Capítulo 6

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Quando chegou em casa, os pais de Augustus ficaram preocupados com a sua saúde. Fazia muito tempo que eles não viam o garoto chegando nesse horário. Augustus costumava ficar na universidade o dia inteiro e voltar para casa somente na hora de dormir, praticamente. Os estudos e pesquisas da universidade tornaram prioridade na vida do rapaz. Trombar com uma ex-paixão podia tirar sua vida do eixo.

De olhos fechados, Augustus se esforçou para se lembrar de cada segundo em que viu Petrus naquela tarde. Sua memória era ótima e ajudava a reviver bons momentos, mas também poderia ser uma ferramenta de tortura quando coisas ruins aconteciam. Congelou a imagem na sua cabeça e reviveu centenas de vezes aquela cena. As borboletas apareceram no seu estômago novamente. Há anos Augustus não tivera essa sensação e imaginara que nunca mais sentiria, mas as borboletas estavam vivas ainda e se debatiam com força dentro do seu estômago. Ao rememorar os momentos daquela tarde, Augustus não sabia se estava imaginando as coisas, mas lembrava de ter visto um brilho nos olhos de Petrus enquanto os dois se observavam.

Tentou voltar à realidade, mas viver na ficção estava tão gostoso. Foi acordado do transe por uma ligação de Graziela. A amiga ligou para saber como Augustus estava.

− Deixa eu adivinhar. Você está pensando nele?

− Claro que não...

− Augustus, eu te conheço. Sou sua melhor amiga por anos. Está na cara de que você está deitado no seu quarto e pensando na tarde de hoje com Petrus. – Augustus ficou assustado com Grazi, era como se ela estivesse lendo sua mente. "Graziela era sensitiva, até demais", pensou Augustus.

− Tudo bem. Você acertou. Não consigo esconder nada de você, consigo?

− Não e não deve. Somos melhores amigos! Você conheceu mais alguém hoje? – Graziela quase deu uma bola fora, mas por sorte Augustus estava tão distraído pensando em Petrus que não percebeu.

− Como assim?

− Sei lá. Como foi seu intervalo?

− Ah, eu fui naquela cafeteria que sempre fomos e conheci um estudante do mestrado lá. Não lembro o nome dele, mas ele parecia ser legal.

− Hum. E o que você achou dele?

− Sei lá. Não achei nada.

− Nada?

− Ele parecia interessante e também gostava de botânica, mas nada demais.

− Tudo bem. Bom, preciso ir para casa agora. Depois conversamos.

− Até mais.

Augustus entrou no escritório do pai sem que ninguém percesse. Lá ficava o grimório da família. Ele folheou o livro até encontrar umas páginas com feitiços de amor. Cada um deles traziam advertências diferentes, como: "A pessoa poderá se apaixonar por você, mas para você será suficiente saber que os sentimentos não são reais?", "É preciso usar esse feitiço com bastante sabedoria. A paixão, às vezes, se transforma em ódio.", "Não confunda amor com obsessão. Algumas coisas nem a magia pode criar ou mudar", entre outras. Augustus estava cego pelo seu desejo e não deu muita atenção. Procurou algum feitiço que fosse básico e pudesse fazer sem que ninguém da sua casa percebesse. Caso não desse resultado, Augustus tentaria outros ou, pior ainda, desistiria. Já dizia Freud que a paixão estava relacionada à loucura. O garoto que achava que estava livre dos seus fantasmas havia aberto sua Caixa de Pandora ao observar Petrus nos corredores da universidade e liberado diferentes sensações que estavam presas dentro de si.

Olhou para o feitiço e achou simples demais. Era exatamente o que estava procurando. O feitiço não exigia nada que fosse do objeto de admiração e se necessitasse Augustus nunca conseguiria realizar ou precisaria procurar Petrus novamente. Pegou uma folha de papel branca e escreveu o nome de Petrus na vertical. Escreveu o seu nome ao contrário, de forma que o S de Augustus estivesse encaixado no S de Petrus. Em seguida, Augustus cruzou uma linha ligando o A de Augustus até o P de Petrus e em cima escreveu "AMOR". Augustus deveria repetir aquele símbolo na folha inteira e pensar nos dois ficando juntos do começo ao final do feitiço. "Fácil demais para dar certo", pensou Augustus. O garoto se olhou no espelho e começou a rir de si mesmo. "Isto é patético. Vou procurar algum feitiço que dê algum resultado", disse em voz alta.

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