Capítulo 7 - re-revisado

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DEPOIS DO BANHO relaxante, eu me sentia outra pessoa. Aqueles momentos na banheira foram como uma sessão de ioga. Depois de me secar, fui para o quarto e me vesti com um confortável camisão de malha branco, estampado com um par de sapatilhas de balé cuja aparência, bastante desgastada, revelava seus dias de gloria. Quem sabe elas serviram aos pés de uma famosa bailarina que encantou a todos com sua maestria. Em seguida, desci para a sala de estar e me deitei no sofá. Aproveitei para passar os olhos na correspondência do dia, deixada por Conchita sobre o balcão da cozinha. Além de contas e mais contas para pagar e de folhetos de propaganda, havia entre elas um panfleto de uma pequena empresa de jardinagem com o número e o nome para contato: Jeff Strongheart. Por um instante, aquele nome me pareceu familiar... Nossa, o lenhador de Sue! Fiz uma bolinha de papel com o panfleto e a arremessei na cesta do lixo. Acertei! Em seguida, fechei os olhos para tirar um cochilo até a hora de jantar.

Tive um sonho muito louco que foi assim: eu e Sue estávamos tomando um delicioso gelato próximo à Piazza Barberini, numa bela noite romana. Ora, se estávamos na Itália, era porque eu tinha aceito o convite de Sue para acompanhá-la naquele périplo de um mês pela Europa. Pois bem, estávamos sentadas numa pequena mesa ao ar livre, tomando gelato, quando se aproximaram dois rapazes muito falantes. Eles começaram puxando uma conversa boba que nós não entendíamos patavinas, e quando dissemos a eles que não falávamos italiano e que éramos americanas, eles então passaram a falar num inglês bem enrolado. Se ofereceram para mostrar às duas belas turistas americanas – palavras deles, um sempre repetia o que o outro dizia, como se um fosse o eco do outro, fazendo-os parecer hilários – a "verdadeira Roma" que não estava nos guias de turismo. É claro que a real intenção deles em nada tinha a ver com mostrar a hospitalidade dos italianos aos visitantes, e sim tirar vantagens de nós duas. Este tipo de conquistador barato é muito comum na Europa, especialmente em locais turísticos. Estes Dons Juans de meia tigela são especialistas em incautas e solitárias turistas estrangeiras. São verdadeiros gigolôs, que convencem as suas vítimas usando as cantadas mais manjadas do mundo. Dizem a elas que elas são lindas como um poema de amor – mesmo que elas não sejam lá essas beldades –, falam para elas toda a sorte de coisas doces de se ouvir até elevar a autoestima delas lá para as alturas, antes de darem o golpe fatal. Eles têm até a cara-de-pau de dizer às pobres vítimas que foram picados pela abelha do amor e que ficaram apaixonados por elas à primeira vista. É incrível, mas esta encenação realmente funciona na maioria das vezes, elas caem feito pato. O sotaque de uma língua estrangeira parece que soa como afrodisíaco nos ouvidos femininos, deve ser esta a explicação. Mas se, no final, eles forem mal logrados no intuito de obter delas seus favores sexuais, como prêmio de consolação, eles se contentam com o jantar num restaurante caro que eles as levaram para conhecer, à custa delas, é óbvio. Sue, que continuava comemorando o divórcio, ficou com o que "se apaixonou" por ela, e ele não era nada mal. Eu não dei trela para o outro, sou uma mulher casada e ponto final; aliás, muito bem casada. Resolvi voltar sozinha para o hotel. Mas ao abrir a porta do meu apartamento, terminei entrando em meu próprio quarto na Califórnia e, para meu espanto, dei de cara com Shawn e a professora de francês de Mark numa posição nada republicana sobre a nossa cama! Dei um pulo do sofá.

Quinze minutos depois, lá estava eu dirigindo em direção a L.A. Esta parte não era mais o sonho, eu já estava bem acordada, por sinal. Àquela hora, a estrada estava livre naquela direção, enquanto no caminho oposto, milhares de automóveis voltavam para casa depois de um dia longo de trabalho. Pisei fundo e acionei o piloto automático. Eu resolvi, de última hora, fazer uma surpresa para Shawn, levar o jantar dele! Liguei da estrada para o Harry's, um dos restaurantes favoritos de Shawn que ficava próximo ao escritório, e encomendei um filé à Chateaubriand mal passado e, para mim, apenas uma truta ao vapor e uma salada Ceasar para nós dois.

A portaria do prédio já estava fechada. Mas, mesmo assim, ao me ver de pé diante da grande porta de vidro, o vigia veio falar comigo, através de uma fresta aberta apenas o suficiente para nos comunicar. Ele era um homem de meia idade, um negro alto e um pouco acima do peso, mas com o corpo de quem fazia bastante exercício físico.

— Eu gostaria de subir. – eu disse tendo à mão a sacola de papel com o nosso jantar.

— O prédio já esta fechado, madame. Todos já foram embora. – ele respondeu atencioso. Sua resposta me pegou de surpresa.

— Eu sou a esposa de um funcionário...

— Todos nós sabemos quem a senhora é, Mrs. Garden. Mr. Garden já foi embora. – ele disse pacientemente.

— Tem certeza? – perguntei demonstrando aflição.

— Eu vou verificar para a senhora para que não restem duvidas. Queira entrar, por favor. – ele disse percebendo a minha decepção e se compadecendo de mim. Abriu a porta para que eu passasse.

— Venha comigo. Aqui no computador da portaria temos registradas todas as entradas e saídas do prédio, mesmo aquelas que são feitas pela garagem.

Acompanhei-o até o balcão da recepção, uma construção de mármore de Carrara azul marinho. Ele foi para detrás do balcão e olhou no computador.

— Como eu disse, o andar onde fica o escritório de Mr. Garden está vazio. Consta aqui que ele não voltou mais depois do almoço.

Nossa, aquelas palavras soaram como um balde de água gelada sobre mim. Me senti confusa e uma idiota carregando toda aquela comida. Fiquei um instante muda.

— Mrs. Garden? – o vigia me chamou de volta de onde quer que eu estava.

— Sim?

— Mais alguma coisa?

— Como o senhor se chama?

— Gregory Johnson, senhora.

— O senhor já jantou?

Adorável LenhadorOnde histórias criam vida. Descubra agora