Chega um momento em nossas vidas em que precisamos crescer. Mesmo que seja meio assustador parar para cair na real e pensar "É, eu não sou mais uma criança" isso é algo que não pode ser evitado, e querendo ou não, vai acontecer com você também.
Passei muito tempo deixando que decidissem tudo por mim, deixando que me prendessem a uma regra idiota, o que me causou muitos problemas. Mas por um lado isso foi bom, impediu realmente que por distração ou deslumbramento, eu me deixasse enrolar por garotos que não valeriam a pena, até Bernardo chegar.
E agora, depois de todo esse tempo, quando finalmente chegamos ao final de mais uma fase, percebo que tudo que aconteceu, foi necessário. Se eu tivesse que passar por tudo de novo para chegar onde estou agora, como estou agora, eu passaria.
Dou um passo a frente e seguro o tecido preto que esquenta todo meu corpo. Não vejo a hora de isso acabar para poder tirar esse treco. Poli, está bem atrás na fila, claramente irritada com a roupa também. Faltam três pessoas para minha vez de entrar, o salão está repleto de pessoas e os nomes são chamados em ordem alfabética e por turma. Alguns segundo se passam e dou mais um passo, e outro, e então meu nome é chamado.
─Heloise Machado de Souza.
Abro um sorriso e caminho pelo espaço entre as cadeiras da plateia que assistem nossa cerimônia de formatura. Minha família me aplaude, minha mãe tira inúmeras fotos, minha tia Carla grita algo que não consigo ouvir bem devido ao som alto da musica que escolhi para entrar. Uma versão remixada da musica "I Know Places". E as minhas primas menores me olhando desejando estar no meu lugar. Sorrio e termino minha caminhada até meu lugar marcado nas cadeiras dos formando.
Bernardo está sentado do outro lado, nas cadeiras correspondentes a sua turma, logo ao lado dele estão Léo e Caio, todos felizes por finalmente estarmos nos "libertando da escola". Victória e Patrícia também estão sentadas perto deles, mas uma fila atrás. Emanuelle não apareceu.
Enquanto as outras pessoas terminam de entrar, corro pelos meses antecedentes, lembro de cada perrengue, de cada vitória. Lembro do dia em que meu pai nos levou para casa e se desculpou comigo e com Bernardo, aceitando e "abençoando" nosso namoro.
Foi uma cena engraçada, foi difícil para ele aceitar que "me perdeu" por mais que eu tenha dito com todas as letras para ele que ele nunca vai me perder e que serei sempre a garotinha dele.
Por fim, tudo deu certo.
Existem momentos em nossas vidas que são conturbados e difíceis de atravessar. Mas também existem aqueles momento que te fazem perceber que tudo vale a pena.
As pessoas terminam a entrada dos formando e a nossa professora de biologia, que foi escolhida pelas três turmas para conduzir a cerimonia, começa um pequeno discurso, contando como foi o nosso caminho desde o primeiro ano, já que ela foi professora fixa e foi a única que nos deu aula nos três anos.
Fotos engraçadas aparecem no telão, e quando uma foto minha e de Bernardo na feira de ciências do último bimestre vem, dessa vez não me sinto envergonhada, e dessa vez eu sabia dela. Algumas pessoas gritam, mas não ofensas e nem palavras baixas contra mim ou contra Bernardo, mas gritam coisas do tipo "Melhor ship" "Melhor casal ever" e Poli, ainda da um último grito quando a foto muda "BernIse pra sempre!"
Por fim depois do vídeo de quase trinta minutos com fotos de todas as três turmas, os nomes para pegar os diplomas começam a ser chamados.
Todos aguardamos ansiosos ouvirmos nossos nomes, quando o meu é chamado mais uma vez, me levanto segurando a maldita beca que me atrapalha a andar e subo os três degraus que me separam do palco, tomando cuidado para não fazer dessa, mais uma cena típica de um filme da sessão da tarde, cair aqui seria a pior das coisas que poderia acontecer... Ou talvez não, admito que existam coisas piores no quesito "passar vergonha".
Quando finalmente todos pegam o diploma e a cerimonia termina, somos liberados para subir ao segundo andar do local, onde vai acontecer nossa festa.
─Vocês tem certeza que não querem ficar? ─pergunto ao casal intensidade depois que eles me libertam dos mil abraços e fotos.
─Temos, filha. Essas festas são animadas demais para nós. ─Minha mãe responde.
─Que isso Lê? Eu ainda dou um caldo! ─Meu fala para nós.
─Ah, com certeza. Vai dar um caldo ótimo quando chegar em casa e dormir no sofá de novo. Não vou te acordar da próxima vez.
Rio com ela enquanto meu pai finge se ofender.
─Bom, então tudo bem. Divirta-se, filha. ─Meu pai fala.
─Eu vou.
─Cadê o Bernardo? ─ele pergunta.
Olho em volta a procura do meu namorado.
─Sei lá, ta por ai com a mãe dele. Vou acha-lo pra gente subir, Poli foi na frente para pegar uma mesa.
─Não suba sem ele.
─Nossa, pai. Para quem não gostava do Be o senhor agora ta tipo fã numero 1.
─Fazer o que? Gosto de saber que você está segura.
─Pai! O que poderia acontecer aqui? ─pergunto tentando imaginar de onde vem tanta preocupação.
─Ah não! Se ele começar a falar não vai parar mais e eu preciso tirar esses saltos. Vamos, agora. ─Minha mãe pega o braço do meu pai e começa a puxa-lo. Ao se virarem dão de cara com Lucas que vem todo afobado para o meu lado ─Não beba hein, garoto. Você esta de motorista!
─Pode deixar tia! Ise, Bernardo já subiu, ele achou que você já estava lá. Vim te chamar.
─Ta bem. Poli conseguiu uma mesa? ─Pergunto indo com ele para as escadas.
─Perto da mesa de salgadinhos, minha maninha não brinca em serviço.
Assim que chegamos no andar de cima seguimos para mesa e quando chego, Bernardo vem em encontrar com buque de rosas. Mil vezes maior e mais cheio do que o primeiro que ganhei dele.
─Você é impossível! ─grito por cima da música.
─E você está incrivelmente linda nesse vestido!
Pego o buque e tento abraçar o meu perfeito namorado ao mesmo tempo. Depois de alguns longos segundos que passamos no abraço ele deixa o buque na mesa e seguimos para junto de Poli que já se encontra sem sapatos, dançando uma musica eletrônica que tocava.
Enquanto pulamos e rimos uns para o outros, Léo chega até nós e começa a dançar também.
Tudo fica em câmera lenta para mim.
É agora que a minha vida, minha nova vida, vai começar de verdade.
FIM
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I Know Places [Projeto 1989]
Teen FictionIse tentou com afinco seguir uma das únicas regras de seus pais, e não se envolver em relacionamentos amorosos até terminar o ensino médio. Ela conseguiu perfeitamente nos dois primeiros anos, se dedicar aos estudos e riscar os irresistíveis meninos...