Reencontro

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Numa noite fria, em que os pingos despencavam vagarosamente do céu escuro, te avistei. Fazia muito tempo que não o via. Você descia lentamente pela escada rolante do mercado. Apenas um vidro nos separava. Mas era mais que um vidro, eram meses de distância. O coração pulsou mais forte, o sorriso despontou em meu rosto e o teu se iluminou. Corri um pouco mais para ultrapassar a pilastra e lhe dar um aceno, ao passo que você era tragado em direção ao estacionamento. Você se virou um pouco para retribuir meu adeus, de modo desajeitado. Quando desapareceu por completo, as lembranças transbordaram, tua inocência me veio à mente, teus olhares límpidos também. É como um cadáver que mais cedo ou mais tarde aparece para incriminar o seu mal feitor. Pensei que tinha te superado, porém a verdade é que sempre vou amá-lo ao meu modo e por mais que eu tente lhe enterrar, você ressuscita quando menos espero. Uma eterna assombração, que me faz relembrar do teu cheiro, das ruas roupas e das noites em que conversamos até tarde, sem se importar com o próximo amanhecer. Não consigo gostar de outra pessoa, estou preso em você, aguardando que um dia você possa esquecer o que eu fiz e me libertar dessa cadeia que eu mesmo joguei fora a chave.

Delírios poéticosOnde histórias criam vida. Descubra agora