Do Outro Lado

Descontrole

Nunca aja por impulso de uma raiva, ela nos leva a fazer coisas que iremos realmente nos arrepender.
- Allan Kardec

A tensão na sala era sentida por todos ali, Linda sorria cínica, enquanto fazia um leve carinho na nuca de John. Ela olhava para seus sogros, que lhe encaravam como se a mulher fosse um ser de outro planeta, ou algo totalmente bizarro.

Conrad solta um pigarro e sorri para a nora. Elena, percebendo a deixá do marido, se manifesta.

- Já que sua mulher chegou e está melhor do que nunca, nós iremos embora filho. - A mãe de John comenta irônica, pegando sua bolsa em cima do sofá e segurando na mão do marido. - Vamos querido, está na nossa hora.

- Eu os acompanho até a saída. - A mulher ali, ainda com a garrafa de cachaça barata nas mãos, fala já se movimentando de encontro ao casal.

- Não é necessário. Vamos Conrad. - Elena, ainda transtornada com a situação presente, sai fugaz, deixando um beijo de despedida na testa do seu filho e se encaminhando até a porta com seu marido. Finalmente, para alívio dos pais de John, eles já estavam fora da casa.

- Ótimo...

- Onde você estava? - John questiona preocupado e recebe o barulho dos pés da alter se arrastando para longe dele.

- Não vai dizer que se preocupa com a Linda agora, vai?

- Sempre me preocupei...

- Mentindo pra mim? Que coisa feia! - A alter debocha.

- Eu estou falando a verdade.

- Você não deveria mentir para mim! - A mulher vai até a cozinha e retira uma faca da gaveta.

- O que você vai fazer com isso?

- Você gosta de jogar, John?

- Coloca a faca onde você encontrou!

- Jogo de perguntas e respostas. Simples... Vou perguntar e você vai responder, se eu sentir que você está mentindo, eu corto um dedo seu. - Ela dá um sorriso assustador e semicerra os olhos ao ver John dando alguns passos para trás. - Ou eu posso cortar a garganta da Linda. Será menos doloroso do que essa tortura que é viver... O que acha?

- Você não faria isso. - O homem se aproxima e balança a cabeça negando o ato da mulher. - Você sabe tão bem quanto eu, que se vocês a ferirem, todas se prejudicam. - John diz com uma ponta de invencibilidade.

- Você realmente quer duvidar de mim, John? - A faca passeia pelos seus dedos e ela coloca pressão, fazendo um corte na palma da mão. - Todas estamos pensando seriamente em deixar de existir. - Ela diz em um fôlego só, sentindo o doce ardor do corte, o sangue escorrendo-lhe, aquecendo a palma da mão. As gotas estavam pingando gradativamente no chão da cozinha. - Maravilha! - Ela sorri.

- O que você está fazendo sua louca? - John corre até sua mulher e antes de chegar, ela aponta a lâmina pontuda na direção dele. O executivo engoli em seco, e a sensação de temor se fez presente em seu corpo e mente.

- Vamos começar com as perguntas... Aqui vai uma, John. Você traiu a Linda? - Ela pergunta vendo o sangue escorrer da mão.

- E-eu nunca... Nunca trairia minha mulher!

- Por que eu não consigo acreditar em você?

- Eu quero a minha mulher de volta...

A gargalhada aguda da alter fez John soltar um suspiro pesado.