Duas semanas se passaram desde que Bernardo e eu resolvemos nos afastar.
Para falar a verdade eu não tenho visto os dias passarem, tudo que eu faço é acordar, tomar o café, ir a escola (só ir mesmo, está difícil me concentrar nas matérias e tenho certeza que isso vai resultar em mais notas baixas e meu pai vai atribuir a culpa a Bernardo novamente), voltar da escola e esperar o próximo dia chegar.
Poli tem me feito mais companhia do que o normal, e às vezes me sinto culpada por tira-la de seus afazeres, por mais que ela me garanta que nunca faz nada.
Meu pai está de olho em mim, vira e mexe ele aparece na escola para me buscar no lugar da minha mãe, e eu agradeço por não estar nem ficando perto de Bernardo, pelo menos assim não causamos outro surto e não pioramos as coisas.
O assunto sobre "o término" do nosso namoro não durou muito tempo. Geralmente é assim, as pessoas só se interessam quando há felicidade alheia envolvida na história, depois que elas conseguem destruir tudo, abandonam o assunto. Como um cachorro larga um osso que já não quer mais.
Pelo que sei, a investigação, sobre quem colocou nossas fotos no telão, não vai mesmo ser possível. O primo do Caio disse que o aparelho responsável já não deve nem existir mais. Sei disso porque Bernardo contou para Poli para que ela pudesse me contar. E depois o próprio Caio me contou, me dando muito mais detalhes sobre o processo.
Mas agora não faz nenhuma diferença. Descobrir quem fez isso não vai fazer o meu pai mudar de opinião. E eu nem sei o que gostaria de fazer com o responsável, não sei nem se teria coragem suficiente para enfrenta-lo já que sou uma covarde assumida.
Estamos no recreio, todos amontoados no pequeno pátio coberto já que hoje está chovendo torrencialmente desde cedo. Logo a Várzea, que é o bairro onde meu colégio se situa, estará toda alagada. Poli come uma de suas natas de frango, e eu apenas faço companhia, já que nem sinto vontade de comer. Alguns garotos jogam ping-pong, outros preferem o jogo de totó recém comprado pela escola, onde não somente os meninos mas também meninas se divertem.
Para manter o bando de adolescentes controlados e presos aqui dentro por causa da chuva, a diretora liberou o uso da rádio da escola. A "radio" era só uma salinha que mais parecia um armário de vassouras, onde alunos do último ano podem tocar algumas músicas quando a diretora libera. Nesse ano, quem está sendo DJ são as três abutres (Emanuelle, Victoria e Patrícia) e Léo.
Enquanto eu seguro o copo de suco de Poli para ela, uma melodia começa a tocar, logo identifico como sendo "Bad Blood" da Taylor Swift.
─Pelo menos as músicas são legais. ─Poli comenta.
─É, mas não estou muito no clima.
─Você deveria tentar se animar um pouco. Não aguento mais te ver assim.
─Vai passar...
Ela concorda e não diz nada. Sabe que não quero falar no assunto.
─Estão os quatro lá em cima no quartinho? ─Pergunto tentando mudar de assunto.
─Devem estar, não sei se é necessário quatro pessoas pra colocar um pen drive para tocar. ─Poli diz me olhando desconfiada. ─Sabemos muito bem o que eles ficam fazendo.
─Eu não dou a mínima...
Poli volta para sua nata, e a musica muda para "Sugar" do Maroon 5. Algumas pessoas começam a dançar em um canto mais vazio, atraindo atenção de todos ao redor. Espero que algum monitor apareça mas pelo jeito, ninguém está se incomodando com essa quase festa. Logo um aglomerado vai se formando e eu vejo Bernardo do outro lado, acompanhado de alguns amigos que dançavam de forma engraçada, na verdade ridícula. Ele por sua vez não parecia estar achando nada divertido.
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I Know Places [Projeto 1989]
Novela JuvenilIse tentou com afinco seguir uma das únicas regras de seus pais, e não se envolver em relacionamentos amorosos até terminar o ensino médio. Ela conseguiu perfeitamente nos dois primeiros anos, se dedicar aos estudos e riscar os irresistíveis meninos...