Capítulo 3 - Medo

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Sem dúvida eu estava com medo. Medo de perder meus amigos, de ficar sozinho, de estar me tornando uma pessoa ruim ou indesejável. A verdade é que eu não era popular, me tornei por andar com o Filipe.

Ele sim era popular, conhecia todo mundo, recebia convites para festas, era muito considerado pelos professores e pelos alunos do terceiro ano. Eu consegui muita coisa através dele, aprendi palavras difíceis, cultura, músicas legais, bons filmes, lugares legais para passear e até boas maneiras.

No sábado eu tinha uma partida com uns colegas do bairro vizinho, eu estava sem vontade nenhuma de ir, mas fui apenas porque já tinha pagado e marcado com os rapazes. O jogo foi bem sem graça e eu quase não fiz nada para melhorar a partida, terminou no zero a zero, voltei para casa, por sorte minha mãe tinha se comprometido a sair com minha avó e meu pai iria trabalhar ás seis horas da tarde.

- Filho posso entrar? – Meu pai perguntou batendo na porta do meu quarto.

- Pode – Falei enquanto mexia no computador.

- Está tudo bem? – Ele perguntou parando ao meu lado encostando o corpo no armário.

- Está sim pai – Respondi olhando fixamente para a tela.

- Tá bom – Ele falou com incredulidade – Você mal comeu a comida, não quis lanchar e não comeu o bolo que sua mãe fez – Eu tentei argumentar, mas meu pai interrompeu – Sei que o bolo dela não é lá essas coisas, mas você come até pedra.

Rimos juntos. Desliguei a tela do computador e deixei o corpo relaxar na cadeira.

- Eu estou pensando umas coisas pai, ta tudo meio embolado e eu nem sei por onde começar a resolver – Falei vagueando.

- Filho – Ele pôs a mão no meu ombro – Começar do começo nem sempre é o mais certo, comece pela parte mais importante e se valer a  pena não desista, pode ser difícil, mas tente até o fim.

Balancei a cabeça na afirmativa e tive vontade de chorar.

- Vou te deixar jogar, daqui a pouco to saindo pra trabalhar, se cuida garoto, amanhã de manhã eu estou aí – Meu pai beijou minha cabeça e saiu.

Eu não sabia o que fazer então aproveitei o silêncio da casa e fui tomar banho no banheiro dos meus pais porque lá tinha água quente, fiz uma coisa que Filipe sempre dizia que fazia durante seus banhos, sentei no chão e deixei a água cair, como ele costumava dizer aquilo era lúdico, a vida toda parecia passar na nossa mente e foi ali a primeira vez que eu pensei: o que eu to fazendo da minha vida.

Sai do banho, fiz a barba e vesti uma cueca sunga – ou sungão como chamam por aí -, eu gostava desse tipo de roupa íntima, pois é um pouco menor que a cueca boxer e é justa, calcei meus chinelos e fui andar pela casa, eu estava tão tenso que não parava quieto, ficava caminhando de um lado para o outro.

Parei na sacada e fiquei olhando a rua, por sorte nos cantos da varanda do apartamento havia um parapeito de alvenaria que ia até a altura da minha cintura o que permitia que eu ficasse ali espiando a vista apenas de cueca sem que ninguém visse.

Voltei para o meu quarto e deitei, fiquei olhando para o teto e pensando na vida, a luminária de teto clareava o ambiente. Minha cama ficava de frente para a porta e ao lado da abertura tinha um porta fotos de parede, no centro do objeto estava escrito friends e em volta tinham seis fotos, minhas e de Filipe, ele havia me dado de presente no dia do amigo do ano anterior.

Levantei e fui olhar as fotografias. Havia uma foto nossa no parque aquático, duas no aniversário dele de quinze anos e duas na minha partida final do campeonato juvenil e uma nossa no cinema. Fiquei olhando aquilo e caiu uma lágrima dos meu olho.

DE AMIGO PARA NAMORADO - DescobertasOnde histórias criam vida. Descubra agora