Setembro

4 0 0
                                    

Sua pele se rasgava lentamente enquanto pressionava o objeto reluzente e extremamente afiado. Um vermelho escarlate e brilhoso rompia pela abertura que se formava pouco a pouco. O objeto era tingido e entrava mais profundamente na carne. Não sentia dor e nem frio perto de um canto vazio. Sentia enjoo, enquanto lágrimas escorriam. Olhou os retratos em cima da escrivaninha e sentiu a lâmina se aprofundar ainda mais. Gotas do líquido pingaram no chão. Sua mão se tornou trêmula. Andou uns poucos passos e sua visão ficou turva. Escutou-se um tilintar quando o objeto caiu. Começou a suar sem parar, enquanto formava-se um rastro atrás de si. Tropeçou e caiu com as mãos espalmadas. Sentiu uma dor lacerante que lhe doeu a alma. Pediu socorro em silêncio. Fechou os olhos. Agonizou, sentiu muita sede. O ar se esvaiu dos pulmões. Soluçava. Suplicava. Rolava de um canto ao outro. Até que suas forças se esgotaram. E o silêncio se fez uníssono enquanto abriu os olhos e viu pela última vez os retratos de sua família. Suspirou. E, enfim, adormeceu eternamente.

Delírios poéticosOnde histórias criam vida. Descubra agora