Samira

15 0 0
                                    

Rafael
   Na hora marcada encontrei-a impaciente fora de seu quarto. Esperava-me com as costas apoiadas na parede e
de braços cruzados.

   – Onde está a enfermeira da noite? – perguntei.

   – Está doente. Como só tem eu nesta ala, nem se preocuparam em substituí-la.

   – É, parece que você está deixando de ser uma ameaça – sorri.

   Sabrina acompanhou o riso e, sem mais delongas, seguimos à área psiquiátrica.

   Ela seguiu na frente.

   Despistamos a plantonista da ala dos pacientes graves, entramos no local onde mencionou ter presenciado a cena do eletrochoque. Olhando para dentro da sala em questão,
vi somente uma mulher que dormia um sono agitado. Pareceu-me vítima de pesadelos.

  – É esta a paciente que viu ontem?

  – Sim – deu uma pausa – pelo menos continua viva, mas duvido que se recupere.

  Passamos a observar as outras saletas, uma a uma, com atenção, eu de um lado do corredor e ela de outro.

   Ouvi Sabrina me chamar, mas como não conseguia tirar os olhos do que estava vendo, não a atendi:

   Uma mulher vestida de enfermeira, ajoelhada sobre o
peito de uma das pacientes, a asfixiava com um saco plástico transparente. Pensei em socorrê-la, testando algumas das chaves do molho que segurava para abrir a porta, mas neste instante a mão de Sabrina pousou sobre a minha impedindo o ato.

   Olhando diretamente para os meus olhos, explicou:

   – É uma ilusão. Não perca seu tempo.

  – Não vamos fazer nada? – perguntei incrédulo.

  Antes de responder, Sabrina me afastou um pouco do visor de vidro e, após ela mesma estudar o que se passava comentou:
 
   – Não. Apenas aguarde. Veja se reconhece a falsa enfermeira que está sobre ela.

   – Como sabe que é uma enfermeira falsa? - perguntei
confuso.

   – Não é óbvio?

   Relutante, fiz o que Sabrina havia pedido.

   Observando a cena atentamente, percebi que a
imagem da mulher sobre a paciente era levemente translúcida. Nesta hora não houve mais dúvidas, realmente
se tratava de uma ilusão coletiva.

   A mulher que a asfixiava, até então de costas para nós, moveu-se, virou um pouco seu rosto permitindo-me constatar ser Samira, uma paciente residente da área de internos graves.

   – Samira?! – exclamei incrédulo.

   – Você a conhece?

   – Sim... é uma paciente residente... – respondi sem
expressão.

   Vimos quando a paciente perdeu os sentidos, e a imagem de Samira, assim como a do saco plástico, sumiu lentamente.

   – Vocês estão criando uma cobra! Onde ela está agora?

   – Na ala norte... – respondi, com os pensamentos distantes.

   Sabrina me puxou pelo braço.
Após fecharmos a porta do corredor, deixei o molho de
chaves em seu devido lugar e seguimos em direção à ala
indicada.

   – Quem é Samira? – perguntou Sabrina, enquanto nos deslocávamos.

   – Como te disse, é uma paciente residente. Me falaram que foi abandonada na porta da clínica há uns cinco anos. Por não terem encontrado parentes, e o antigo diretor ter se sensibilizado com o caso, permanece até hoje sob nossos cuidados.

Qual O Seu Medo ? #Marcelo PrizmicOnde histórias criam vida. Descubra agora