O preconceito

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Estela

Depois de uma noite de amor, no meu novo lar, estava com as energias renovadas para enfrentar aquele dia. Ainda estava escuro, por causa do horário de verão, era por volta das 5 da manhã. Mas já iria me levantar para ajudar a Zulmira com o café da manhã. Estava disposta a uma aproximação com minha sogra.

— Bom dia,posso ajuda-la com o café da manhã? – pergunto preocupada com sua reação.

— Bom dia, a cigana estudada saberia fazer um pão? — ela diz com desdém. Não me agradou sua forma de falar comigo, mas não iria deixar que me irritasse. Pois daria um jeito de dobra-la, nem que pra isso usasse o afeto dela pelos netos.

— Sei fazer pão de queijo e as crianças vão adorar! — vejo que a surpreendi, com minha resposta. — A senhora tem os ingredientes? Posso verificar nos armários? — perguntei tentando disfarçar um riso tímido, com sua reação. Me olhando de canto de olho, sem saber o que dizer desconfiada dos meus dons culinários. Pegou tudo que lhe pedi sem me fazer mais perguntas.

Faço os pães de queijo e acrecento um bolo de chocolate, meu marido adora doces, vou para agradar as crianças. E aos poucos vou conquistar minha sogra.

Pego uma bandeja e preparo o café da manhã do meu belo marido. Na casa dos pais dele, ele jamais se aproximara da cozinha, para pegar nem um copo de água, como fez na praia estando nos dois. É tradição a mulher servir o marido em tudo.

Entro no quarto ele estava lindo, esparramado na cama, pelado, parecia um Deus grego! Deixo a bandeja no criado mudo e acordo meu marido com beijos. Não gostava de ter que ficar servindo, mas aquele sorriso, valeu o dia. Me beijou a testa e se encaminhou, para o banheiro, voltou de banho tomado e arrumado para ir para loja. Ele realmente era um homem lindo, e eu estava a cada dia, mais apaixonada. Me abraçou forte, me beijando com seu jeito faminto. E ao olhar para a bandeia e ver bolo e pão de queijo. Soltou uma risada gostosa e perguntou:

— Minha mãe deixou você cozinhar? Vejo dedo seu nessa alimentação? — ele sabia que eu adorava pão de queijo e já tinha feito bolo de chocolate pra ele na praia.

— Sim, foi um grande progresso, tinha que ver a cara dela. — falo sorrindo. Sei que ela queria me testar e deixou para agradar os netos.

Não queria me separar dele, adorava sua companhia e confesso que mesmo com Carmem e as crianças eu parecia insegura, e não passou despercebido isso para Diogo. Ele era calado, mas me analisava, e observava, parecia saber o que eu sentia.

Me deu outro abraço forte, onde me dava força. Se eu pudesse ficaria ali naqueles braços o dia todo. Mas depois de alguns minutos volto a realidade. Com sua voz dizendo.

— Chego por volta de uma seis horas da noite, qualquer coisa me telefona, Porém a Carmem te dará apoio, enquanto eu estiver fora. — me beija e vai embora.

Arrumo nossa cama, e saio com a bandeja para cozinha. Enquanto estou lavando a louça, escuto a voz da pequena Iara gritar por mim.

— Tia Estela, chegamos! — vejo minha sobrinha de 8 anos ansiosa para estudar comigo. Seco minhas mãos no avental, e vou dar um abraço e um beijo nela. Em seguida vejo sua mãe me observando, vou ao encontro dela e a abraço.

— Bom dia, Carmem! Já tomou café? — pergunto indo com ela para sala de jantar.

— Já nos alimentamos, mas Caio não recusou aos seus quitutes. — Ela fala mostrando Caio que ao me ver se levanta, para me cumprimentar.

— Oi tia, estão deliciosos! — ele me fala já sentando novamente na mesa. Zulmira parecia estar muito feliz com a presença deles ali. Retirou a mesa e me deixou a vontade com as crianças.

— Hoje vamos nos conhecer, preciso saber em que serie estavam? — tinha que ver exatamente o que eles sabia para prepara minhas aulas.

— Eu estava no segundo ano, mas faltávamos muito, não aprendi quase nada. — Iara diz um pouco triste, por não saber muita coisa.

— Eu estava na quarta serie. Mas não gostava de ir. Porque sempre arrumava brigas, eles me chamava de traiçoeiro, por sermos ciganos. — Caio fala me contando que brigava com outras crianças, por causa da discriminação e  preconceitos com o nosso povo.

— Eu também já passei por isso, mas nunca deixei de estudar e ter vergonha do que somos. Eles que deviam ter vergonha de não respeitar nossa cultura. Se vocês pararem de estudar, poderão ser enganados por eles e até por outros ciganos no futuro. Mas isso é passado, não vai acontecer mais pois estudaram comigo e terão sabedoria para falar com eles, sem brigas. Combinados?

Eles me responderam juntos:

— Sim tia – estavam alegres, era emocionante ver o brilho de felicidade, no olhar deles

Então quero saber se já sabem ler? Se escrevem bem, gostaria que escrevesse sobre vocês o que gostam, e o que querem ser quando crescer? 

Vejo Caio pegar o lápis e o papel e Iara olhar pra mim triste.

— O que foi Iara? Você não saber escrever? — pergunto vendo sua cara triste. — Eu aprendi o alfabeto e escrevo algumas palavras, mas não saberei escrever falando de mim. — ela me responde triste

— Então escreve o que sabe e depois te ensino combinado? — ela assenti com a cabeça e começa a escrever.

Caio me entrega sua folha e dou algumas contas para ver seu conhecimento em matemática.

Vou ler sua sua redação:

Meu nome é Caio Hernandes Soares.

Sou um cigano de 10 anos, gosto de tocar violão, brincar de carrinho e soltar pipas.

Quero ser piloro de avião, mas para isto preciso estudar muito.

Sem arrumar confusão Ainda bem que ganhei uma tia, que vai me ensinar a lição.

Estava emocionada ao ler aquilo, eles ganharam meu coração. Já Iara escreveu assim:

Eu Iara oi ai boba cai bola cola gato faca dedo fogo cama

Vejo que estava aprendendo a juntar as palavras e peço pra fazer um desenho. Enquanto corrijo as contas de Caio,e estavam todas certas. Eles eram inteligentes, mas o preconceito atrapalhou o aprendizado deles. 

Olho no relógio são 1 hora da tarde, Guardo os materiais para Zulmira colocar a mesa do almoço.

Diego chega para o almoço e vejo que gostaria de curtir os netos também. 

Enquanto isso me ofereço para ajudar a limpar a cozinha do almoço, e saio para meu quarto pesquisar material de estudo na internet.

Mas Iara vem atras de mim, pois queria escrever e ler como seu irmão, então passei a tarde com ela. Deixando Caio com seu avô. Até o cigano Otávio vir buscá-los.

Diogo chega ao me encontrar no quarto.Me arrasta para tomar um bainho com ele, acho que ainda estamos de lua de mel.

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Queridos leitores

Não está revisado, mas espero que gostem. Conto com o apoio e o carinho de vocês. Por isso o voto e os comentários são importantes.

Beijo no coração e muita luz

Ellen

Marcada Pelo DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora