Sua pele se rasgava lentamente enquanto pressionava o objeto reluzente e extremamente afiado. Um vermelho escarlate e brilhoso rompia pela abertura que se formava pouco a pouco. O objeto era tingido e entrava mais profundamente na carne. Não sentia dor e nem frio perto de um canto vazio. Sentia enjoo, enquanto lágrimas escorriam. Olhou os retratos em cima da escrivaninha e sentiu a lâmina se aprofundar ainda mais. Gotas do líquido pingaram no chão. Sua mão se tornou trêmula. Andou uns poucos passos e sua visão ficou turva. Escutou-se um tilintar quando o objeto caiu. Começou a suar sem parar, enquanto formava-se um rastro atrás de si. Tropeçou e caiu com as mãos espalmadas. Sentiu uma dor lacerante que lhe doeu a alma. Pediu socorro em silêncio. Fechou os olhos. Agonizou, sentiu muita sede. O ar se esvaiu dos pulmões. Soluçava. Suplicava. Rolava de um canto ao outro. Até que suas forças se esgotaram. E o silêncio se fez uníssono enquanto abriu os olhos e viu pela última vez os retratos de sua família. Suspirou. E, enfim, adormeceu eternamente.
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Delírios poéticos
PoetryPara cada momento que pensei em você, sem ser correspondido. Para cada lágrima que escorreu pelos meus olhos sem que ninguém tenha visto. Para cada noite fria em um inverno rigoroso que não passa. Mas, também para cada raio de luz que possa vir a me...