Capítulo 6 - re-revisado

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NO CAMINHO DE VOLTA para casa, passei na lavanderia para pegar o terno azul marinho de Shawn. Ele sempre tinha uma muda de roupa guardada no escritório, para o caso de uma eventualidade, como uma viagem inesperada a uma das fábricas da empresa na Ásia ou o comparecimento a um evento social agendado de última hora. Aquele terno era um que ficava no escritório. Ele o deixara em casa há alguns dias, ao chegar de uma rápida viagem à Singapura. Lembro que o terno tinha um cheiro esquisito, ou melhor, cheirava a um perfume que eu não reconheci. É nestes casos que eu fico com a pulga atrás da orelha. Eu fico intrigada por que ele não traz as camisas para lavar aqui em casa, preferindo pedir para Mrs. Gordon, sua secretária, para que ela as leve na lavanderia próxima ao escritório. Será que elas cheiram a perfume de outra mulher e têm marcas de batom?

Eu não queria entrar na paranoia de ficar achando que Shawn estava me traindo, ele não era como os outros. Ele não era igual ao Mark, por exemplo. Mark era um safado e eu percebi isto logo da primeira vez que fomos apresentados. Ele me comia com os olhos sempre que nos encontrávamos casualmente no clube ou quando eu ia visitar Sue e ele estava em casa. Eu ficava muito desconfortável, mas eu nunca disse nada a Sue, para não causar problemas. Eu tinha a intuição que mais cedo ou mais tarde ele ia aprontar feio e se dar mal. E, finalmente, as minhas suspeitas se concretizaram, quando Sue me telefonou no meio da noite, aos prantos, contando sobre caso dele com a tal professora. A pobrezinha da Sue, que despois do divórcio nem ficou tão pobre assim, descobriu que a piranha dava mais que aulas particulares de francês para o cretino. Já o Shawn, é muito diferente. Ele nunca foi um tipo galinha, ele sempre me respeitou. Mas não custa ficar atenta!

Mesmo que eu tente me convencer de que não há nada de errado acontecendo, uma fagulha de dúvida lá no fundo dos meus ocultos e obscuros pensamentos fica me cutucando. Um lado de mim me diz que está tudo bem, que eu só estou imaginando coisas, mas outro, que tem coelho nessa toca!

Peguei o terno de Shawn na lavanderia e depois fui direto para casa. A casa estava um silêncio quando cheguei, não ouvi a TV da cozinha ligada em alguma novela mexicana enquanto Conchita passava a roupa ou preparava o jantar. Ela tinha mesmo ido embora cedo como disse que ia, para levar o marido à emergência. Aproveitei que estava sozinha em casa para tomar um longo e relaxante banho de banheira.

Subi para meu quarto levando comigo uma garrafa de chardonnay, meu favorito, e uma taça de cristal. Shawn tinha ganhado uma caixa fechada do excelente De Loach no último inverno. Mas como ele não era muito fã de vinho branco, eu é quem estava dando cabo de uma a uma das garrafas. Entrei no banheiro e abri as torneiras. Enquanto a banheira enchia, despejei na água sais de banho e óleo de rosas, e pus para tocar o último álbum de Bruno Mars. Quando a banheira finalmente ficou cheia, me despi antes de mergulhar meu corpo na água morna e perfumada com muita espuma, e tentei ocupar a minha cabeça com pensamentos agradáveis.

Naquela manhã no clube, depois do almoço, Sue me fez um convite para acompanhá-la numa viagem de um mês inteiro na Europa. Um convite tentador, ainda mais que ela se oferecia para pagar pelas passagens e todas as despesas. Na partilha do seu recente divórcio, a danada também conseguiu tomar o Lamborghini de Mark, que ele tanto amava – e que ela tanto odiava! É logico que ela não quis ficar com o carro, era só para sacanear com o Mark. Ela o vendeu imediatamente, para torrar todo o dinheiro na Europa! E para infernizar ainda mais a vida do cretino do ex-marido, ela ia deixar o pequeno e endiabrado Peter com ele e sua nova esposa, a professora de francês. Com certeza ela ia subir pelas paredes quando descobrisse que o menino era o cão chupando manga! Endiabrado o suficiente para abalar o início de qualquer casamento. A ideia de uma longa viagem com a amiga me agradava muito, eu adoro viajar. Mas talvez este não seja o melhor momento... Não, eu disse que não ia pensar mais nisso. Tudo não passa de pura imaginação minha, coisa de mulher que tem muito tempo disponível para ficar pensando em besteiras.

A água tépida da banheira estava me fazendo sentir agradavelmente sonolenta, com a ajuda do vinho. A voz sensual de Bruno Mars me fazia lembrar de Shawn quando éramos namorados. Há uma semana que não fazemos amor.

Adorável LenhadorOnde histórias criam vida. Descubra agora