Capítulo 10 - Dois cinco e seis

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Estamos sentados em uma das mesas do refeitório, Poli, Bernardo e eu. Poli come distraída a nata de frango que comprou na cantina, Bernardo segura o pacote de biscoito recheado sabor maracujá, mas não tira os olhos de mim. E eu, bem, eu só estou fazendo companhia enquanto eles comem. Não consigo parar de pensar nas coisas que o Léo me disse, não consigo parar de pensar que nesse momento meus pais podem estar descobrindo, e o que mais me perturba, quem transformou minha vida num inferno.

−O que é que você tem, Ise? −Poli pergunta, enquanto pega um biscoito de Bernardo.

Apenas balanço a cabeça negando que haja alguma coisa. Não quero ser a que fica batendo numa tecla só o tempo todo.

−Ela ta assim desde de manhã. O Léo estava falando com ela quando cheguei. −Bernardo responde me encarando. −O que ele queria hein? Eu não quero que ele chegue perto de você, Ise. Tudo bem que antes ninguém sabia de nós. Mas agora é diferente, ele fez você sofrer, te expôs. Eu não ligo pra mim, mas ele te magoou. Eu não o quero perto de você.

Olho para Bernardo sem saber o que dizer ao certo. Ele não disse isso em tom de ciúmes, mas foi sério. Ele está realmente irritado com a situação.

−Essas pessoas te encarando. Como se a gente estar junto fosse algum tipo de crime. Eu daria tudo pra saber como nossas fotos foram parar naquele telão.

−Esquece isso Bernardo. Já foi. −Falo fitando a mesa. −Ele queria se desculpar, disse que tentou impedir que as fotos aparecessem.

−Ele parece bem acabado. Olha só pra ele. −Poli diz olhando pela janela do refeitório.

Léo está sentado em um canto da quadra. Sozinho.

−Eu acho que tem mais coisa nessa história. −Ela completa.

Fico quieta, Bernardo concorda com Poli mas também não fala nada.

−Fala ae Bernardo! −Caio que está sentado na outra mesa se levanta e vem sentar conosco.

−E ai? −Bernardo responde.

−Olha só, eu sinto muito pelo que aconteceu no aniversário do Léo. Vocês formam um casal legal.

Sorrio sem mostrar as dentes e Bernardo da um aperto de mão daqueles bem teatrais com Caio.

−Eu ouvi a conversa de vocês agora, foi sem querer, mas acho que preciso dizer isso. Quando eu fui procurar o Léo no sábado, eu o encontrei trancado dentro do banheiro no andar de cima. Não estou defendendo ele, mas achei que vocês fossem gostar de saber. E outra cara, acho que sei como conseguiram suas fotos.

Léo? Trancado? Por que ele estaria trancado no banheiro. Quem faria isso?

−É fácil rackear um aparelho celular se o modo bluetooth estiver ligado. Mesmo que o aparelho tenha senhas de desbloqueio, e senhas nos aplicativos. É só olhar no YouTube e você vai achar mil maneiras. Se ajudar de alguma forma, meu primo é fera nessas paradas, posso pedir pra ele tentar descobrir o que aconteceu.

−Isso é ótimo! Do que você precisa? −Bernardo pergunta prestando mais atenção.

−Bernardo, deixa isso pra lá. –Peço.

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