memoria, que não fazia ideia onde estava a chave. Isso era patético, eu queria chorar por ser tão tonta, essa coisa se amar estava acabando comigo. É melhor ter amado e perdido do que nunca ter amada a minha bunda, o amor que eu sentia estava me destruindo, é isso o que você ganha por amar, dor.

Eu não precisava disso, não precisava me lembrar de como tudo era antes dele perder a memoria, eu estava farta e Deus me ajude, se eu pudesse perderia a memoria também.

Eu já tinha decidido que não iria, então porque a frase da Mirian pedindo para que eu fizesse alguma coisa martelava a minha cabeça? Não vá lá Jessi, apenas não. Eu tinha que sair de casa, e foi o que eu fiz, parei em um bar e comprei uma garrafa de Jack Daniels, e foi a um lugar que somente Ben e eu conhecíamos. O lago.

O lago ficava perto de casa, e usamos varias vezes a noite para nadarmos nus e beber, foi lá que ele me mostrou o esboço para a tatuagem do meu rosto em seu braço, e foi lá que ele me pediu em casamento. Lá tinha tantas lembranças quanto minha casa, mas eu já não tinha lugar nenhum para ir, não a essa hora no meio da noite.

Eu abri a garrafa e tomei um gole, céu, aquilo era horrível, e então tomei outro ate esquecer onde eu estava, ate eu me esquecer da dor, ate eu me esquecer dele.

Acordei com uma luz na minha cara, uma luz bem forte que fez meus olhos arderem, já tinha amanhecido e eu ainda estava aqui, quando foi que choveu? Bom não importa, eu iria para o trabalho e não iria pensar mais nisso.

O convite ainda estava lá, exatamente onde eu deixei, não sei o que eu estava esperando, mas aquilo me deu uma dor familiar. Ignorei e fui me aprontar, o que se tornou uma tarefa impossível já que eu olhei para a cama e já queria me jogar nela. Na verdade faltar era o que eu precisava faltar, avisaria que peguei uma gripe forte e estava de cama e era isso.

Notei que tinha uma ligação perdida do meu advogado, e não queria lidar com isso, não hoje e nem amanha, por isso o desliguei de vez. Eu estava totalmente incomunicável, eu ate não atendi a porta quando vieram bater, eu só sai para comprar outra garrafa de Wisky e me afogar nela.

Acordei parecendo a morte, não sabia que a morte acordava cedo mas foi isso o que eu pensei ao me olhar no espelho. Hoje era o dia. Eu estava desesperada, coisa de ultima hora, ficava me torturando, pensando nela com ela, nele e seus bebes perfeitos, na sua casa perfeita. Deus, era por isso que ele queria a minha casa? E se eles decidissem morar aqui, eu queria vomitar só de pensar na possibilidade, Benjamin era um porco, e eu uma tola.

Eu pensei que, o deixando obter o divorcio sem uma luta era o melhor para ele, eu o amava e queria a sua felicidade, mas eu não podia, não podia fazer isso, eu não podia deixar isso acontecer, eu precisava fazer alguma coisa.

E eu fiz, dirigi horas pegando o convite e algumas roupas e fui para o meu novo apartamento. Eu na verdade não poderia fazer nada, nada mais adiantava, não em poucas horas para o casamento. Mas ironicamente, o meu apartamento era o lugar mais perto da igreja onde aconteceria o casamento.

Oh Deus, ele iria mesmo se casar, daqui a algumas horas meu Benjamin iria se casar, o meu marido iria ser marido de outra pessoa, ter filhos dessa outra pessoa. Eu finalmente entendi, o que era estar destruída, não sobrou mais nada.

Não, sobrou sim, eu não poderia deixa-lo, eu tinha que lutar mesmo que seja pela ultima vez, eu tinha que lutar pelo meu passado, eu tinha que lutar por ele mesmo sem memoria. E eu era uma boa lutadora.

Peguei meu melhor vestido de festa, ultrapassei o limite da velocidade e cheguei na igreja bem a tempo de vê-lo entrando. Não, ainda não era tarde demais e então eu juntei toda força que eu tinha e gritei seu nome:

-BEEEEEEEN

E ele olhou e sorriu aliviado em me ver.

- Jess, você chegou bem a tempo!

G@

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