Ilusão Mortal

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Sabrina
   Peguei uma toalha e me dirigi ao banheiro.

   Abaixei um pouco o volume do rádio que simplesmente gritava e pulei uma baixa mureta que represava a água utilizada dos chuveiros.

   Vanessa já estava se ensaboando, reclamou por eu ter abaixado o som do aparelho. Disse que precisava que fosse
alto, a água impedia que ouvisse a música direito.

   Não dando atenção à reclamação, ocupei um chuveiro vago ao lado.

   Sem pressa de sair passamos a conversar bobagens.

   Após um bom tempo me senti estranha.

   Senti um leve balançar de corpo, como se algo dentro de mim se movesse. Olhei para Vanessa e percebi pela suaexpressão, que desfrutara das mesmas ou semelhantes sensações.

   — Sentiu? O que foi isto? – perguntou assustada.

   — Meu corpo se moveu... balançou... – respondi sementender. O que você sentiu Vanessa?

   — Arrepiei inteira...

   Já havia acabado de tomar meu banho, mas ao tentar fechar o registro do chuveiro, vi que este se movia sozinho, aumentando cada vez mais o fluxo de água. Os demais registros acompanharam o movimento, um a um, inclusive o de Vanessa. Tivemos a impressão que alguém ou algo
invisível os movia.

   Como os ralos não davam conta do escoamento, abaixei-me e bati com a palma da mão, tentando desentupi- lo sem nenhum resultado.

   A água passou a subir rapidamente, mas ao invés de
escoar por cima da mureta de retenção, como previsto, alguma coisa impedia sua saída.

   Eu estava atônita observando a cena. Tentava entender o que se passava quando, por impulso, tentei sair bruscamente de onde estava.

   Não consegui.

   Na tentativa, bati violentamente o rosto sobre algo que não pude identificar, sendo jogada para trás.

   Passei a mão pelo nariz, o sangue misturou-se com a água em minha mão molhada.

   Sentia-me dentro de um aquário, cercada por paredes
invisíveis que impediam nossa saída.

   Vanessa estava dura, em sua expressão lia-se puro terror.

   Na esperança de devolvê-la à razão, chacoalhei-a diversas vezes chamando-a aos gritos.

   Queria que ao menos me ajudasse a fechar os registros, mas ela não respondia, como se estivesse em uma espécie de transe.Sozinha não conseguia, pareciam-me emperrados.

   A água subia de forma não natural e, já próximo à altura do tórax, Vanessa acordou. Soltou um grito violento, não parando mais de gritar em plena histeria.

  Tentávamos de qualquer maneira sair dali.

   Quando o nível da água estava quase cobrindo nossas cabeças, cansadas, seguramos no próprio cano do chuveiro rezando para que ele não se partisse.

   Algo se moveu sob as águas e, procurando descobrir sobre o que se tratava, mergulhei minha cabeça.

   Um rosto feminino se formou abaixo de mim, movimentou-se e parou ao nosso lado, diáfano, desenhado com a própria água. Sorriu e desapareceu em seguida.

   A visão foi suficiente para acabar de vez com a minha lucidez.

   Vanessa estava alucinada e, descontroladas, gritávamos sem parar.

Qual O Seu Medo ? #Marcelo PrizmicOnde histórias criam vida. Descubra agora