Capítulo 2 - re-revisado

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Não tenho do que me queixar da vida. Não preciso trabalhar, apesar de eu ser formada em jornalismo pela Berkeley. Shawn ganha bem, noventa mil dólares por ano, como gerente senior de novos projetos da General Technologies Group and Corporation e, por isso, temos uma vida confortável. O meu cartão de crédito tem um limite razoavelmente bom para eu gastar como quiser, apesar de eu nunca tê-lo utilizado. Antes de nos casarmos, combinamos que eu só ia trabalhar quando os nossos filhos estivessem bem crescidos e não dependessem de minha atenção e cuidados. Entretanto, após dois anos de casados, ainda não temos filhos. Não há nada de errado biologicamente com a gente em relação a ter filhos, somos dois reprodutores perfeitamente saudáveis. Entretanto, Shawn acha que nós devemos aproveitar um pouco os primeiros anos de casados, fazendo coisas que provavelmente não teremos mais a chance de fazer quando tivermos filhos pequenos para cuidar. Coisas como fazer viagens a países exóticos, longas trilhas na natureza, velejar em nosso barco e fazer amor a manhã inteira nos fins de semana. Bem, pelo menos uma parte do plano estava dando certo. Shawn podia tirar trinta dias de férias por ano, contanto que não o fizesse de uma só vez. Então, aproveitávamos para viajar para o exterior. Nos feriados, saíamos para velejar ou fazer trilhas em algum parque nacional. Mas, fazer sexo nas manhãs dos fins de semanas foi se tornando ocasional, depois do primeiro ano de casados. Isto porque Shawn passou a dormir até mais tarde para compensar a extenuante semana de trabalho. Quando, finalmente, ele tomava coragem para sair da cama, a manhã já tinha se passado quase toda e eu já estava ocupada demais com outros afazeres domésticos para ter ânimo para fazer sexo. Terminávamos, então, indo juntos fazer compras depois de almoçarmos fora ou ele ia jogar golfe no clube no sábado. Agora, fazemos sexo apenas uma vez por semana aos domingos pela manhã e, em casos excepcionais, em algum dia durante a semana, nas raras vezes que ele chega em casa mais cedo e com disposição. Desde que ele foi promovido para trabalhar num importante projeto da companhia, há cerca de um ano, sua rotina de trabalho tem sido assim bem ocupada. Então, a transa na manhã de domingo se tornou tão sagrada quanto ir à missa. Nunca mais ele deu alguma desculpa para sair do trabalho no meio do expediente, para se encontrar comigo em algum hotel do centro, como costumava fazer no início de nosso casamento.

"Estou com saudades."

Ele escreveu na mensagem de texto pela primeira vez, na semana em que voltamos da lua-de-mel.

"Eu também, meu amor. Venha logo para casa."

Respondi demonstrando o quanto eu o queria. Minutos depois ele me escrevia de volta:

"Saia de onde estiver e venha se encontrar comigo no Hilton L.A., na suíte 302."

"Você enlouqueceu?!"

Respondi encantada com a surpresa. E logo em seguida ele responde novamente.

"Sim, estou louco para fazer amor com você! Venha imediatamente!"

Quando eu comecei a perceber que o sexo estava começando a ficar escasso, achei que houvesse algo de errado com o nosso casamento, pois no primeiro ano transávamos feito coelhos. Eu sempre queria fazer sexo, talvez por ter mais disposição física para isto, pelo fato de não trabalhar. Mas Shawn passou a chegar em casa cansado do trabalho, depois de ter sido promovido a gerente senior de novos projetos, ao completarmos seis meses de casados. Quando ele era apenas supervisor de pesquisa, ele saía do trabalho às 17hs em ponto. Mas com aquela promoção, ele nunca mais teve um horário certo para sair e ficava geralmente sempre mais tempo no escritório que os outros funcionários menos graduados. Até pequenas tarefas domésticas que ele costumava assumir com satisfação, como fazer pequenos consertos na casa ou cortar a grama do jardim a cada duas semanas, quando ele chagava do trabalho – ele adorava fazer isto – passaram a ser negligenciadas. E as vezes eu mesma tinha de dar uma de encanadora ou de eletricista ou fazer um aperto necessário em algum parafuso frouxo em algum lugar da casa. Eu detestava cortar a grama e Conchita já tinha bastante o que fazer dentro de casa – ela também não tinha mais idade para fazer este tipo de trabalho físico. Por isso, quando a grama já estava virando uma floresta tropical, eu telefonava para o departamento de trabalhos temporários da escola pública da cidade e pedia a Mr. Mione que me enviasse um aluno para apará-la, o que geralmente ocorria depois da aula. As vezes Shawn chegava disposto e cortava a grama antes do jantar, muito satisfeito por estar fazendo um trabalho físico para variar – estranhamente ele preferia cortar grama a fazer sexo. – mas, ultimamente, era mais comum ele próprio se dar por vencido e me pedir para providenciar algum estudante da escola para fazer isto por ele.

Talvez fosse aquele distanciamento de Shawn nos últimos seis meses, a escassez de sexo, a volta dele para casa sempre mais tarde, que me fez acordar tão cedo para contemplar o nascer do sol do vale de San Gabriel. É verdade que eu tinha ido para cama muito cedo, antes de Shawn chegar do trabalho, por isso eu estava me sentindo bem disposta e com energia extra para ir encontrar as meninas para jogar golfe mais tarde naquela manhã.

Fui tomar uma chuveirada depois da corrida e me senti fresca e revigorada. Depois vesti uma legging cor de rosa listrada, uma blusa de algodão branca sem mangas, calcei tênis e dirigi tranquilamente o meu Renegade com destino ao country club. A manhã estava ensolarada e a temperatura agradável prometia mais uma dia esplendido em minha vida.

Adorável LenhadorOnde histórias criam vida. Descubra agora