Capítulo Quatorze

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Boa leitura!

***

A viagem se deu em completo silêncio todo o momento. Quando ela tentou iniciar uma conversa com o assustador policial, ele apenas resmungou ou a ignorou. Chegou a ser patética a forma como ela se tornou carente por uma conversa, mas era perfeitamente compreensível uma vez que precisou passar exatas dez horas e vinte e quatro minutos dentro de um carro com um desconhecido que estava levando-a para sua nova – e não quista – vida.

Os dois únicos momentos em que ela conseguiu ter uma interação humana válida, foram nas duas paradas que fizeram para usar o banheiro e comer. Em ambas, Júlia conversou com atendentes, garçonetes e até estranhos, necessitada de um contato caloroso e não a recepção fria do policial aborrecido.

"João dos Santos", ele disse ser o seu nome, conveniente não? Ter um dos nomes mais comuns do Brasil? Certamente não seria fácil localizá-lo só por jogar seu nome no Facebook. Júlia se preocupava se com sua nova identidade viria um nome novo também, nada contra um nome tido como mais comum, mas ela gostava de ser uma Júlia e uma Scodelario.

João, o conveniente, apressou-a nas duas paradas e logo ela estava de volta no carro em silêncio, ouvindo o som baixo do rádio, porque ela nem ao menos podia aumentar o volume sem que o policial rosnasse uma reprimenda. Se for pra viver com ele, estou preferindo aos bandidos...

Já era tarde da noite quando alcançaram o destino e o policial rabugento finalmente saiu do carro. Estavam em um hotel de procedência duvidosa em alguma cidade do interior. Júlia tomou uma nota mental de se localizar para o caso de precisar de ajuda, não gostava de estar no escuro, mas o policial João a tinha deixado em completa ignorância quanto seus passos presentes e futuros. Ela não sabia onde estava, para onde seria movida, qual seria sua nova identidade, o que tinha acontecido para tudo ter sido agilizado tão rápido... Estar sem informações quando sua vida está em jogo, é agoniante.

– Iremos ficar em quartos vizinhos. Vamos passar a noite aqui e amanhã pela manhã continuamos a viagem. –ele informou enquanto atravessavam o estacionamento do hotel.

O hotel era pequeno, com o prédio de quatro andares se assemelhando a um conjunto habitacional, pintado em cores claras e com um letreiro discreto acima do toldo com o nome "Villa del Rei". A área da recepção era simples e sem muitos móveis, com pouca decoração, tudo em tons claros e suaves. A discrição parecia ser o aspecto mais marcante do local e ela pôde entender porque João escolheu àquele hotel. Era pequeno, discreto e quase imperceptível se você passasse por ele enquanto caminhava.

– Eu posso saber para onde estamos indo?

– Não. –respondeu e foi conversar com a recepcionista.

Júlia bateu o pé no chão, aborrecida como uma criança. Estava sem celular, sem nenhum contato com o mundo fora daquele carro e hotel, não tinha notícias de Eric ou de qualquer outro colega, nem de seus pais e nem de... De Enzo.

Não pense nele! A ordem que deu a si mesma surtiu efeito, mas ao invés de pensar em Enzo, ela pensou em toda a situação na qual se encontrava. Não via uma forma de ajeitar tudo aquilo por conta própria, tudo o que podia fazer era atrapalhar o menos possível e deixar com que os policiais cuidassem das coisas; aquilo era terrível, pois Júlia sempre esteve acostumada a resolver os próprios problemas e arrumar a própria vida, ela tinha controle sobre a maioria das coisas que aconteciam com ela e ficar sem poder fazer nada a fazia sentir-se impotente.

Talvez fosse melhor ter pensamentos bobos de saudade com Enzo...

Cansada de discutir com o policial e de se preocupar com sua vida, Júlia apenas queria ir para seu quarto descansar e ter um momento de paz, livre de toda aquela bagunça. Ela esperou o policial resolver as coisas com a recepcionista e voltar até ela, pegou a chave de seu quarto e, sem dirigir uma palavra ao homem, entrou no elevador e apertou o botão do segundo andar, para ir até o quarto.

De Encontro ao Perigo [LIVRO UM - COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora