Capítulo 5

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 A avó de Augustus estava certa. Os fantasmas só poderiam ter algum controle caso as vítimas deixassem. Augustus estava decidido a não se render aos encantos de Petrus novamente. Foram anos sozinho tentando superar tudo o que tinha acontecido até finalmente se libertar. Não estava disposto a entrar naquela prisão de novo.

Cada um tem o céu e o inferno que merecem!, pensou Augustus.

***

Então, como se suas promessas não valessem nada, ele sentiu algo mudando dentro dele – ou revelando sua verdade. O inferno de Augustus também era o seu céu. Era tão difícil para ele abrir mão do sofrimento, porque ao mesmo tempo estava se privando da felicidade. Mesmo que os sentimentos fossem platônicos e poderiam nunca ser realizados, Augustus tinha vontade de realizar um desejo antigo, ficar com Petrus.

− Pelos deuses, meu coração está saindo pela boca! – Augustus praticamente gritou no telefone com sua amiga Graziela.

− O que houve? Você está bem?

− Estou ótimo. Você nunca vai adivinhar com quem eu trombei hoje nos corredores da universidade.

− Quem?

Graziela achava que Augustus poderia estar falando do seu colega Rafael, que ela decidira apresentar para o amigo. Depois de acompanhar o sofrimento e solidão de Augustus por anos, ela achava que já estava na hora dele conhecer pessoas novas. O entusiasmo do amigo deixou ela animada, achando que tivera feito a coisa certa em faltar o encontro para que eles pudessem se conhecer. Afinal, Rafael gostava de botânica tanto quanto Augustus. Para melhorar as coisas, Rafael era um pouco mais velho do que Augustus, o que significava mais maturidade e ter alguém que pudesse cuidar do amigo tão bem quanto ela.

− Petrus. – A voz de Augustus congelou os pensamentos de Graziela.

− Como assim? – perguntou Graziela, incrédula.

− Petrus. Aquele jogador de futebol. Lembra?

− Se eu lembro... Ele te deixou devastado. Mas o que ele está fazendo na universidade?

− Ele está estudando educação física. Parece outra pessoa, exceto pela aparência. Você consegue acreditar que ele está tão gostoso quanto costumava ser?

− Imagino. Se ele está tão forte quanto era, pode ser que o cérebro dele tivesse diminuído pela metade. – Graziela guardava tantas mágoas de Petrus quanto Augustus. Ela observou como aquela paixão platônica tivera tirado o melhor do seu amigo e tinha medo de que ele pudesse se machucar novamente. Pior do que a dor física, era ver a dor emocional do amigo. Os dias em que Augustus ficava chorando e se trancava no quarto. A família do rapaz ficava preocupada com ele e a única pessoa que ele deixava entrar no seu quarto naqueles dias era Graziela.

− Não sei, Grazi. Tenho a sensação de que ele mudou.

− Deve ter mudado para pior.

− Você não acredita que as pessoas podem mudar?

− Acredito, mas nós dois sabemos que ele não é uma pessoa, e sim, um ogro.

− Exagerada! E se eu te contar que derrubei o livro sem querer no chão e ele se abaixou para me ajudar?

− E daí, não quer dizer que ele não possa dar um soco em você novamente, e desta vez, quem sabe, te quebrar todo. Foi por pouco, caso você não se lembre.

− Eu me lembro sim. Agora eu preciso desligar.

Augustus queria dizer o quanto tivera sentido uma espécie de conexão com Petrus no momento em que seus olhos se encontraram. As mãos de Petrus seguraram as de Augustus por alguns segundos, o suficiente para reacender dentro de Augustus todos os desejos que estavam ocultados e congelados. As palavras duras e reais de Graziela fizeram ele se fechar novamente. Não poderia se apaixonar novamente por Petrus, se é que algum dia o tivera esquecido. Foi como se Augustus tivera colocado tantas lembranças do rapaz dentro de um guarda-roupa lotado, que no momento em que ele viu Petrus, a porta tivera se abrido e tudo tivesse desmoronado.

O medo de se machucar faz as pessoas fazerem coisas estúpidas. Augustus estava com tanto medo, que algumas ideias idiotas passavam em sua cabeça. Talvez ele pudesse finalmente ter quem queria. Talvez um pouco de magia pudesse ajudar.

Augustus devolveu o livro de botânica e saiu da biblioteca. Não estava conseguindo se concentrar nos estudos. Era incrível como ver uma pessoa pudesse mudar o seu dia todo. Foi embora mais cedo da universidade naquele dia e tirou o resto da tarde para pensar na vida, ou melhor, em Petrus.

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