Santa Dymphna

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  Pensando em meu corpo, voltei a ele; desta vez não desejava sair de lá.

  Não conseguia me mexer e nem mesmo queria.

  Nunca imaginei que a situação em que me encontrava poderia também ser horrível, pois agora não tinha como usar o benefício do sono, do esquecimento.

  Apenas o afagar de Rafael me confortava um pouco.

  Com exceção de Rafael, de meu padrasto e de minha mãe, nada mais me importava.

 
Será que a morte também era assim? O que esperava meu pai biológico no Purgatório? Ou a mim?

  Envolvida por estes pensamentos, senti novamente um calor forte aquecer meu corpo.

  Uma luz intensa me envolveu.

  Desta vez, a luminosidade que dela irradiava não tirou
minha visão.

  Olhei para cima e pude contemplar a imagem de uma
bela mulher vestida de freira. Pude vê-la ao centro com rara
e nítida perfeição.

  A mulher nada dizia, apenas sorria para mim.

  Esticou a mão em minha direção emitindo centelhas
que se espalharam pelo meu corpo. Como efeito, senti um
bem estar imediato que há muito tempo não experimentava, se é que já havia experimentado algo deste esplendor. Feito isto, desapareceu em seguida.

  Abri os olhos, percebendo que a luz do ambiente me incomodava. Rafael ainda estava do meu lado, mas de costas para mim e não viu que eu havia acordado. Tentei levantar um dos braços que, respondendo ao meu impulso, permitiu que eu o tocasse na face. Ele se ergueu
sobressaltado, como se ferroado por algum animal. Gritou meu nome abraçando-me efusivamente.

  Controlando-se, a seguir pediu desculpas pelo excesso e eu, concordando, fiz sinal apenas para que falasse mais baixo. Meus sentidos estavam atordoados.

  Puxei-o pela camisa e beijei levemente seus lábios.

  Ele novamente enrubesceu.

Qual O Seu Medo ? #Marcelo PrizmicOnde histórias criam vida. Descubra agora