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Sabrina
    Parece que o sono e o pesadelo depois do almoço afetaram de alguma forma o sono da noite. Não conseguia conciliá-lo e, para piorar, uma dor de cabeça forte me envolveu.

   Virava-me sem sucesso de um lado ao outro da cama procurando uma posição que pudesse amenizar o que sentia.

   Estiquei-me e meus pés tocaram algo frio.

   Pensei tratar-se de mais alguma brincadeira estúpida de alguma das moças companheiras de quarto; ergui-me, pronta para proferir um belíssimo palavrão.

   A ideia original se perdeu.

   Tive a impressão que meu coração e pulmões pararam.

   Estava gélida, como se todo o sangue tivesse abandonado meu rosto e corpo.

   Parei simplesmente, impossibilitada de me mover.

   O corpo do animal deslizava sobre a cama em movimentos lentos. Não conseguia tirar meus olhos dos seus, me sentia hipnotizada. Sua cauda longa oscilava de um extremo ao outro da cama em um calmo e ritmado balançar.

   Aproximava-se lentamente.Tive a impressão que a qualquer momento me atacaria. Envolvia-me aos poucos, até que senti estar completamente cercada pela criatura.

   A cabeça do animal aproximou-se em demasia, e um cheiro forte provindo de seu hálito invadiu minhas narinas.

   Pensei neste instante em fugir, sair dali, mas a gigantesca cobra, adivinhando meu intento, fechou seu corpo rapidamente sobre o meu, em um esmagador abraço
mortal.

   Senti-me sufocada, mas mesmo assim, consegui gritar com todas as forças, despertando a atenção de duas plantonistas.

   Ambas vieram prontamente ao meu socorro; gritavam meu nome sem parar entre outras palavras que eu não conseguia compreender. Seguravam-me pelos braços, na tentativa de me arrancar do mortífero aperto do animal.

   As outras mulheres que dividiam o quarto comigo estavam presentes, mas acredito que, sem coragem para intervir, assustadas, mantiveram-se distantes.

   Sentindo um choque que percorreu toda a extensão de
meu corpo, vi quando a cobra picou violentamente meu braço. O gigante animal se contorceu satisfeito com o ato.

    Com a dor, perdi os sentidos segundos depois.

Adrian
    Cheguei à clínica no horário programado para visitasacompanhado por Steffani.

   Logo na recepção fui informado por uma médica que
Sabrina tivera delírios novamente e se encontrava na
enfermaria naquele instante.

   Após algumas informações rápidas, um dos assistentes se ofereceu para nos acompanhar e, em pouco tempo, estávamos na companhia de nossa filha.

   Sabrina dormia, mas suas feições eram amargas.

   Steffani tentou segurar uma de suas mãos pendida ao lado da maca, e somente seu leve toque foi suficiente para acordá-la de sobressalto: Recolheu sua mão instintivamente de forma brusca para baixo do lençol que a envolvia.

   — Pai? Mãe? – perguntou-nos assustada.

   Calou-se pensativa em seguida.

   — Olá, Sabrina. Me disseram que você teve problemas nesta noite...

   — Mas mãe... foi tão real... – falou, interrompendo Steffani, ciente de ter sido vítima de uma ilusão.

   — Acredito que tenha sido mesmo. Lembro bem do dia que colocou seu quarto abaixo, procurando por um animal qualquer. Vi como você estava e a força que seu pai fez para contê-la. Como se sente hoje?

Qual O Seu Medo ? #Marcelo PrizmicOnde histórias criam vida. Descubra agora