Capítulo 2 - Raiva

9.5K 1K 2.7K
                                    

Minha vida mudou, eu era outro. Meus olhos deveriam ser vermelhos de tanta raiva, passei a odiar o Filipe e não queria vê-lo na minha frente por nada nesse mundo. Eu estava odiando toda aquela situação, não era possível, eu deveria ter pegado algo, Filipe devia ter me passado alguma doença gay.

Fui até o banheiro me olhar, entrei e tranquei a porta, apaguei a luz de teto e acendi a luz do armário de banheiro, olhei para o meu rosto e vi que estava a mesma coisa, tudo como sempre foi, deveria ser algum tipo de microorganismo sentimental, mas eu não sentia nada de diferente.

Resolvi ir para casa dos meus avós, eles eram muito sábios e experientes, eu não precisaria falar nada, se tivesse com alguma coisa eles falariam, eram perfeitos.

Meu pai estava em casa e só iria trabalhar no outro dia pela manhã, arrumei minha mochila com meu material escolar, não precisaria levar roupas já que na casa dos meus avós tinha um quarto para mim e haviam bastantes roupas.

Troquei de bermuda, coloquei uma camisa de malha preta, boné virado para trás, calcei o par de chinelos e saí em direção a porta.

- Mãe e pai, vou dormir nos meus avós - Falei.

- Como assim filhote? – Minha mãe perguntou curiosa.

Meu pai se levantou e veio em minha direção, pôs a mão sobre meu ombro. Pronto, ele tinha visto que eu era uma bichinha!

- Está tudo bem? – Indagou enquanto me olhava.

- Vou deixar vocês namorarem á sois – Falei baixinho.

- Ô filhão – Meu pai me abraçou – Então tchau.

- Tchau mãe, se cuida em – Pisquei para ela e saí.

Aproveitei o tempo da caminhada para pensar, nós morávamos próximo dos meus avós, a casa deles ficava quatro quarteirões depois da escola, em vinte minutos eu estaria lá.

Vó Rosa e Vô Luiz eram o núcleo familiar mais distinto que eu já vi. Antes de nos mudarmos meus pais moravam numa casa e minha avó morava na pequena casinha que havia nos fundos do terreno, no ano que completei quatro anos de idade o terreno do meu avô foi desapropriado para a construção de uma praça. Então ele veio morar conosco.

Meus pais contaram que logo ficou insustentável ter no mesmo terreno uma criança, uma mulher, um homem e dois idosos, então eles passaram a procurar um lugar pra se mudar e acharam o apartamento que hoje moramos. Assim mamãe deixou sua mãe na casa e papai deixou seu pai também. Todos pensam que eles são casados, mas são literalmente velhos amigos.

Eu estava chegando e ficava cada vez mais nervoso. Vó Rosa e Vô Luiz eram capazes de sentir qualquer coisa, acho que a idade acrescenta poderes as pessoas.

- Meu neto lindo – Minha avó falou assim que me viu.

- Ei garotão que bela surpresa e que olhar tenso – Brincou meu avô.

- Vocês são os melhores! – Falei sentando no sofá.

- Você veio correndo, está me parecendo aflito ou até agitado, são os hormônios não são? Vovó fará um chá de camomila – Ela falou indo para a cozinha.

- Pegue os biscoitos Rosa, o garoto deve estar com fome - Meu avô falou me abraçando.

- Bolacha! – Ela respondeu alto.

- Não vão começar! – Falei e eles riram.

Lanchamos juntos e rimos bastante, eles estavam assistindo aqueles programas que gente velha gosta de ver no domingo à noite, relembramos o passado e o chá fez efeito neles, em mim não, ao sentir os olhos pesarem meu avô se recolheu para o quarto.

DE AMIGO PARA NAMORADO - DescobertasOnde histórias criam vida. Descubra agora