Capítulo 7 - Piadas Internas de um Namoro Escondido

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Eu quero muito acreditar que Poli apenas está imaginando coisas. Porque, se paramos para pensar, não é de se assustar que não tenham nos colocado no tal grupo. E nós não fomos as únicas. Algumas outras pessoas também não foram, mas Poli teima em dizer que tem alguma coisa errada na história. E eu tenho passado os dias desde aquela competição louca na pista de skate, me convencendo de que não, ninguém além de Poli sabe sobre mim e Bernardo.

Acabando que aquela queda me resultou uma torção leve no pé e eu fiquei mancando por uns dois dias. Tive que mentir de novo, e disse para os meus pais que torci o pé na escada quando fui abrir a porta para Poli. Mas na segunda de manhã eu já estava conseguindo andar, puxava um pouquinho o pé direito, mas fui pra escola mesmo assim.

Poli não perdeu tempo, e logo contou para Bernardo suas suspeitas. Mas ele também não acredita que ela esteja certa. Pelo menos é o que ele deixou transparecer.

Mesmo nenhum de nós dois acreditando muito nas suposições da minha amiga "detetive" resolvemos parar com essas fugidas. Sei que as chances de alguém ter descoberto sobre nós dois são pequenas, mas se ela existe, pode ser que se continuarmos dando bobeira alguém realmente descubra. E também, nem temos tido muito tempo. Passamos os últimos dias estudando para a prova bimestral do estado, nossos encontros tem sido rápidos, e eu voltei a usar um chapéu e os óculos de coração em todos eles em que Poli não está por perto. Para compensar esse afastamento, Bernardo passa os dias comigo e com Poli na escola. Mas não é a mesma coisa.

A cada dia me sinto mais injustiçada. A cada dia eu vejo como essa ideia de regra e ridícula! A cada dia que passa eu quero logo que as semanas voem e que meu aniversario chegue, depois a formatura, e finalmente minha liberdade.

Não posso mentir pra mim mesma. Tenho que admitir que estou com medo. E de muitas coisas. Eu poderia até fazer uma lista.

Eu tenho medo de ser descoberta. Tenho medo de decepcionar meus pais. Tenho medo de que Bernardo se canse desse jogo de esconde-esconde. Eu sei que muitas meninas gostariam de estar no meu lugar, sem nem mesmo saber que eu tenho esse lugar. Desde o começo foi assim.

Eu assisti os abutres rondando Bernardo, como nuvens negras, sorrateiras. Tentando descobrir porque ele não se interessava em nenhuma delas, porque ele não queria ficar com ninguém. Isso muito antes de eu aceitar o pedido dele. Sempre com sorrisos para ele, abraços e beijos.

Depois que eu aceitei, não sei bem o que ele fez para diminuir isso, mas ele fez alguma coisa. Pois elas não são tão óbvias como antes, mas ainda assim, muitas atitudes me incomodam. Até a voz que elas fazem para ele tem segundas intenções. Ouvi, no banheiro da pista, quando uma delas o chamou pelo apelido que ele detesta, Be, e ele não fez nada.

Será que eu estou brincando com fogo? Será que o que eu sinto pode me queimar? Me machucar? Será que no fim das contas meus pais estarão certos?

−Ise! A minha nerd mais gata do colégio!

Sou impedida de continuar meus devaneios por Léo, que vem saindo do banheiro masculino.

Estou sentada em frente a quadra, onde eu sempre fico quando estou sozinha. Tem pouca gente no pátio agora, a maioria ainda está em sala tentando terminar a prova do estado.

−Oi Léo. –respondo olhando para ele enquanto ele vem na minha direção.

−Você é rápida, hein. –ele fala levando a mão ao meu rosto e puxando para um beijo na bochecha.

I Know Places [Projeto 1989]Onde histórias criam vida. Descubra agora