Capítulo 1 - A Partida

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ERIC

Talvez o modo como vemos o mundo seja só o que verdadeiramente nós somos, talvez devêssemos andar sem olhar pra trás. Eu queria poder dizer que sempre estaria aqui, queria poder amar mais do que consigo, queria aguentar mais do que posso, queria tê-lo como sempre quis. Tudo tem um propósito, tudo tem um caminho, mesmo que as quedas sejam ferrenhas, todos passamos por águas fundas, e eu como lobisomem me afoguei.

Eu acordei, Diego estava dormindo, sua respiração estava leve e harmoniosa e seus olhos estavam fechados. Deslizei meus dedos sobre sua pele branca, macia como seda, cheirosa como morangos e jasmins. Levantei e vesti minha roupa. Sentei-me ao lado de Diego novamente, e fiquei observando-o. Eu não deixei de acreditar em tudo de ruim que aconteceu com Diego. Eu estava anestesiado, toda uma culpa pesava em minhas costas, eu estava traumatizado.

Eu morri por um momento em saber que ele não estava mais em meu mundo, ele não respirava mais o mesmo ar que eu. Eu sempre quis proteger ele de tudo, mostrar que sempre suportaria o peso do mundo por nós dois, mas eu não o merecia, eu não fui capaz de salvá-lo da escuridão. Eu sempre soube que o salvaria, ele sempre estaria em meus braços, ele sempre seria meu. Mas ao pesar das consequências, me vi fraco, e impotente; eu não aguentava rever todas as coisas ruins. Talvez eu devesse morrer no mundo dele, evaporar de sua vida. Talvez esse seja o meu modo de proteger Diego, o deixando sozinho.

Isso não seria fácil, devido ao fato dele, ser meu companheiro, e eu amá-lo mais que tudo em minha vida, mas o que são das conquistas sem sacrifícios? Eu sabia que isso o faria sofrer, mas com um tempo ele se acostumaria com minha ausência, talvez ele arrume outro cara pra fazê-lo feliz sem o colocar em perigo. Imaginar Diego com outro cara que não fosse eu, o tocando, o cheirando, o amando, me fazia sentir ódio. Nem eu, nem meu lobo gostávamos da ideia, mas se isso fosse necessário para mantê-lo seguro, assim seria.

Inclinei-me sobre ele dei um beijo leve em seus lábios vermelhos, dei um beijo em sua testa e os mantive ali por algum tempo. Só queria me despedir. Peguei uma folha em branco, e uma caneta em sua escrivaninha, e escrevi para ele o que eu sentia, e o que eu tinha esperanças de que ele entendesse e se confortasse. Deixei a carta no travesseiro ao lado do que ele dormia. Beijei sua testa novamente, e saí pela janela, correndo o mais rápido que podia. Corri para minha casa e arrumei uma mochila com algumas coisas, escrevi outra carta e a deixei no balcão, minha mãe não estava em casa, mas veria quando chegasse do hospital.

Fui até a casa de David, pulei em seu quarto. Ele estava deitado, seu rosto estava cheio de hematomas, e o braço enfaixado, tudo aquilo feito por Albert. David sempre foi meu melhor amigo, ele era como um irmão; nos metíamos nas piores enrascadas, mas sempre que um ficava com problemas, o outro ajudava. Lembro de uma vez quando tínhamos dez anos, e estávamos jogando beisebol, e David quebrou a janela da senhora Florence. Assumi a culpa porque o pai de David havia falado que se ele aprontasse mais uma nós não nos veríamos mais, minha mãe apenas me deixou de castigo por uma semana. Eu sempre pude contar com ele, e ele comigo.

– David – o chamei.

–Hã? Oi? Sai daqui cachorro mau – ele falou levantando assustado.

– Calma cara sou eu, Eric.

– Cara, isso é hora de uma visita?

– Preciso de sua ajuda.

– O que é?

– Sabe aquele seu primo que vende motos?

– O Burner?

– É esse mesmo, preciso que me leve até a casa dele, quero comprar uma moto.

– Por que diabos você quer uma moto, e há essa hora Eric?

– Eu vou embora. – falei seco.

Darkness of Heart | Livro II | Romance GayOnde histórias criam vida. Descubra agora