Prólogo

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Eu sou o tipo de pessoa, que as outras pessoas classificam como "politicamente correta". Eu não furo filas, dou meu lugar no ônibus para pessoas que precisam mais que eu, sempre confiro o troco que recebo para saber se não estou levando a menos ou a mais. Eu sigo as regras. E nem vem com essa de que regras foram feitas para serem quebradas, são pessoas com esse tipo de pensamento que destroem o nosso país, e se você pensa assim, eu espero sinceramente que não reclame quando descobre algum escândalo de corrupção na política.

No meu pensamento, as regras foram feitas para serem seguidas.

Por mais que mesmo tendo esse pensamento, eu tenha quebrado a regra número 1 da lista dos meus pais.

Quando eu estava para começar o primeiro ano do ensino médio, meus pais, Murilo e Leandra, me levaram um mês antes das aulas começarem, para fazer a compra dos materiais.

Antes de tudo, você precisa saber que meus pais são o que eu classifico como "Casal Intensidade". Digamos que eles exageram em algumas coisas.

Eles me fizeram comprar um caderno de dez matérias para cada disciplina. Compraram tantos lápis com grafites de numerações diferentes, que não precisei comprar mais nenhum durante o ano todo. Eles até compraram uma caixa de lápis de cor com trinta e quatro cores! Como se eu realmente fosse precisar de tantas cores assim para uma única aula de artes na semana toda.

Quando voltamos para casa carregados com as sacolas cheias de coisas que, na maioria eu considerava supérfluas (eu só amei muito mesmo, a minha mochila vermelha com desenhos de joaninha) eles me fizeram sentar no sofá, enquanto se sentaram no outro a minha frente, para termos o que eles disseram ser "Uma conversa muito importante, sobre minha nova vida"

Segundo eles, os três anos de ensino médio são os mais importantes na vida de uma pessoa, e justamente por serem os mais importantes, a maioria dos adolescentes acabam por destruir um futuro brilhante simplesmente por acharem que não tem de seguir as regras. Eles pensam que não tem obrigações para com os deveres de casa, que não são obrigados a manter matéria em dia, que podem se deixar descansar das aulas de educação física. E! O MAIS TERRÍVEL DOS MOTIVOS PELOS QUAIS OS ADOLENCETES ACABAM COM UM FUTURO PROMISSOR...

Envolvimentos amorosos...

Minha querida mãe até fez uma pausa drasticamente dramática quando disse essa frase.

Eu tinha uns dezesseis anos, já tinha tido uns rolinhos, mas nada que eu chegasse a pensar que pudesse ser sério. Na verdade, aos dezesseis anos eu tinha beijado uns três garotos ao todo.

Mas voltando pra história...

Meu pai continuou a nossa conversa usando alguns exemplos que tínhamos na família. Minha prima Alice, arrumou um namorado no meio do primeiro ano, tudo seguiu bem até que o cara cansou dela e eles terminaram. Resultado? As notas delas se jogaram de um precipício e ela repetiu de ano.

Meu tio Carlos, irmão do meu pai, era um cara que digamos, "atirava pra todo lado" na época do colégio, e o pior, geralmente ele acertava muitas meninas ao mesmo tempo. Ele estava sempre tão concentrado em suas vítimas que não ligava para os estudos. Resultado? Dependência em mais de três matérias, ou seja, ele repetiu o segundo ano.

Meu pai ainda falou de tantas pessoas (a maioria eu nem conhecia) que eu não consigo me lembrar de metade delas. Quando finalmente ele se deu por satisfeito minha mãe voltou a falar.

Ela disse que, se eu quisesse ter um futuro acadêmico descente e satisfatório eu deveria riscar qualquer tipo de relacionamentos amorosos dos próximos três anos da minha vida. Qualquer mesmo, passageiros, sérios, amizades coloridas. A qualquer sinal de envolvimento que pudesse ir além da boa e velha amizade, eu deveria dar o fora.

Essa foi a regra numero 1.

Levei isso numa boa, afinal eu sempre considerei a maioria dos garotos um tanto quanto infantis, tanto que esses três garotos com quem me relacionei eram pelo menos um ano mais velhos que eu. Então, naquele momento eu achei que fosse ser moleza.

Meu pai ainda continuou dizendo que eu deveria sempre ter notas acima de sete, não ter nenhuma anotação, advertência e muito menos expulsão.

Essa foi a regra número 2.

Se eu seguisse essas duas regrinhas eu teria a liberdade de uma adolescente normal. Poderia ir a festas, sair com amigos e tudo que me desse vontade, desde que não houvesse perigo de acabar com meu futuro promissor.

Então, eu concordei. Afinal, ninguém precisa necessariamente de um namorado durante o ensino médio. Anotei as duas regras em todos os cadernos, para mante-las frescas na cabeça.

Fico pensando que eu tinha que seguir duas regras, quer dizer, as duas mais importantes. Já que eu sou uma menina centrada e que faz tudo certinho pelo bem da humanidade, foi tecnicamente moleza. A não ser por um detalhe...

Achei que ele fosse desistir, achei que tivesse arrumado alguma garota maravilhosa estilo atriz global da Malhação nas férias. Por que ele teve que continuar tentando?

Ele vive rodeado por abutres, quer dizer, por meninas maravilhosas que o olham como se ele fosse um pedaço de carne ou de chocolate.

POR QUE ELE TINHA QUE CISMAR COMIGO?

E o pior, me fazer cismar com ele também. Se pelo menos eu tivesse dado um jeito de impedir aquele mané de me coagir a aceitar o pedido de namoro.

"Ninguém pode saber que estamos juntos"

Ainda ouço minhas palavras para ele, e ainda sinto seu toque segurando meu rosto e sua voz me dizendo que as pessoas só saberiam quando eu quisesse...

Nos vemos pouco, e disfarçamos muito. Tenho medo do que pode acontecer se meus pais descobrirem que dei o braço a torcer no último ano.

Não que eles possam mal a Bernardo, mas eu sei que se eles descobrirem, não vão me apoiar, e vão ficar como águias em cima de mim para saber se minhas notas continuam as mesmas, e qualquer dificuldade que eu tiver dirão que a culpa é do garoto, e definitivamente eu não quero isso...

Podemos guardar o segredo. Basta que sejamos invisíveis para todos que eu conheço.

Bernardo tem tentado me convencer a sair com ele, e eu estou muito tentada aceitar, ainda mais que ele vem me dizendo umas coisas no últimos dias...

"Eu sei de lugares onde não vão nos encontrar. Sei onde podemos nos esconder"

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