Capítulo 9

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Petrus não aguentou e na mesma noite ligou para Augustus convidando-o para dar uma volta. Havia tanto que os dois precisavam conversar. O rapaz não queria admitir, mas depois daquela tarde ficou pensando sem parar em Augustus. Augustus sentia o mesmo em relação a Petrus. Era como se os dois estivessem em sincronia. Pela primeira vez na vida, Augustus estava realmente animado com algo.

− Te busco às oito horas da noite. Pode ser? – Petrus tentou esconder a ansiedade, mas a voz um pouco falha entregava o quanto ele esperava pelo sim.

− Estarei esperando por você! – disse Augustus, apaixonadamente. Não era nenhum segredo que ele gostava de Petrus desde o ensino médio. Ele provavelmente deveria segurar um pouco do que estava sentindo para não assustar o rapaz, mas não conseguia. Era mais forte do que ele.

Augustus chegou todo animado aquele dia em casa. Seus pais perguntaram se ele tinha tirado alguma nota boa ou entrado em algum novo grupo de pesquisa, motivos que alegraram o rapaz durante aqueles meses cinzentos. Augustus estava deixando sua vida passar – somente agora ele percebeu o quanto seus dias estavam patéticos.

− Ainda não entrei em um grupo novo de pesquisa, mas há uma chance que eu consiga. Conheci um pesquisador do mestrado. Mesmo assim, essa não é a razão da minha alegria hoje...

− Conheceu alguma garota nova? – Parecia que os pais de Augustus viviam em negação. Ele nunca trouxera nenhuma namorada em casa durante todos aqueles anos e a única menina que o visitara era Graziela, sua melhor amiga desde sua infância.

− Mãe, você sabe muito bem sobre mim. Já conversamos sobre isso...

− Às vezes, era só uma fase. Não custa nada acreditar.

− Eu reencontrei com Petrus. Lembra-se dele?

− Aquele garoto que te agrediu? O que ele quer com você?

− Longa história. Ele me pediu desculpa e estamos conversando... – A mãe ainda não aceitara totalmente que o filho fosse gay e se distanciou quando ele tentou continuar a contar a história. Augustus estava tão feliz que não deixou aquilo o afetar.

Naquele dia, Augustus tentou não se preocupar com os assuntos relacionados à universidade e se focou na vida pessoal. Tentou ser cauteloso. Ele não queria esconder nada de sua melhor amiga, mas parecia que quanto mais ele se abria com ela sobre o seu novo relacionamento com Petrus, mais os dois se distanciavam. Ele não sabia definir se era ciúmes ou apenas preocupação. Augustus queria que Graziela o apoiasse, mas ela estava se comportando como uma bitch.

O menino abriu o guarda-roupa e não conseguia encontrar nenhuma roupa que fosse boa o suficiente para aquela ocasião. Para Augustus, aquela noite ele teria mais do que um simples encontro, seria um encontro com Petrus, o rapaz cujo seu coração pertenceu a vida toda. Revirou as roupas e por um minuto sentiu raiva de si mesmo. Como é que ele tinha chegado a esse ponto? Todas suas roupas eram sem graça e parecidas. Apesar de ter abandonado o antigo colégio em que precisava usar uniformes, Augustus parecia ter criado uma espécie de uniforme para a universidade. Depois de tirar tudo do armário e espalhado todas suas roupas pelo chão, Augustus conseguiu encontrar uma camisa rosa, que ele usara somente uma vez na sua vida. A camisa fora comprada há dois anos, mas ainda servia nele. Ela fora comprada pela sua mãe, para que Augustus usasse no casamento de uma de suas tias. A peça de roupa durou mais do que aquele matrimônio, desmanchado em apenas um ano. Para combinar com a camisa, o rapaz pegou uma calça jeans preta e um par de sapatos pretos.

Aquele fora o banho mais demorado da vida de Augustus. Uma das cenas daquela tarde não saia da cabeça dele, quando ele levantou a camiseta de Petrus, o corpo dele além de ser todo definido, também era todo liso. Em algumas horas seria impossível para Augustus conseguir ficar com um corpo daquele, mas aos poucos ele começou a elaborar metas novas para sua vida. O rapaz levou uma gilete para o banheiro e após praticamente uma hora, ele havia se livrado de todos os seus pelos. Após o banho, parecia que um minúsculo mamífero estava preso no ralo do seu banheiro. Augustus passou a mão pelo corpo e estava contente com o resultado. A todo o momento o garoto viajava pelo tempo nos seus pensamentos e era como se ele estivesse no colégio novamente, um adolescente. A vantagem é que agora ele estava bem mais charmoso do que costumava ser, pelo menos era o que sua melhor amiga dizia para ele. Augustus e Graziela não mudaram muito desde aquela época, continuavam com a mesma cara, mas estavam mais maduros.

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