Pesadelo x Pesadelo

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Meu coma era grave.

Sentia que ficaria nesta situação fora do corpo até minha reabilitação ou minha morte. E depois? Quem sabe...

Eu não comia, não bebia, nem dormia. Precisava fazer algo. Assim pensando, resolvi ajudar outros pacientes.

Neste ponto Samira estava certa: Graças a ela e a tudo que me fez passar, nada mais me assustava.

Recebendo de mim algumas poucas interferências, oito dos internos que sofriam devido à ajuda extra de Samira, sem muitas dificuldades retomaram seu controle.

Pipa também se acalmou. Sugestionei-a para que antes que pegasse no sono, vestisse mentalmente algo bem pesado. Apesar da ideia parecer ridícula, funcionou, pois isto fez com que ela entrasse no "mundo dos sonhos" bem equipada.

−Agora preciso sugestioná-la a fazer melhores comidas - pensei.

Passei a caminhar pela ala psiquiátrica dos pacientes graves à noite, vigiando seus movimentos. Mas nada de
anormal acontecia.

- Será que Samira morreu e eu não sabia?

Quase isto.

Entrando em seu quarto numa tarde enquanto ela estava sendo atendida, ouvi a notícia que ela havia sido vítima de uma infecção generalizada.

Deduzi naquele momento que os remédios que tomava ou as febres constantes afetaram de forma significativa seu psiquismo, impedindo suas ações diabólicas, ainda que inconscientes.

***

Antes de ir embora para casa, Rafael vinha todos os finais de tarde me visitar. Em retribuição, acompanhava-o todos os dias em seu almoço. Passava o tempo todo à sua frente, observando-o mastigar aquela porcaria.

Sempre sentia pena dele neste momento. Para piorar, senti que hoje ele estava triste.

Estava curiosa com o fato, mas não achei educado invadir seus pensamentos.

Olhei para a pista de alimentos e vi que a nova diretora pegava uma bandeja; sem dúvida desejava experimentar o que era servido.

- Parece que o seu problema com a comida está chegando ao fim, meu caro Rafael - comentei, sabendo que ele nunca ouviria.

Ela sentou-se a algumas mesas de nós e se pôs a comer. Não precisou mais que uma garfada para formar uma opinião concreta. Sua expressão de descontentamento era
evidente.

- Pensei que era minha amiga! - ouvi atrás de mim uma voz contrariada.

Ia me virar para ver quem era, mas não tive tempo: Centenas de insetos saíram de minha boca, impedindo que eu pronunciasse qualquer palavra. Tentei gritar, mas nem isto consegui. Sentia-os arranhar minha garganta. Levantei da cadeira assustada caindo ao chão em seguida.

Este realmente não era o meu medo, apesar do nojo que sentia por baratas e outros insetos, mas foi o suficiente para alterar significadamente minhas emoções. Acredito que este fora o motivo pelo qual me tornei parcialmente visível a todos os presentes.

Recuperando um pouco do susto, concentrei-me varrendo todas aquelas criações mentais nojentas para longe de mim.

Rafael

Sentei-me no lugar de costume para almoçar.

Como sempre, nestas horas, pensava em Sabrina. Vinha conversando há dias com diversos profissionais, e nenhum deles tinha como fazer uma previsão para o fim de seu coma.

Encontrava-me naquele momento mais entristecido do
que de costume. Estava com saudades, queria poder ouvir
sua voz, até mesmo algumas de suas grosserias faria me
sentir melhor hoje.

Qual O Seu Medo ? #Marcelo PrizmicOnde histórias criam vida. Descubra agora