Capítulo Oito

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Boa leitura!

***

Enzo sabia falar meia-dúzia de palavras reconfortantes, mas ela sabia que não poderia apoiar-se inteiramente no que ele dizia. Gostaria de virar para o lado, fechar os olhos e acordar de volta em sua cama constatando ter sido apenas um pesadelo, mas as dores em suas costelas lembravam-na que não seria possível.

Sentia-se péssima tanto física quanto emocionalmente, não sabia o que a tinha mantido tão serena até aquele momento, pensou que fosse desabar em lágrimas quando acordou, mas apenas olhou para o teto branco do quarto e a vontade passou. Aparentemente, ela até que era forte.

Chorar não vai ajudar em nada, mas o que ela iria fazer? Não podia fazer como em filmes de ação, onde uma determinação desenfreada domina o corpo do herói e ele, ou ela – Júlia preferia ela –, começa a atirar em todos os vilões, usar bazucas e depois de uma tarde alucinante, para diante do pôr-do-sol, sabendo que batalhou contra o mal e venceu. Ela não podia fazer isso... Não, é? Não, Júlia! Não pode. Diferente dos filmes, ela não aprenderia a lutar e atirar da noite para o dia, então não, ela não podia.

Só restava mesmo ficar quieta escondida deixando que os outros resolvessem isso para ela, ou então chorar até se desmanchar. Júlia revirou os olhos com o pensamento de chorar até não ter mais líquido em seu corpo, ela não faria isso.

– Jules? –essa voz. A deixava furiosa, ainda mais quando ele a chamava pelo apelido "carinhoso" dela. Ele não tinha o direito de chama-la sequer pelo primeiro nome, quem dirá pelo apelido. –Você está bem?

Ela olhou para ele e viu a preocupação em seu olhar. Preocupação genuína. Perguntou-se por que estava com tanta raiva dele, sabendo que ele estava trabalhando para ajuda-la, sabia que era porque ele tinha uma noiva, mas a pergunta dúvida real era: Estava com raiva por ele ter quase beijado-a, sendo que tinha uma noiva... Ou apenas por ele ter uma noiva?

Seria ciúme? Enzo tinha se restabelecido, pelo visto, sendo muito bem sucedido em sua carreira como policial – ela nem imaginava que ele se tornaria policial – parecendo possuir autoridade, além disso, ele estava lindo e gostoso como nunca, mesmo com a barba por fazer e as olheiras, ela poderia muito bem comê-lo no café-almoço-janta por semanas sem enjoar... Deixe disso! Não vai acontecer, sabe por quê? Porque ele tinha seguido em frente emocionalmente e estava noivo.

Enquanto ela... Bom, ela tinha um emprego onde somente possuiu uma única chance de evoluir, a qual já perdeu por causa do assassinato que presenciou; estava pelo menos uns dez quilos mais gorda do que na época da faculdade – muito obrigada maratona de séries com refrigerante, vinho, pipoca, chocolate e outras besteiras incrivelmente engordativas – e estava mais sozinha do que já estivera antes. Mesmo que seu acordo com Eric fosse o "não se envolverem emocionalmente".

Ela adorava o sexo casual, com quem fosse bom em fazê-lo, mas talvez... Bem, ela nunca se preocupou com aquilo antes, mas talvez estivesse sentindo falta de um envolvimento, de um carinho mais afetuoso, de saber que a outra pessoa com quem estava realmente a amava.

Besteira!

Até aquele momento ela estava feliz com sua vida, seu peso não a atrapalhava em nada além de correr para pegar o elevador eventualmente, estava saudável, feliz e achava que preenchia as roupas do modo como elas deveriam ser preenchidas. Não tinha problemas no âmbito amoroso, uma vez que tivera mais amantes do que pensava possível à sua idade, não queria nada sério, ou teria laçado Eric quando ele sorriu para ela a chamando para beber algo. Ela gostava de seu corpo, gostava de sua liberdade e de sua independência. Estava meio longe de ser muito bem sucedida como jornalista? Sim, mas estava traçando seu caminho com trabalho duro e começando a receber reconhecimento por sua capacidade, nada poderia ser melhor do que aquilo... E ela não começaria a se questionar e depreciar por causa de um homem... Um homem compromissado, ainda mais.

De Encontro ao Perigo [LIVRO UM - COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora