Casamento

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Estela

Não estava preocupada com os preparativos do casamento, pois tudo foi feito pela família do Diogo. Zulmira estava montando meu enxoval com roupas lindas, ela tinha muito bom gosto e adorava seda. Meus pais só realizariam um jantar onde acertaria o Darô (o dote). Onde estariam nossas famílias e padrinhos. Minha avó e o cigano Yago seriam meus padrinhos. Estava muito feliz de recebê-los em casa. Minha avó Dara, era brilhante com rituais, e iria me preparar para o casamento. No clã de Yago, ela era a Phuri (quem realiza grandes rituais). Meu casamento seria realizado pela Phuri do clã de Pablo, já que entraria pra família de Diogo que fazia parte deste clã. Os dois seriam os padrinhos do Diogo. Minha sexta-feira foi alegre, pois teria minha avó ao meu lado. E o dia estava lindo, ensolarado.
— Você está feliz? - perguntou minha avó.
— Estaria mais, se não tivesse que morar com meus sogros. - sendo sincera, pois confiava na minha avó.
Eu estava preocupada de como seria a convivência com a mãe de Diogo. Imaginar-me sendo vigiada por Zulmira, o dia todo, me dava calafrios. O jantar para acerto do Darô, foi harmonioso, meus pais concordaram com o valor estipulado pela família de Diogo. A festa já estava acontecendo mesmo sem os noivos, na casa de seus familiares. E na manhã de sábado iríamos casar no civil, foi uma exigência minha, para facilitar a vida com os gadjês. O juiz de paz estranhou um casamento de ciganos no cartório. Mas éramos um casal normal, se não fosse pelos nossos trajes, que nos denunciaram. Todos ali presente olhavam com curiosidade e admiração. Diogo estava com um olhar de felicidade e não estava se importando com situação. O juiz sorria parecendo se divertir com a multidão de pessoas olhando e querendo assistir o casamento. Falou as palavras habituais e pediu aos padrinhos que assinassem como testemunhas e falou a palavra final:
— Pode beijar a noiva. - disse sorridente ao finalizar a cerimônia.
Seria meu primeiro beijo, estava constrangida com a multidão de gadjês em volta. Diogo colocou seus lábios sobre os meus em um beijo breve, logo todos aplaudiram.
— Aqui a certidão de vocês, que mais ciganos venham oficializar suas uniões também, muitas felicidades ao casal. - disse o juiz.
Partimos para a igreja, onde realizariamos o casamento, conforme a religião que adotamos. A maioria dos convidados eram gadjês, conhecidos da família.

 A maioria dos convidados eram gadjês, conhecidos da família

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Entrei de vestido branco, com um buquê de rosas vermelhas. Meu pai me levou até o altar me entregando a Diogo, que já aguardava minha entrada, junto com os padrinhos e nossos pais. Diogo me olhava com êxtase, parecia não ouvir as palavras do padre. Fazer as juras e promessas era normal a nós ciganos, já que não aceitamos infidelidade, por isso mesmo sendo casamentos arranjados, são poucos ciganos que separam. Novamente escutei aquelas palavras “pode beijar a noiva”.
Senti um arrepio percorrer meu corpo ao ter o contato de seus lábios quentes e seus braços sobre o meu corpo, eu estava deliciada, feliz. Fomos para a festa no Sítio da família de Diogo. Tinha bolo, salgados e docinhos, como as festas tradicionais. Mas as músicas eram ciganas, Diogo me tirou pra dançar, depois dançei com os ciganos Pablo e Yago que eram os padrinhos, enquanto Diogo dançava com minha avó e a esposa de Pablo que era a madrinha. Foi uma festa linda, ainda dormiria sem Diogo até o ritual cigano, que seria realizado no dia seguinte pela esposa de Pablo.

Mais um dia de festa, meu vestido era vermelho significando o amor, a paixão e nosso povo

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Mais um dia de festa, meu vestido era vermelho significando o amor, a paixão e nosso povo. Era um belo vestido, Zulmira adora vermelho e tem bom gosto, fez meu enxoval com coisas lindas. Pablo se reuniu com os ciganos enquanto sua esposa Zaira ia nos abençoar. Sentado com os homens era colocado dinheiro ou ouro num pão sem miolo, que significava riqueza e sorte.
E Zaira pegou pão misturou ao sal e deu um pedaço para nós dizendo:
— "Cana burri tica olondi, au murro cadé vurri tinrronê" - que quer dizer: " Quando o pão e o sal perderem o sabor, vocês não terão mais amor um pelo outro." Acredito que o ritual todo foi feito tudo com o mesmo pão. Ganhamos muito dinheiro, jóias e presentes.
Diogo tocou no violino, uma linda canção pra mim. Yasmim olhava com muita raiva. Ao me encontrar sozinha ela ameaçou.
— Ele vai ser meu!! Você não vai ser feliz com ele!! - falou com raiva.
Confesso que me assustei com a fisonomia alterada dela, mas suas palavras me deixaram muito irritada.
— Cale-se, Yasmim! Precisa aceitar que perdeu, já casei com ele. - falei inconformada com sua atitude.
— Veremos quem ficará com ele no final. - falou confiante.
Eu estava furiosa, mas não ia estragar a festa do meu casamento brigando com ela, chamei minha futura sogra, que incentivei a resolver isso.
— Zulmira a cigana Yasmim está precisando de você, antes que estrague a bela festa que planejou. - falei sufocando minha raiva.
Zulmira ficou pensativa alguns segundos e então foi falar com Yasmim.

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Queridos leitores

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Ellen

Marcada Pelo DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora