Ainda lá

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Com o olhar fixado ainda na cova, indaguei-me por que ele era tão vago. O que queria dizer muitas vezes. Tentava advinhar o que pensava. O que queria. Se eu era preferência ou distração. Por vários momentos, senti que ele queria me contar algo. Das esparsas vezes que disse que me amava, não sabia se era da boca para fora ou uma empolgação de momento. Nunca me senti confortável ao seu lado nesse aspecto. Era alguém que me causava grande dúvida. Quando sentia que nos aproximaríamos definitivamente, ele sumia. Passava dias sem sequer falar comigo. Isso me torturava. Precisava de estabilidade, de um porto seguro. Talvez ele precisasse mais do que eu, e por não saber dizer isso, fez o que fez. Isso não é justificável! Causar tamanho sofrimento! E novamente, fui tomado por uma enxurrada de emoções. Não conseguia respirar novamente. Pensei em apedrejar o seu caixão. Mostrar ao mundo quão fraco você era. Quão mesquinho você foi. Quão sem coração você era. Coloquei as mãos em meu rosto enquanto meu sangue fervia, minhas bochechas ficavam avermelhadas, e puxei meu cabelo para trás. Olhei em direção ao céu e desejei que você realmente não estivesse lá.

Delírios poéticosOnde histórias criam vida. Descubra agora