Capítulo 13 -Isso não vai mudar.

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Não fui à escola no dia seguinte, por motivos nada desconhecidos eu passei muito mal, vomito e febre. Minha mãe queria conversar comigo, me fazer "desabafar" com ela, mas eu não tinha absolutamente nada para falar. Nada que eu quisesse falar. Não ia adiantar em nada mesmo.

Meu pai deixou bem claro que eu não posso chegar perto de Bernardo, e pelo que conheço dele, ele não estava brincando.

Olhando assim, parece que Bernardo é um tipo de marginal, o que eu sei, na verdade todo mundo sabe, que é mentira. Se meu pai estivesse disposto a pelo menos me ouvir, e ouvir o próprio Bernardo, iria perceber eu ele é um ótimo garoto.

Se ele quisesse me ouvir, saberia que Bernardo nunca faria nada para me prejudicar, e que o que sentimos não é uma bobagem de adolescentes. Saberia que não vou fazer nenhuma idiotice.

Mas é isso, não há o que fazer. O único jeito de contornar isso é dar um tempo e esperara o fim do ano. Depois disso, nada que o meu pai fizer vai me impedir de ser feliz.

Na noite de ontem, depois que finalmente eu consegui melhorar, mandei uma mensagem para Bernardo explicando tudo, já que tinha sumido das redes sociais por quase dois dias. A nossa conversa estava com 133 mensagens só dele. A maioria delas me perguntando se estava tudo bem, se eu precisava de alguma coisa. E ganhando de lavada de todas essas, havia "Vou dar um jeito nisso. Eu amo você, Ise." E derivados disso.

Quando expliquei tudo pedi para que ele me esperasse cedo hoje, pois precisava conversar com ele.

─Seja rápida, filha. Eu sinto muito que as coisas sejam assim. ─Minha mãe fala enquanto para em frente o portão da escola.

Ela agora passou de mãe histérica a mãe mega compreensiva. Tentou conversar com meu pai, pedir para que ele desse uma chance de pelo menos conhecer o garoto, mas nada funcionou.

─Não se preocupa, mãe. Eu vou conseguir.

Ela me puxa e deixa um beijo no meu rosto. Saio do carro e avisto Bernardo chegando pela calçada.

Lanço um sorriso triste para ele e indico para que entremos na escola. Ele me segue em silêncio e todos que passam por nós, mais uma vez, me encaram e cochicham. Chegamos ao refeitório e nos sentamos para poder conversar.

─E ai? ─Ele fala triste. ─O que vai acontecer?

─Ele me proibiu de ver você. De falar com você. Ele disse que não vai responder por ele caso descubra que continuamos juntos.

Bernardo esfrega os olhos e percebo que ele tem olheiras logo abaixo deles.

─Não me diga que...

─Eu não queria, Be... Não vou aguentar. ─Deixo escapar um soluço.

Bernardo ergue a cabeça e pisca várias vezes, pega minha mão por cima da mesa e a segura firme.

─Não precisa ser assim, Ise. Se lembra? Eu sei de lugares onde podemos nos esconder.

Levanto o rosto para ele e tento parar o choro. Não quero que ele me veja chorando.

─Não é mas tão simples assim. Antes eu tinha liberdade e agora não tenho mais. Eles vão sempre me trazer e me buscar na escola, festas nem pensar, sair para qualquer lugar sem eles nem pensar. A minha mãe tentou ajudar, mas meu pai está completamente maluco.

─Ele está.. Será que ele não percebe que esse comportamento é arcaico? !

─Eu não quero leva-lo a fazer besteira. Ele está sendo a pior pessoa da terra mas ainda é meu pai.

Bernardo ainda segura minha mão.

─Eu entendo... O que vamos fazer então? ─Ele pergunta quando finalmente consigo para de chorar.

Bernardo tem uma expressão triste, e tenho a impressão de que ele se segura para não chorar.

─Dar um tempo. Até o fim do ano letivo.

─Sabe que isso vai fazer a mal a nós dois, não sabe?

─Já me faz... Mas eu não quero arriscar, não enquanto não sabemos quem é que está nos vigiando... Meu pai recebeu aquelas malditas fotos também, enquanto brigava comigo.

Ele solta a minha mão e se joga para trás levando-as até a cabeça, claramente irritado e renegado com a situação.

─Droga! ─Ele fala alto atraindo atenção das tias no refeitório. ─Caio está tentando resolver mas não estamos tendo progresso nenhum. O primo dele diz que provavelmente o celular usado não foi o da pessoa que pegou as fotos, e isso complica o processo. Se eu descobrir...

─Esquece isso, não vai fazer diferença. Mesmo que consiga descobrir, isso não vai mudar a ideia do meu pai.

Ficamos um tempo em silêncio, até que eu finalmente resolvo encerrar a tortura.

─Não vai mudar em nada o que eu sinto por você. Quando eu pegar aquele maldito boletim vou leva-lo para o meu pai e esfregar na cara dele que essa regra maldita não me impede mais ser feliz com o garoto que eu amo. ─Mais lágrimas descem pela minha bochecha e dessa vez eu alcanço a mão dele. ─ Eu estou presa agora, mas a minha liberdade vai chegar de novo.

─Ela vai, e vai ser antes do que você imagina. Eu te amo Heloise, e não é um pai sem noção que vai me impedir de ficar com você.

─Eu te amo Bernardo. E aconteça o que acontecer isso não vai mudar.

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