Capítulo 1 - re-revisado

907 44 8
                                    

Acordei bem cedo sem nenhum motivo. O céu nem havia se colorido e eu me levantei da cama com cuidado para não fazer barulho. Em seguida, desci para cozinha. Pus água e pó de café na cafeteira elétrica e, enquanto o eletrodoméstico fazia o resto do trabalho, me ocupei arrumando a mesa. Depois que o café ficou pronto, me servi de uma caneca e fui para a varanda respirar o ar fresco da manhã. Do lado de fora da casa, ainda se podia sentir os resquícios do sereno da noite passada apesar de já ser quase dia. A varanda tem uma magnífica vista para o vale, de onde eu pude assistir o sol nascer timidamente por detrás das Rochosas, sentada numa confortável espreguiçadeira e aquecida apenas pelo café fumegante na caneca de porcelana que eu havia trazido comigo. Não tenho costume de acordar com as galinhas. Eu me levanto sempre quinze minutos para as oito e vou preparar o café de Shawn, enquanto ele se apronta para ir para o trabalho. De La Cañada para L.A., são menos de cinquenta minutos pela expressway e, sendo Shawn chefe de seu departamento, ele não precisa chegar ao escritório antes das nove. Então, temos tempo de sobra para tomarmos o café da manhã sem pressa, saboreando como se deve uma refeição. Felizmente, o meu marido não é o tipo que senta à mesa com os olhos grudados no jornal ou no smartphone. As refeições são sagradas para ele, a família vem em primeiro lugar. Nada de leituras, TV ligada ou smartphones são permitidos à mesa, ainda que a família seja apenas eu e ele. Estamos casados há dois anos e não temos filhos ainda. Já faz algum tempo que não fazemos um sexo matinal rápido antes da primeira refeição do dia. Infelizmente, fazer sexo matinal durante a semana, tornou-se raro nos últimos tempos. Ou, para ser mais clara, fazer sexo já foi algo mais frequente aqui em casa.

Depois que Shawn sai para o trabalho, eu coloco a louça na lavadora e subo para o quarto para me trocar para ir correr. Eu gosto de praticar esportes e este momento da manhã é sagrado para mim. Respirar o ar puro das colinas me revigora e exercitar o corpo me põe em sintonia com a minha mente. No trajeto de minha corrida diária, eu sempre encontro vizinhos. Então a gente se cumprimenta cordialmente, mas raramente paramos para conversar. Por mais que seja breve uma pequena pausa para trocarmos algumas palavras sobre o tempo e coisas do tipo, sabemos que isto quebra o ritmo do exercício e sua eficácia. Se pararmos para papear com todos os conhecidos que surgirem pelo caminho, a ideia de exercitar o corpo ao ar livre vai por água a baixo. Então é preferível ficar em casa e fazer a esteira.

Quando eu finalmente retorno para casa depois de correr, exatamente uma hora depois, Conchita, a nossa empregada mexicana, já está passando o aspirador na sala, enquanto a máquina de lavar roupa faz outro trabalho. Só me sobra tempo para beber a vitamina de frutas, feita por ela e deixada à minha espera sobre o balcão da cozinha, para, em seguida, subir ao meu quarto para tomar uma rápida ducha antes de sair novamente. Minha rotina semanal é bem variada: as segundas e quartas, faço trabalho voluntário no retiro de cantores e músicos em Pasadena pela manhã e a tarde. As terças, encontro com o meu grupo de amigas para jogar golfe pela manhã e depois almoçamos juntas no restaurante do country club. As quintas, tenho aulas de tênis pela manhã e depois vou ao salão dar fazer os cabelos e unhas. E, finalmente na sexta, eu tiro o dia inteiro para fazer compras, as vezes vou sozinha ou na companhia de Kristen, minha melhor amiga. Como podem ver, a minha semana é bem ocupada e eu procuro mantê-la assim para não me sentir solitária. As noites e fins de semanas são dedicados a Shawn, meu querido e amado esposo.

— Olá, Conchita! – eu sempre vou a cumprimenta-la logo ao entrar em casa.

— Bom dia, Mrs. Garden. Como foi a sua corrida esta manhã? – ela responde enquanto passa o aspirador no sofá.

— Sem novidades. Sempre encontrando as mesmas pessoas pelo caminho, nada demais.

E como não faz diferença alguma para ela o que acontece em minhas corridas matinais, ela demostra estar mais preocupada com suas tarefas do dia.

— A senhora quer que eu faça rostabeef para o jantar? – Conchita perguntou desligando o aspirador.

— Não, deixe para fazer amanhã. Shawn vai trabalhar até tarde hoje e deve jantar no escritório. Faça apenas uma salada completa para mim que eu como com um sanduiche.

— Tem certeza, não vai sentir fome mais tarde? – Conchita insistiu. Ela é um amor, cuida de mim como se eu fosse sua filha.

— Hoje é dia de golfe, esqueceu? Depois vou almoçar com as meninas no clube e aproveito para fazer uma refeição substancial. Você pode ir para casa mais cedo quando terminar. Aproveite o resto do dia!

— Que nada! Afonso acordou com uma crise na cervical novamente. Vou aproveitar para levar ele na emergência para tomar uma injeção.

— Nossa, Conchita! Devia ter ficado em casa cuidando dele.

— Imagina, Mrs. Garden. Ele já vai ter o dia descontado na obra pela falta de hoje e se eu faltar ao trabalho também, são duas diárias a menos no orçamento. Parece pouca coisa, mas faz muita falta!

— Eu já lhe disse, quando você não poder vir, eu não vou lhe descontar a diária. Você é a melhor ajudante que uma dona de casa pode sonhar em ter.

— Eu não acho isto certo, Mrs. Garden. Ganhar sem trabalhar é coisa de gente que gosta de moleza na vida. Nem eu e Afonso somos desse jeito. 



Nota da autora: O que achou deste capítulo? Comente!

Adorável LenhadorOnde histórias criam vida. Descubra agora